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Agricultura alemã entre ecologia e realidade

Paulo Chagas10 de janeiro de 2002

Há um ano, o governo alemão criou o Ministério de Defesa do Consumidor, responsável pela agricultura, que passou a ser chefiado por Renate Künast, deputada do Partido Verde. Os prós e contras de sua política.

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Renate Künast, ministra de Defesa do Consumidor, durante uma campanha em prol da proteção aos animaisFoto: AP

No balanço do seu primeiro ano à frente do Ministério de Defesa do Consumidor, Renate Künast ressaltou a necessidade de tornar a agricultura alemã competitiva na Europa e no mercado mundial. Para isto, a ministra do Partido Verde aposta sobretudo na qualidade dos produtos alemães.

Quando assumiu o poder, a Alemanha vivia o auge da crise da BSE (mal da vaca louca), que provocou uma drástica redução do consumo de carne bovina, e, logo depois, o perigo de contaminação da febre aftosa para os ovinos. A ministra verde tratou de implantar a perspectiva ecológica na agricultura alemã, dominada pelo lobby da agroindústria, e de valorizar o papel do consumidor.

Daí se explica, também, a mudança de nome de sua pasta que se chama oficialmente Ministério de Defesa do Consumidor, Nutrição e Agricultura. A confiança do consumidor foi restituída, os alemães voltaram a comer carne de boi e os pecuaristas conseguiram sair da crise.

Projeto de agricultura ecológica

Mas o projeto de conversão ecológica da atividade agrícola não parou por aí. Uma nova lei de consumo e informação deverá entrar em vigor ainda este ano. Seu objetivo é proteger o consumidor, que terá o direito de reclamar junto aos produtores e autoridades e poderá exigir amplas informações sobre os produtos agrícolas.

O Ministério de Defesa do Consumidor está preparando um novo plano de subvenções, conforme as normas ecológicas de proteção ao meio ambiente e aos animais, a fim de substituir a política de subsídios e pagamentos diretos da União Européia.

Ainda este ano, a ministra Künast pretende implantar novas e severas diretrizes para regulamentar a utilização de adubos. A qualidade dos gêneros alimentícios está sendo controlada por um selo de agricultura orgânica e há também um outro selo para controlar as carnes e derivados de pecuária tradicional.

Críticas dos agricultores

A poderosa Federação dos Agricultores alemã, que representa o lobby da agroindústria, teve reestruturar sua política em função das novas diretrizes ecológicas. A colaboração da entidade com o governo foi eficaz no início, quando se tratou de superar a crise da BSE, mas as divergências começaram a surgir logo depois.

Gerd Sonnleitner, presidente da Federação, acusa a ministra verde de promover política agrícola ideológica, ao invés de ajudar os pecuaristas ameaçados pela quebra de preços dos bovinos, como fez por exemplo a França e a Irlanda. Agricultura ecológica e convencional podem existir paralelamente, diz ele, pois não representam uma contradição.

Não adianta penalizar os agricultores alemães com normas rígidas de meio ambiente e proteção aos animais, como por exemplo proibir a criação de aves confinadas em larga escala e, ao mesmo tempo, deixar que os produtos avícolas de outros países, de criação confinada, invadam as prateleiras dos supermercados alemães.

Na opinião de Sonnleitner, a ministra da Defesa do Consumidor pressionou os agricultores impondo altos padrões, com a argumento de que o consumidor estaria disposto a pagar mais caro pela qualidade. Mas isto não é verdade, como prova a recente guerra de preços promovida pelos supermercados alemães com a introdução do euro: 75% dos produtos remarcados eram gêneros alimentícios.

E assim, a política da ministra Renate Künast, de que a qualidade tem de custar mais e ser mais valorizada, foi contestada pela realidade do cotidiano, concluiu o presidente da Federação dos Agricultores.