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off documenta

Juliana Vaz6 de setembro de 2007

A poucos dias do fim da "documenta" 12, esta renomada mostra de arte contemporânea já recebeu um público recorde. Uma exposição analisa o papel desse evento qüinqüenal para Kassel e seus habitantes.

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A visão turística de quem chega a KasselFoto: Juliana Vaz

Referindo-se à documenta 12, o curador da mostra de Kassel, Roger Buergel, declarou: "Uma exposição de arte não pode pousar como um OVNI em alguma cidade sem ter nenhuma relação com ela".

Mas quem passa pela rua Friedrich-Ebert em Kassel tem a impressão de que foi mesmo um alien que ocupou um campo vazio em frente à estação Annastrasse. Como parte de um projeto da exposição, o local foi cercado por barreiras vermelhas e os kasselaner, como são chamados os habitantes de Kassel, foram convocados a transformá-lo como quisessem.


Desde então, toda sorte de objetos passou a compor essa grande instalação ao ar livre: salsichas em exposição, um trampolim em cima de uma árvore, uma cabeça de boneca em cima de um caixão, e, entre outros, um grande tanque militar colorido com flores, batizado de "o tanque da paz".

As reações dos passantes são diversas: alguns ignoram, outros se interessam sem chegar perto, crianças se divertem. Um homem se aproxima e diz: "Vocês vão levar o tanque para o Leste alemão também?! Esta é a geração de 1933! Nada mudou."

Dokumenta XII
'Tanque da paz' em KasselFoto: Juliana Vaz

Para quem não se interessa por arte, a documenta 12 e tudo o que ela causa durante os cem dias na região não deixam de representar, além de um grande boom para a economia e o turismo locais, uma provocação a essa cidade pacata com menos de 200 mil habitantes no norte do estado alemão de Hessen.

"A documenta desperta uma sensibilidade para o incomum. Mesmo que os habitantes de Kassel a xinguem, pelo menos já estão lidando de alguma maneira com ela", opina Carmen, uma kasselaner que ocupou por alguns dias a instalação ao ar livre.

Kassel: "cidade da documenta"?

Desde 1999, Kassel tem o título de "cidade da documenta". Segundo o documenta archiv, órgão que coleta dados da mostra desde 1955, a documenta 11 atraiu cerca de 650 mil visitantes, mais que o triplo da população de Kassel, que gastaram mais de 30 milhões de euros só em alimentação e hospedagem.

Doch noch blühender Mohn in Kassel
Sem documenta, Museu Fridericianum fica vazioFoto: AP

Por cem dias, restaurantes e hotéis ficam lotados, atividades culturais florescem e eventos paralelos pegam carona com a mostra. Entretanto, nos 1.784 dias que se seguem até a inauguração da próxima edição, a cidade precisa sobreviver sem ela.

"Como a documenta só acontece durante um breve período, devemos nos perguntar se é mesmo correto chamar Kassel de 'cidade da documenta'", questiona Philipp Oswalt, pesquisador da Universidade de Kassel e diretor da mostra paralela documenta EFFECTS, realizada pelo museu da cidade até 23 de setembro.

Segundo ele, em 95% do tempo em que não há documenta, o Museu Fridericianum, principal locação desta edição, assim como a Neue Galerie, ficam vazios.

"A documenta não é o núcleo da cidade", diz Oswalt. "A atmosfera de Kassel só tem a ganhar com a mostra e é interessante que tudo aconteça na agitação destes cem dias. Mas a documenta não é essencial para Kassel e seu papel para a cidade é supervalorizado", conclui.

Exposição é lucrativa e bem vinda

Segundo Oswalt, cerca de 45 mil kasselaner visitaram a última documenta em 2002 - apenas um em cada cinco habitantes da cidade, aproximadamente. Com o passar dos anos, o comportamento deles diante da mostra mudou.

"Nos anos 70 e 80, a documenta era alvo de crítica e repúdio por parte de alguns. Obras fora do museu, como o projeto dos 7 mil carvalhos (7.000 Eiche), de Joseph Beuys, em 1982, geraram muitos protestos em Kassel. Nos últimos anos não tem havido críticas à documenta", afirma Oswalt.

Dokumenta XII
Karlsaue: descanso e lazer para os habitantesFoto: Juliana Vaz

Mas, ao mesmo tempo em que a relação de Kassel com a arte se descomplicou, a documenta se tornou, para os kasselaner, um negócio lucrativo nesta cidade cuja taxa de desemprego é de 14% –muito acima da média nacional de 8,8%.

"As pessoas que trabalham na vigilância das obras de arte, na gastronomia e na hotelaria são provenientes de Kassel. Mas, os cargos que exigem maior formação, como guias e trabalho de imprensa, são ocupados por especialistas que se mudam por um tempo para a cidade e vão embora logo que a exposição termina", explica.

A vida comum

Kassel documenta Kulturbahnhof mit Himmelsstürmer
Vestígio da documenta em KasselFoto: picture-alliance/dpa

Depois de 23 de setembro, data de encerramento da exposição, Kassel voltará à normalidade.

Para a população, ainda é um mistério saber qual das obras de arte fora dos museus deverá ser incorporada à paisagem da cidade. Uma coisa, entretanto, é certa: o gramado no parque Karlsaue deverá ser devolvido aos kasselaner assim que o Aue Pavillon, construído especialmente para a documenta 12, for removido.

Então, o verão das artes terá chegado ao fim e seguirá apenas a vida comum. Como a de Hildegard, que já vivenciou doze documentas e uma Guerra Mundial, ou a de Bia, que sonha em algum dia viajar para os Estados Unidos.