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De caderia de rodas ao longo do Mekong

Alexandre Schossler10 de fevereiro de 2013

O fotojornalista paraplégico Andreas Pröve viajou durante dias ao longo do Rio Mekong. De cadeira de rodas e, durante grande parte do caminho, sozinho. Ele narra suas aventuras na China em livros e fotorreportagens.

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Foto: Nagender Chhikara

Andreas Pröve espera à beira de uma estrada de terra, no meio do planalto tibetano, uma terra de ninguém. A temperatura é de 0ºC. Dentro de meia hora a noite cairá. Se um carro não passar em breve para pegá-lo, Pröve será obrigado a dormir ao ar livre.

E assim acontece: ele constrói um abrigo de emergência com uma lona de plástico, desenrola no chão seu saco de dormir, sobre um piso de neve úmida e fria. Esse é um dia na viagem do fotojornalista alemão e autor, seguindo o Rio Mekong.

"Não importa quão complicada seja a situação", escreve em seu livro Abenteuer Mekong (Aventura Mekong) que também acabou de ser lançado como e-book. "Há sempre como se ficar feliz, pelo fato de que não tenha sido pior."

Em dezembro de 2010, Pröve começou a jornada na cidade de Hoh Chi Minh, antiga Saigon, onde o Mekong deságua no Mar da China Meridional, através de oito caudalosos braços. Seis meses depois, ele quer alcançar a nascente do rio, no planalto tibetano, depois de percorrer, por terra, 5.700 quilômetros, sentado em uma cadeira de rodas.

Bild zum Buch Abenteuer Mekong von Andreas Pröve
Obstáculo adicional: neve recenteFoto: Andreas Pröve

Acidente na juventude

Andreas Pröve tinha 23 anos quando sofreu um acidente com sua motocicleta, em 1981, ficando paraplégico. Em vez de se desesperar, o ex-carpinteiro decidiu se dedicar ao turismo de aventura, motivado, como diz, "por um desejo de sempre descobrir algo novo".

Ele conta sobre suas viagens, em palestras e apresentações de slides, na Alemanha, Áustria e Suíça. Ele foi agraciado em 1995 com o prêmio Globetrotter do Ano, e em 2008 recebeu o prêmio Frankfurter Weitsichtpreis, que homenageia pessoas engajadas em atividades sociais ou culturais. Seus três livros de viagem chegaram à lista dos mais vendidos da revista alemã Der Spiegel.

Ele conta que muitas vezes outros cadeirantes assistem a suas palestras para tomar coragem em seus próprios planos de viagem. "A partir dos e-mails deles, fico sabendo que a maioria acaba reservando mesmo um pacote turístico organizado".

Pröve tem feito diferente desde o começo. Três anos depois do acidente de moto, então com 26 anos, ele fez sua primeira grande viagem pela Índia. Quando não encontrava outra opção, dormia mesmo em bancos de estação de trem. Depois, viajou por meses atravessando a Ásia e o Oriente Médio. Para financiar suas viagens, começou a dar palestras e apresentações de slides.

Numa viagem à Índia em 1998, conheceu o fotógrafo Nagender Chhikara, que desde então o acompanha regularmente. Mas por gostar de desafios, Andreas Pröve sempre percorre sozinho alguns trechos. Em sua cadeira de rodas, ele montou uma bicicleta de mão, que movimenta através de manivelas. Sé em situações de em emergência ele viaja de ônibus ou de carona. Nessas horas, depende de estranhos para guardar sua cadeira de rodas ou para subir escadas. "Em lugares como o Vietnã e o Camboja, onde há muitos veteranos de guerra, as pessoas estão acostumadas com deficientes e são muito prestativas."

Bild zum Buch Abenteuer Mekong von Andreas Pröve
Pröve entre duas feirantes em Yuenyang, YunnanFoto: Nagender Chhikara

Trajeto aventuroso

O Rio Mekong é um destino almejado há muito por Andreas Pröve, porém até recentemente inacessível, devido à situação política nos países vizinhos. Neste meio tempo, o Vietnã, Camboja e Tibete se abriram ao turismo. Além disso, só há pouco mais de uma década geógrafos determinaram oficialmente um de vários rios do planalto tibetano como nascente do Mekong, até então desconhecida. Hora de Andreas Pröve embarcar nessa viagem tão sonhada.

As autoridades chinesas em Kunming lhe dão a permissão necessária, sob a condição de que contrate uma operadora local para a expedição. "Mas ninguém da empresa apareceu no ponto de encontro, nas montanhas." A Pröve, só resta organizar ele mesmo a viagem.

Em Kunming, providencia garrafas de oxigênio, pois o ar nas montanhas é muito rarefeito. Chegando ao planalto, ele contrata alguns operários de rua como carregadores, compra cavalos nas fazendas locais, para usar como animais de carga, e carneiros como provisão de viagem. E contrata o único guia familiarizado com o caminho até a nascente do rio.

Exaustão e felicidade interior

A última etapa, com nove cavalos, sete carregadores e mais o amigo Nagender, dura quatro dias. Quando as montanhas se tornam íngremes demais, os ajudantes têm que carregar Pröve na cadeira de rodas, como em uma liteira. No final, ele está esgotado, mas atingira a meta: chegar à fonte da "Mãe de Todas as Águas", a cerca de 4.900 metros de altitude.

Em seu livro, ele descreve que experimentou uma grande satisfação, "um sentimento de felicidade interior difícil de descrever". "Era exatamente aquilo que procurara nos últimos 5.700 quilômetros", revela.

Andreas Pröve ainda não sabe onde será sua próxima aventura. Desde outubro, encontra-se em turnê, contando em palestras sua "aventura Mekong". A partir de abril, estará, então, com a família. Por vezes sua esposa tem que se ocupar, sozinha, do filho e da filha. "Outros pais só estão com seus filhos no fim de semana. Eu estou com os meus durante todo o verão", justifica o jornalista. Isso, até outubro, quando começa a próxima temporada de palestras, e quando Pröve traça planos para uma nova viagem.

Autora: Rebecca Hillauer (md)
Revisão: Augusto Valente