A Berlinale das letras
7 de setembro de 2005Ambição não falta: o festival quer ser o "mais internacional de todos os festivais internacionais de literatura". Em sua quinta edição, o evento – que abriu suas portas nesta terça-feira (06/09) com uma palestra do escritor mexicano Carlos Fuentes sobre a importância do romance como gênero literário – reunirá prosa e poesia de todo o mundo em cerca de 300 eventos.
Até 17 de setembro, mais de 130 escritores participarão de leituras, mesas-redondas e debates políticos na Haus der Berliner Festspiele e na Literaturhaus, mas também em localidades pouco convencionais, como em cemitérios e prisões.
Mas, em 2004, o evento contou com um total de 35.500 visitantes, segundo a própria organização. Só para fins comparativos, o International Book Festival de Edimburgo contou com um saldo de 220 mil visitantes e com a participação de 500 escritores em 650 eventos ao longo de 14 dias.
Caleidoscópio literário
Em Berlim, a literatura universal estará reunida nas seções Literaturas do Mundo e Caleidoscópio. Na primeira, dez autores selecionados agem de jurados e nomeiam, cada um, três outros escritores de seus respectivos círculos culturais.
O peruano Mário Vargas Llosa, por exemplo, nomeou Soledad Álvarez (República Dominicana), Giovanna Pollarolo (Peru) e Arturo Fontaine (Chile). Por sua vez, esta seleção pessoal complementará a curadoria do festival na seção Caleidoscópio, que reagirá, ao mesmo tempo, a acontecimentos da atualidade e a lançamentos literários. Ou seja: literatura contemporânea no sentido literal. Para isso, muitos livros tiveram que ser traduzidos pela primeira vez para o alemão.
Entre os pontos altos da programação estão a literatura infanto-juvenil, a seção de contos Scritture Giovani para jovens escritores e o debate "O sistema Putin", que faz parte do programa da seção política Reflections.
De repente, Califórnia
Todo ano, o festival escolhe uma região de destaque no mundo. Esta foi a vez da Califórnia. Muito além dos clichês de hippies, Hollywood e Arnold Schwarzenegger, o festival espera oferecer um panorama da vida cultural do "golden state", geralmente marginalizado às custas dos Estados da costa leste.
"Se a Califórnia não existisse, a vida psicológica dos Estados Unidos seria completamente diferente; sua capacidade de imaginação, limitada. Um enorme potencial da criatividade estadunidense seria desperdiçado" disse Kevin Starr, o mais importante pesquisador da história californiana, que ele publicou em uma edição de sete volumes. Starr é considerado o "arquivo vivo" da Califórnia.
Outro convidado de destaque do Festival é Steve Wasserman, ex-editor do caderno de cultura do jornal Los Angeles Times, que fez parte do júri do prêmio Pulitzer e é um dos mais reconhecidos intelectuais dos Estados Unidos. Para Wasserman, é importante que leitores de jornais recebam muito mais dicas de leitura.
"Um dos grandes escândalos do jornalismo americano é o triste fato de que muito poucos jornais encaram resenhas de livros como uma notícia que eles são obrigados a dar a seus leitores", reclama Wasserman. "E ainda, para acrescentar uma dose de ofensa a esse desserviço, essas resenhas são frequentemente escritas em uma linguagem infantil."