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A situação da social-democracia na Europa

4 de março de 2018

Os partidos social-democratas perdem eleitores em quase todos os países europeus, em alguns casos de forma drástica. Mas há também sinais de recuperação. Confira alguns casos.

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Benoît Hamon
Benoît Hamon ficou em sexto lugar na última eleição presidencial francesaFoto: picture alliance/dpa/MAXPPP/P. James

O crescimento do populismo, de tendências antiglobalização e o surgimento de partidos mais à esquerda explicam a perda de popularidade dos social-democratas em vários países da Europa. Mas não há apenas miséria na social-democracia europeia. Confira a situação em alguns Estados do continente.

França

Em nenhum outro país europeu o declínio dos social-democratas é tão visível quanto na França, onde eles se apresentam, com orgulho, como socialistas e não como social-democratas, o que soaria mais moderado. Em 2012, o Partido Socialista (PS) ainda tinha a maioria absoluta na Assembleia Nacional e ocupava a presidência da república, com François Hollande. Em 2017, o candidato presidencial, Benoît Hamon, conseguiu cerca de 6% dos votos e ficou em quinto lugar. Nas eleições parlamentares, o resultado não foi muito melhor.

Leia mais: A crise da social-democracia europeia

O PS é um partido de esquerda, bem mais do que o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), por exemplo. Seu apogeu foi nos anos 1980, na presidência de François Mitterand. Hoje ele é enfraquecido por forças ainda mais à esquerda e pela Frente Nacional, que, com sua política antimigratória e antiglobalização e a favor do isolamento econômico, atinge muitos franceses inseguros e que temem o descenso social. Depois do desastre nas urnas, o PS caiu na irrelevância política, ao menos por enquanto.

Holanda

Situação semelhante vive o Partido do Trabalho (PvdA) da Holanda depois da eleição parlamentar de 2017. O tradicional partido, que ocupou o cargo de primeiro-ministro por três vezes no pós-Guerra, obteve o pior resultado nas urnas de seus 70 anos de história: 5,7%, uma queda de nada menos que 17 pontos percentuais em relação à eleição de 2012. O partido despencou de segundo para sétimo mais votado.

Decisivo para o destino do PvdA é a tradicional fragmentação do sistema partidário holandês. Os votos do espectro político de esquerda são disputados ainda pelo Partido Socialista, pelo Esquerda Verde e pelo D66. Em 2012, porém, o PdvA ainda levava vantagem nesse grupo, com 25% dos votos. Em 2017, todos os demais três o ultrapassaram. Além disso, os social-democratas holandeses ainda são confrontados pela ascensão do partido do populista de direita Geert Wilders, o segundo mais votado na eleição passada.

Reino Unido

Mas não há apenas miséria na social-democracia europeia. O melhor exemplo de renascimento é o do Partido Trabalhista britânico. Nos anos 1990, Tony Blair modernizou o partido, então bem mais à esquerda do que hoje, com o rótulo New Labour e o conduziu da oposição, onde estava havia anos, para o governo. Blair acreditava numa terceira via entre o capitalismo personificado por Margareth Thatcher e o velho socialismo de viés estatizante. Essa política foi bem-sucedida e aprovada pelos eleitores por muitos anos. Porém, a participação britânica na Guerra do Iraque sob a suposição – falsa, como se viu mais tarde  de que o país tinha armas de destruição em massa, e a estreita colaboração de Blair com o então presidente americano, George W. Bush, geraram muitas críticas ao Partido Trabalhista e perda de credibilidade.

Já há anos que o partido está de volta à oposição. Mas, desde que o velho esquerdista Jeremy Corbyn assumiu a presidência, em 2015, receitas antigas, como a estatização, mais impostos para os ricos e, ao menos no início, a saída do Reino Unido da Otan voltaram a fazer sucesso entre os trabalhistas. Desde então, o número de filiados não para de crescer e alcança cifras que não se viam há quase 40 anos. O Partido Trabalhista já ostenta cerca de 600 mil filiados, bem mais do que o SPD, por exemplo, que tem cerca de 460 mil, apesar de a Alemanha ter bem mais habitantes do que o Reino Unido. Os novos membros são sobretudo pessoas jovens. As eleições mais recentes, em 2017, foram vencidas pelos conservadores, mas a margem foi pequena, dando esperança de um novo governo trabalhista.

Jeremy Corbyn no festival de Glastonbury
Com uma tradicional agenda de esquerda, Jeremy Corbyn recuperou os ânimos do Partido TrabalhistaFoto: picture alliance/dpa/empics/PA Wire/Y. Mok

Suécia

Outro farol para os social-democratas europeus é a Suécia, ainda que isso seja quase uma obviedade. Afinal, social-democracia e Suécia são quase sinônimos: em nenhum outro país europeu, os social-democratas fizeram tanto sucesso e foram tão influentes e poderosos como na Suécia. Eles terminaram na frente em todas as eleições desde 1917, apesar de nem sempre terem indicado o primeiro-ministro. Eles usaram seus longos períodos de poder, principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, para criar um amplo sistema de bem-estar social que é modelo até hoje.

Porém, no mais tardar nos anos 1990, esse sistema ficou caro demais, o que obrigou governos – até mesmo os social-democratas – a fazerem cortes. Como consequência, o partido perdeu muitos votos e passou alguns anos na oposição. O atual primeiro-ministro, que governa com os verdes num governo de minoria, é novamente um social-democrata. As próximas eleições acontecerão no fim do ano. Os social-democratas lideram todas as pesquisas, mas estão abaixo dos 30%: para os padrões suecos, uma catástrofe. Quem ganhou votos foram os populistas de direita, que criticam a política migatório liberal do governo. Eles ocupam a terceira posição, com projeções que vão de 15% a 22% dos votos.

Áustria

Os social-democratas austríacos também já viram dias melhores, até mesmo bem melhores. Desde 1945, o SPÖ indicou o primeiro-ministro em 15 dos 28 governos. Até 1990, o partido alcançava mais de 40% dos votos, nos gloriosos anos 1970 até mesmo mais de 50%. Nos últimos anos, porém, os resultados das urnas se estabilizaram entre 25% e 30%. Nada que impressione, mas pelo menos o partido não experimentou uma queda à maneira do SPD na Alemanha, pelo menos por enquanto.

O que diferencia a Áustria dos demais países europeus é que grandes coalizões entre os social-democratas e os conservadores do ÖVP não são nenhuma exceção. Em quase dois terços dos anos depois da Segunda Guerra houve uma grande coalizão no poder em Viena. Ora o SPÖ era o parceiro majoritário; ora, o minoritário. Uma grande coalizão baseada numa política consensual é quase sinônimo de Segunda República na Áustria, e frequentemente se fala em grande coalizão eterna e nepotismo.

Isso também favoreceu a ascensão do partido nacionalista FPÖ, que forma uma aliança de governo com o ÖVP. O SPÖ se viu obrigado a ir para a oposição. Assim como na Alemanha, os social-democratas austríacos também se perguntam se diluíram seu perfil com a participação em sucessivas grandes coalizões.