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A eterna Effi

Neusa Soliz28 de outubro de 2003

Theodor Fontane imortalizou-a em seu trágico romance, "Effi Briest". Mas a verdadeira Effi Briest, uma baronesa, mal se conhece. Elisabeth von Ardenne terá agora um museu em sua cidadezinha na Saxônia.

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Castelo de Benrath - onde começou a tragédia de Effi BriestFoto: DW

O povoado de Zerben, na Saxônia, é tão pequeno que não consta dos mapas. Num castelinho nas suas imediações, começou a trágica história que serviu de inspiração ao romance Effi Briest, de Theodor Fontane (1819-1898). Nele nasceu a baronesa Elisabeth von Plotho, que posteriormente usaria o sobrenome do marido, von Ardenne.

Destino de Effi é mais trágico

Os habitantes de Zerben, que fica a 80 quilômetros de Berlim, festejaram os 150 anos do nascimento de Elisabeth no último dia 26, com uma leitura de trechos do romance e uma peça de teatro. E o castelo, parcialmente destruído durante a guerra, está sendo reformado e abrigará um pequeno museu dedicado à única "filha dileta" do local. A morte e o tempo transformam tudo, pois na época dos acontecimentos Elisabeth causou um escândalo no país.

Como era de seu costume, Fontane baseou-se numa história verdadeira, mas o destino de Elisabeth não foi tão trágico como o da personagem Effi Briest. A começar por sua morte: Effi morre ainda jovem, enquanto a baronesa de carne e osso teve uma longa vida e faleceu com 99 anos.

História de amor, com direito a duelo e morte

Theodor Fontane conheceu Elisabeth durante uma recepção em Berlim, alguns anos após seu casamento, em 1873. Seu marido, o barão Armand León de Ardenne, havia sido transferido para a capital alemã. Na realidade, ele era apenas cinco anos mais velho do que Elisabeth. Já no romance, a diferença de idade sobe para 21 anos, pois Fontane decidiu dramatizar um pouco e carregar na tinta, talvez para dar um caráter mais literário e representativo a seu personagem. O destino infeliz de uma mulher que se vê obrigada a casar-se com um homem mais velho não era nada raro na época e nos séculos anteriores.

Foi perto de Düsseldorf, no castelo de Benrath, onde a família Ardenne morou com seus dois filhos, que Elisabeth conheceu o juiz Emil Hartwich e se apaixonou por ele. Um belo dia, em 1887, o barão encontrou suas cartas de amor e desafiou o rival a um duelo de pistolas. Hartwich saiu ferido e acabou morrendo, dias depois. O barão de Ardenne foi condenado à prisão no quartel, logo podendo retomar sua carreira militar.

Baronesa não pôde ver os filhos

Como ele entrasse com um pedido de divórcio, Elisabeth acabou perdendo a tutela dos filhos e, como adúltera, foi proibida de ver as crianças. "Somente 16 anos depois ela conseguiu ter contato com a filha", disse Marianne Schnücke, do Círculo Effi Briest, em Zerben, que se dedicou a estudar a vida da baronesa.

Aos 90 anos, Elisabeth entregou sua correspondência com o juiz Emil Hartwich a seu neto preferido, Manfred von Ardenne, um conhecido cientista e pesquisador. Algumas dessas cartas de amor serão expostas no museu, juntamente com os objetos de posse do Círculo local. O problema é que ainda faltam recursos para a restauração do castelinho, onde ele funcionará.

Mais fibra do que Effi

No romance, Effi tem depressões após tanta tragédia. Essas depressões acabam levando à sua morte, ainda jovem. A verdadeira Elisabeth, porém, nada tem a ver com a resignação perante o destino que lhe atribui Fontane. A baronesa demonstrou mais fibra do que Effi: Elisabeth von Ardenne trabalhou como enfermeira e reconstruiu sua vida, que por pouco não completou um século.

Quem sabe o castelinho de Zerben se torne uma atração turística, quando as obras estiverem concluídas. O povoado de apenas 320 habitantes está situado perto do Rio Elba. A região idílica, com seus rios, lagos e bosques, faz parte da "Estrada Românica", um dos dez roteiros turísticos preferidos na Alemanha.