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Ajuda ou paternalismo?

rw24 de novembro de 2003

Ao completar 25 anos de atividades na Alemanha, a CFF, entidade que organiza apadrinhamento de crianças em países em desenvolvimento, vê-se confrontada com acusações de paternalismo.

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Sobrevivência garantida por padrinhos distantesFoto: AP

"De forma alguma acho que esse tipo de ajuda a crianças pobres seja paternalismo", defende-se Ilona Daun. A tradutora de espanhol e inglês sempre gostou de viajar e graças à intermediação da CFF (Christian Children’s Fund) possui laços bem estreitos com a Bolívia, onde não só ajuda crianças carentes. De lá vem também seu filho, Francesco, adotado há três anos.

Desde 1998 a alemã de 30 anos e seu marido prestam auxílio ─ não só financeiro ─ a Iliria e Rosmerie, duas meninas do Centro Católico de Órfãos de Ururo, a cerca de 500 quilômetros de La Paz. "Eu sempre quis ajudar alguém e depois de terminar a faculdade optei pela América do Sul por causa do idioma", explica Daun.

Experiência inesquecível

O contato com as meninas não ficou só no intercâmbio de correspondências. Ela jamais esquecerá um episódio ocorrido durante uma de suas visitas a Ururo. Como o sonho das crianças era ver um lago, Daun e seu marido pensaram em levá-las a um parque com água, restaurante, pedalinhos, "da forma como estamos acostumados em países ricos", fala.

Qual não foi a surpresa do casal ao se dar conta de que o "lago" mais próximo parecia uma "cloaca" aos olhos dos europeus. Isso não incomodou as crianças, que também adoraram remar na sucata de barco. "Tivemos sorte de não afundar", revela.

Para as crianças foi uma experiência inesquecível, pois elas não conheciam outra coisa, conclui Daun, revelando-se envergonhada ao se dar conta dos preconceitos de uma sociedade que tem tudo.

Privilégios x paternalismo

O porta-voz da CFF, Jörg Wild, rebate as críticas de que a assistência prestada às crianças carentes seja paternalismo. "A forma como a CCF organiza o apadrinhamento não beneficia apenas uma criança. Ela só serve de símbolo para a ajuda a uma comunidade, que vive de doações. A criança não recebe apoio direto, sendo que o dinheiro reverte para o bem coletivo", argumenta.

"Pode ser que uma desvantagem seja o fato de uma criança receber cartas e as outras não", comenta Daun, "mas devemos lembrar que todas recebem o que comer, vão à escola e têm o que vestir".

A educação é a prioridade dos trabalhos apoiados pela CFF, presente no Brasil desde 1952. Através dos escritórios em Fortaleza e em Belo Horizonte, a entidade coordena 101 projetos, atingindo 70 mil crianças carentes. Programas de assistência à saúde, alimentação e educação são oferecidos também aos adultos das regiões pobres.

Em Fortaleza, por exemplo, foi aberto um centro de atendimento a crianças de famílias que vivem da coleta de lixo. Outros projetos, nas zonas rurais, prestam ajuda financeira a famílias para evitar que elas emigrem para os centros urbanos.