1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Afastada da epidemia, RDC enfrenta outro tipo de ebola

Peter Hille (pv)26 de agosto de 2014

Província na República Democrática do Congo onde a doença foi descoberta volta a lidar com casos. Porém, há mais de uma variação do vírus, e a que atinge o país é menos letal do que a do oeste africano.

https://p.dw.com/p/1D1Ie
Ebola Virus
Foto: AP

Através da densa floresta da província de Équateur, no noroeste da República Democrática do Congo, corre o rio Ebola. Foi nessa região que, em 1976, cientistas belgas descobriram a doença letal. O vírus, que na maioria dos casos leva à morte, recebeu o nome do rio e, agora, reapareceu na província. De acordo com dados divulgados pelo governo congolês, pelo menos duas pessoas morreram.

"Nesta região, o vírus sempre volta à tona. Nos últimos tempos já tivemos surtos menores e maiores", diz o virologista Jonas Schmidt-Chanasit, coordenador de diagnósticos virais no Instituto Bernhard-Nocht para Doenças Tropicais, de Hamburgo. "Por isso, o surto em Équatuer provavelmente não está relacionado com a epidemia na África Ocidental."

Menos letal

Desde março de 2014, cerca de 1.500 pessoas morreram de ebola em Libéria, Serra Leoa, Guiné e Nigéria. É o maior surto da doença já registrado. Mas o vírus que é responsável pelas mortes na República Democrática do Congo pode ser distinto daquele que está se espalhando pela África Ocidental.

"A taxa de mortalidade, ou seja, a relação entre número de mortes e infectados, é de apenas 20%, muito inferior à taxa apresentada na África Ocidental", explica Schmidt-Chanasit. "Portanto, é bem provável, que se trata de um vírus de uma estirpe diferente."

Algumas estirpes do vírus do ebola são inofensivas para seres humanos e provocam a doença apenas em macacos. Uma destas mutações do ebola é o chamado vírus reston – descoberto na cidade homônima, nos Estados Unidos, na década de 90 – que ocorre na China e nas Filipinas. Já por ouro lado, o vírus que atualmente está se espalhando pela África Ocidental mata até 90% dos infectados.

Segundo Schmidt-Chanasit, ainda pode levar um ou dois dias até que a análise de laboratório determine qual estirpe do vírus do ebola está eclodindo na província de Équateur. É a sétima vez que a doença surge na República Democrática do Congo.

Infografik Ebola-Fälle in West- und Zentralafrika brasilianisch

"A experiência adquirida nas seis epidemias anteriores vai nos ajudar a combater o surto também desta vez", declarou o ministro da Saúde congolês, Felix Kabange Numbi, em discurso televisionado no último domingo.

Numbi anunciou uma série de medidas para combater o vírus: "Vestimentas de proteção para médicos e assistentes estão no topo da lista de prioridades. O governo vai garantir que todas as vítimas do ebola sejam enterradas com as devidas precauções de segurança."

Dificuldades no combate

Na África Ocidental, principalmente no início da epidemia, muitas pessoas foram infectadas na lavagem dos mortos – parte do ritual tradicional dos enterros locais.

Há décadas a República Democrática do Congo é assolada por guerras civis. Os conflitos armados, principalmente por matérias-primas, parecem não ter fim. Além disso, o país, quase tão grande quanto a Europa Ocidental, possui graves problemas de infraestrutura: praticamente não há estradas pavimentadas e são poucos os hospitais.

Symbolbild Ebola Labor
Apenas após análises em laboratório é possível determinar a estirpe do vírus que surgiu na RDCFoto: picture-alliance/dpa

Porém, Schmidt-Chanasit acredita que essas questões não facilitam necessariamente a sobrevivência do vírus do ebola: "As repartições públicas estão bem preparadas. As autoridades sabem como isolar os pacientes."

A área afetada perto de Jera, na província Équateur, foi colocada sob quarentena. Além disso, o afastamento da região pode retardar o surto. "Praticamente não há chances de que o vírus chegue à capital Kinshasa. Centenas de quilômetros separam as duas localidades", afirma Schmidt-Chanasit.

Na semana passada, o ministro da Saúde anunciou que enviaria especialistas de Kinshasa a outros países da África, para ajudar a combater a epidemia. Mas agora aparenta que a República Democrática do Congo precisa, primeiramente, lidar com o surto em seu próprio território.