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A esperança carioca da Seleção Alemã

Marcio Weichert e Marion Andrea Strüssmann4 de fevereiro de 2003

O carioca Kevin Kuranyi está em alta na Bundesliga e aguarda sua primeira convocação por Völler. O sonho da camisa canarinho, o atacante trocou pelo desejo do pai. Mas não o de jogar no Flamengo, confessa à DW-WORLD.

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Kevin telefona com a chuteira para avisar que marcou mais um golFoto: AP

Quando começou a treinar futebol aos seis anos, no Serrano de Petrópolis, região montanhosa do Rio de Janeiro, o carioca Kevin Kuranyi sonhava em um dia vestir a camisa canarinho. Seu pai, o alemão Kont, deve ter sentido o potencial do filho, mas temido a forte concorrência na terra de Ronaldo e Ronaldinho e ousou colocar o garoto noutro rumo. Quando este de seus quatro filhos com a panamenha Carmen completou 15 anos, Kont embarcou com Kevin para Stuttgart.

Os testes de admissão no clube da primeira divisão alemã não foram obstáculo. Após quatro anos nos juniores, foi promovido pelo recém-chegado treinador Felix Magath a profissional em julho de 2001. E toda vez que entrou em campo na temporada passada, Kevin mostrou ser o embrião de um artilheiro. Agora ninguém mais na Alemanha duvida. Após 10 gols em 18 rodadas do Campeonato Alemão, o carioca é uma das grandes revelações da Bundesliga.

Esperando telefonema de Völler

Após quatro convocações para o selecionado sub-21 da Alemanha, Kevin está na mira de Rudi Völler para a equipe principal. "Se continuar jogando assim, não vai demorar (a ser chamado)", confessa o técnico vice-campeão mundial no Japão. "Ele está maduro. Mesmo estando sob forte observação, ele não joga para si mesmo", atesta o treinador Felix Magath, após o teuto-brasileiro ter dado o passe para dois gols da vitória de 3 a 1 do Stuttgart sobre o Hertha Berlim no último sábado.

Kevin procura manter a modéstia: "Estou começando a jogar o futebol que aprendi aqui no Stuttgart e a fazer gols na Bundesliga. Espero que algum dia o Völler me chame para jogar pela Alemanha." Ainda este ano? "Tomara que sim." A imprensa aposta que a estréia será no amistoso contra a Espanha, no próximo dia 12.

O sonho de criança de jogar pela Seleção Brasileira parece mesmo assunto descartado. "Comecei minha carreira profissional aqui na Alemanha e já me decidi pela Seleção Alemã por causa de meu pai. Acho que não posso mais mudar de opinião", diz conformado o atacante, embora ainda suspire um "mas nunca se sabe..."

Nada de desafios a Klose e Aílton

O menino do Rio não se considera, entretanto, ainda em condições de tirar de Klose a posição de titular da seleção germânica, apesar da má fase do artilheiro alemão na Copa do Mundo. "Ele está com problemas, não está fazendo gols e não está jogando como no mundial e nos campeonatos passados. Espero algum dia poder tomar a posição dele, mas acho que ainda falta muito."

O atacante do Stuttgart também evita lançar-se declaradamente na briga pela artilharia do Campeonato Alemão, liderada por Aílton, com 14 gols. Mas Kevin não aconselha o brasileiro do Werder Bremen a dormir tranqüilo. "Veja que, na penúltima rodada, o Schroth (1860 Munique) meteu três gols e subiu para terceiro lugar. Nunca se sabe o que vai acontecer nos próximos jogos. Mas ele (Aílton) está jogando muito bem, metendo seus gols. Vai ser difícil chegar nele, mas tomara que eu chegue lá", afirma ainda esperançoso.

Adaptação difícil também para alemão

A despeito de sua ascendência alemã, adaptar-se em seu novo país foi tão difícil quanto para qualquer outro jogador brasileiro. Quando chegou não falava sequer o idioma. "Meu pai me trouxe, me deixou com uma tia e voltou para o Brasil. Fiquei aqui sem ninguém do Brasil. Acho que por isso até aprendi a falar alemão um pouquinho rápido. Mas os dois primeiros anos foram difíceis", conta Kevin, satisfeito por hoje ter o pai e os irmãos morando também em Stuttgart.

Mas, assim como Amoroso, Élber, Lúcio, Zé Roberto e companhia verde-amarela, o provável futuro centroavante da Seleção Alemã aproveita todas as férias para matar as saudades dos trópicos, pois a família Kuranyi não se desfez de sua casa no Brasil.

A falta que o Brasil faz

O idioma não foi a única barreira para a adaptação na Alemanha. "Desde que cheguei, estranhei a falta do sol e da alegria dos brasileiros. No Brasil, há muitos problemas, muita gente sem dinheiro, mas todos estão sempre contentes. Disto sinto falta aqui", observa Kevin, repetindo uma experiência vivida por quase todo imigrante brasileiro.

A revelação da temporada sente-se na vantagem de ter influências tanto do futebol brasileiro quanto do alemão. "Tenho uma mistura. Aprendi das duas partes e estou tirando o melhor dos dois. Quando boto a bola entre as pernas de um adversário, dizem: lá está o brasileiro. Quando subo para cabecear, dizem: é o alemão."

Pensando no futuro e no fim

Grato pela chance de profissionalizar-se através do Stuttgart, Kevin espera cumprir seu contrato, válido até 2004, com mais um ano de opção. "Quero jogar mais dois anos aqui, para aprender mais e me tornar um jogador mais figura no time." O alemão nascido no calor do Rio de Janeiro espera então poder encaminhar sua carreira para terras menos frias. "Gostaria de mudar para um time maior. O futuro está em aberto, mas um time do sul da Europa seria melhor."

A menos de um mês de completar 21 anos, o atacante já estuda onde pendurar suas chuteiras. "Espero terminar minha carreira no Brasil." Na verdade, seu plano revela outro sonho comum a inúmeros meninos brasileiros, em seu caso certamente adiado por sua transferência precoce para a Alemanha. "Quando estiver em meus últimos anos como jogador, gostaria de poder jogar no meu time do coração, o Flamengo."