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Alemães e brasileiros discutem mundo pós-terrorismo

Marion Andrea Strüssmann5 de fevereiro de 2002

Especialistas dos dois países discutiram as conseqüências sociais dos atentados ocorridos nos Estados Unidos, durante o Fórum Social Mundial, encerrado nesta terça-feira (05), em Porto Alegre.

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O debate reuniu cientistas sociais da Alemanha e do BrasilFoto: Marion Strüssmann

O que é terrorismo? Como a civilização se protege desse mal? Estas questões foram analisadas pelo alemão Matthias Greffrath, membro da Comissão de Valores Fundamentais do Partido Social Democrático (SPD) e autor de diversos ensaios críticos sobre o processo de globalização. Greffrath foi o moderador de um debate sobre o assunto, do qual participaram cientistas sociais brasileiros e alemães, durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre.

O mundo sofreu uma mudança radical após os atentados do dia 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, afirmou Greffrath. Para ele, houve uma retomada do mito dualista que divide o mundo entre o bem e o mal. Esse tipo de pensamento era latente durante a Guerra Fria, quando os inimigos eram os países contrários à democracia praticada no Ocidente.

Este processo estaria ressurgindo, mas com a diferença de que agora o inimigo (ou seja, o mal) é o terrorismo. Greffrath apontou uma tendência preocupante: a renúncia da política global. Os Estados Unidos anunciaram que irão combater o mal com todas as armas, sobrepujando sua soberania nacional.

O governo americano, de acordo com o ensaísta, está convencido de que é a personificação do bem e acredita que a sua postura é incontestável. Quando algum governo é contrário ou tece críticas, corre o risco de ser considerado aliado do inimigo.

Patriotismo exagerado

"Este é um tipo de patriotismo exagerado", frisou Greffrath, lembrando que tal atitude seria inviável na Alemanha. "O europeu não tem o mesmo patriotismo que o americano", completou outro alemão participante do debate, o sociólogo Claus Leggewie, professor de Ciências Políticas da Universidade de Frankfurt. Ele esclareceu que o discurso imperialista dos EUA é bem aceito em razão do forte sentimento patriótico do povo americano, o que já não se constata na Europa do pós-guerra.

Leggewie também acredita que está ocorrendo um fortalecimento da premissa de que existe uma luta entre o bem e o mal, raciocínio capaz de gerar injustiças sociais. O islamismo deveria ser analisado em suas raízes e não visto apenas como um mecanismo para combater o Ocidente. O sociólogo concluiu que a sociedade americana está insegura e se esconde atrás de um suposto poder. Este processo gera uma situação perigosa para o mundo.

Acúmulo de tensões

O brasileiro Paulo Vizentini, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, disse que a Nova Ordem Social, que surgiu com o fim da Guerra Fria e se baseia na paz, democracia e fraternidade, começou a dar sinais de desgaste bem antes dos atentados. A partir de 1997, com o esfriamento da economia mundial, todas as camadas da sociedade passaram a registrar mais perdedores do que ganhadores. "Os atentados foram um reflexo do acúmulo de tensões existentes", analisou Vizentini.

A socióloga Celi Regina Pinto, catedrática da UFRGS, teme que as conquistas sociais das últimas três décadas sofram um retrocesso devido à crescente consolidação de um discurso intolerante, que proclama a luta do bem contra o mal e tem conquistado cada vez mais aliados.