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Acidente zero

Marcio Weichert8 de abril de 2003

Das 14 companhias aéreas que voam pelos céus europeus sem ter perdido qualquer avião em acidente desde 1973, seis são alemãs, segundo a revista Aero International. Seriam estas empresas mais seguras que as outras?

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Aviões da LTU em DüsseldorfFoto: AP

Nos últimos 30 anos, no caso da LTU, ou desde suas fundações, as companhias alemãs Germania, Air Berlin, Aero Lloyd, Deutsche BA e Hamburg International não registraram qualquer acidente com seus aviões, informa a Aero International.

Na elaboração de seu ranking, a publicação mensal analisou dados das principais empresas aéreas que voam na Europa e comparou o número de passageiros mortos em acidentes com o total de quilômetros voados pela respectiva companhia. Foram descartados vôos cargueiros, entre outros critérios.

No safety ranking da revista, a Lufthansa aparece apenas em 25º lugar, com três acidentes (o mais grave em 1974 e o mais recente em 1993) e 61 mortos. Única brasileira avaliada no estudo, a Varig surge em 44º, com 12 sinistros (o mais grave em 1973 e o mais recente em 2002) e 194 vítimas fatais.

A recém-falida Avianca, da Colômbia, fecha a lista, com 545 passageiros mortos em 11 acidentes. Segundo a relação, a russa Aeroflot sofreu o maior número de acidentes, 17, seguida da Korean Air, 15.

Seriedade questionada

Números são números, mas a partir dos usados pela Aero International pode-se apurar o nível de segurança de uma companhia? "Este ranking não tem o menor valor. Nenhum perito levaria a sério esta estatística", reagiu Georg Fongern, do sindicato alemão de pilotos Cockpit, em conversa com a DW-WORLD. Para ele, a relação não obedeceu os critérios científicos necessários. "Qualquer estudante que saiba somar e dividir faria este ranking", critica Fongern.

O representante dos pilotos diz que, para se apurar o nível de segurança de uma companhia aérea, é preciso considerar também o número de pousos e decolagens, as horas de vôo, a quantidade de passageiros transportados, o tamanho da frota e a área geográfica em que a empresa atua. "Estes são critérios adotados pelas entidades internacionais ICAO e IATA para analisar a segurança na aviação civil", afirma Fongern.

Em sua contestação, ele dá dois exemplos. "Os aviões da Lufthansa voam de 150 a 180 horas por dia, enquanto outras companhias não voam isto sequer em um ano. Da mesma forma, numa estatística como essa a antiga Swissair não ficaria entre as primeiras, pois infelizmente teve um acidente. No entanto, ela era com certeza uma das mais seguras do mundo."

Concordância nas críticas

O Departamento Federal de Aviação (LBA) vai na mesma linha. "Qualquer análise sobre segurança que se baseie simplesmente em números estatísticos é mera especulação e, portanto, sem seriedade", responde Horst Kaiser. Apesar de desconsiderar o resultado do ranking da Aero International, ele concorda que as companhias aéreas alemãs possuem "alto padrão de segurança sob os pontos de vista de pessoal, operacional e técnico".

A revista tem consciência de que números não passam de números e faz um alerta sobre seu ranking. "A tabela deve ser vista apenas como retrato de um determinado momento, a partir de dados do passado, e não pode ser tomada como referência para decidir a próxima viagem. Até mesmo à mais segura companhia aérea pode ocorrer amanhã um acidente", ressalta.

Satisfação com os números

Séria ou não, a estatística massageou o ego das empresas que nela brilharam. "A priori, não haveria motivo para as companhias alemãs terem menos acidentes que as demais européias, pois as regras de aviação civil da União Européia valem para todas e todas as seguem", comenta Detlev Winter, secretário-geral da Associação das Companhias Aéreas Alemãs (ADL), que entretanto não representa a Lufthansa, nem a Deutsche BA.

"Talvez as empresas alemãs trabalhem ainda além das prescrições. Outra possível explicação seria que as seis companhias alemãs sem acidentes são genuinamente privadas e não estatais ou privatizadas. Evitar acidentes é para elas questão de sobrevivência", sugere Winter. Ele rejeita o argumento de que os números das empresas representadas pela ADL não possam ser comparados, por exemplo, com os da Lufthansa, embora suas frotas sejam bem menores e grande parte de seus vôos sejam charters.

"Nossos equipamentos voam tanto quanto os das grandes companhias, chegando a 18 horas diárias na alta temporada", afirma. No entanto, em contraste com a maior empresa do setor na Alemanha, que tem mais de 280 aeronaves, a Air Berlin, por exemplo, tem 41 e a Hamburg International, fundada apenas em 1998, possui somente quatro.