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A saga dos turcos na Alemanha

Augusto Valente27 de maio de 2002

Os turcos formam o maior contingente de estrangeiros na Alemanha. Como vive no país este povo, cuja seleção nacional será a primeira adversária do Brasil na Copa de 2002?

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Imigrantes turcos em MuniqueFoto: AP

Dos sete milhões de estrangeiros vivendo na Alemanha, 2,4 milhões são turcos. Alguns estão aqui há mais de 40 anos, e já se anuncia a quarta geração seguindo os Gastarbeiter ("trabalhadores convidados") que propiciaram o milagre econômico alemão. Apesar disso, os turcos continuam sendo grandes desconhecidos dos alemães e, portanto, alvos de cruéis preconceitos.

"Convidados" -

A parte a intolerância "natural" de uma parcela da população, as idéias correntes sobre os turcos radicados na Alemanha também se explicam pela situação das primeiras gerações de imigrantes. Ao lado de portugueses, iugoslavos e italianos, estes turcos chegaram ao país nas décadas de 1960 e 1970, para trabalhar nas fábricas e construções, ajudando a reerguer a economia destroçada pela Segunda Guerra. Via de regra, eram trabalhadores braçais, com baixo nível de instrução.

O termo Gastarbeiter lembra a natureza do "convite": cumprir sua função e depois retornar ao país de origem, sem fincar raízes. Não obstante, o governo alemão procurou suprir o mínimo indispensável de integração, através de cursos do idioma alemão e atividades sociais. Tudo sem muita convicção nem know-how, diga-se de passagem, e com sucesso discutível.

Contra as expectativas governamentais, o doce gosto do bem-estar e a promessa de segurança material a longo prazo fixou boa parte dos "trabalhadores convidados" em terras germânicas. Durante décadas, não havia para eles a menor perspectiva de naturalizar-se. De resto, os filhos nascidos em solo alemão continuavam sendo turcos segundo a legislação local, que até bem pouco tempo definia a nacionalidade alemã apenas em termos do "sangue" – isto é, de acordo com a origem paterna – e não pelo local de nascimento.

Casacão e véu –

Outro elemento decisivo de estranhamento é a fé muçulmana, a qual, até certo ponto, afasta os turcos dos usos ocidentais. Para as mulheres, a estigmatização é ainda mais dramática. Não só por seu papel social subalterno – nas famílias mais conservadoras, elas caminham sempre alguns passos atrás do marido, e o acesso à educação é extremamente difícil –, a própria indumentária as afasta da "normalidade" européia. Independente do tempo, trajam sempre saias e casacos longos e lenço na cabeça, só revelando as mãos e o rosto. Para um ocidental, a associação com estruturas autoritárias é quase inevitável.

Um estudo realizado numa cidade alemã de 700 mil habitantes revelou que mais da metade dos homens de origem turca vai procurar esposa na Turquia. Segundo os pesquisadores, o motivo seria a falta de mulheres entre os imigrantes turcos. De qualquer modo, os casamentos teuto-turcos são uma exceção. As reservas são comprovadamente maiores do lado alemão, já que a imagem do islamismo é negativa, e os pais alemães temem um destino de repressão para suas filhas.

Grande surpresa –

Ainda assim, é injustificada boa parte dos preconceitos que acompanham o maior grupo de estrangeiros da Alemanha, a julgar por um estudo abrangente entre pessoas de origem turca, maiores de 14 anos, promovido recentemente pelo Departamento de Imprensa e Informações do governo alemão. Aqui algumas das críticas preconceituosas mais comuns e a realidade verificada pelo estudo:

  • "Eles se isolam": Na realidade, 56% dos turcos na Alemanha estariam bem integrados. Trata-se sobretudo da geração abaixo dos 40 anos de idade, escolarizada e empregada. Porém quatro em cada cinco jovens de origem turca também encontram-se regularmente com amigos alemães. Os pesquisadores classificaram 24% dos entrevistados com "potencial de integração" e apenas 20% como "mal integrados". Este último grupo é formado, sobretudo, por mulheres e homens idosos e religiosos.
  • "Falam mal o alemão":
  • Dois terços dos turcos consideram – com razão – seu domínio da língua "bom" ou "excelente". Os testes de controle acusaram um desvio de apenas 4% desta autoavaliação. As maiores dificuldades estão na escrita. Aqui 55% classificam sua capacidade de expressar-se em alemão entre mediana a má.
  • "Interessam-se mais pela Turquia do que pela Alemanha":
  • Apenas 40% dos participantes da pesquisa têm grande interesse pela política turca. O grau de interesse está em proporção direta à idade. Apenas 17% dos jovens entre 14 e 18 anos se inclui nesta categoria, contra 61% de 50 a 59 anos. A confiança nas instituições alemães também é acentuada, sobretudo nos hospitais (76%) e escolas (61%). Em seguida vêm as repartições públicas, polícia e tribunais, todos gozando da confiança de mais de 40% dos turcos.
  • "Só procuram a mídia turca":
  • O comportamento televisivo dos turcos é praticamente idêntico ao dos alemães na mesma faixa econômica e de instrução. Ambos preferem as emissoras mais populares, RTL (54%) e Pro-7 (41%). Apenas 34% dos entrevistados sintoniza o canal estatal turco TRT-INT. Enquanto 17% só utilizam os meios de comunicação em idioma turco, 28% recorrem exclusivamente às emissoras alemãs. Entre os jornais, o turco Hürriyet é o preferido (38%), seguido de um alemão, o sensacionalista Bild (28%).