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História

1989: Tropas soviéticas encerram retirada do Afeganistão

Peter Philipp

Em 15 de fevereiro de 1989, os últimos soldados soviéticos abandonam o Afeganistão, encerrando quase dez anos de ocupação.

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Foto: AFP/Getty Images

A ponte sobre o rio Oxus é longa e tem apenas uma pista. Mas isso pouco importa, pois os caminhões e carros blindados seguem todos no mesmo rumo, para o norte, para atravessar a fronteira com o Uzbequistão e assim retornar à União Soviética. Foi de lá que eles vieram, trazendo as tropas e os armamentos para o Afeganistão, um país que se tornou um protetorado durante a ocupação soviética.

Os últimos soldados soviéticos abandonaram o território afegão dez anos depois de terem invadido o país para derrubar e, ao mesmo tempo, apoiar um regime que teria solicitado a ajuda soviética.

Foi no Afeganistão que os soviéticos vivenciaram o seu Vietnã. A longa resistência dos afegãos não podia ser vencida, as perdas do lado soviético chegaram à casa do milhares, e assim a União Soviética, uma potência mundial, se viu obrigada a retirar seus soldados sem ter ao menos uma vitória simbólica para reclamar.

As tropas soviéticas, durante tantos anos tão temidas no Ocidente, foram derrotadas e expulsas por um exército de combatentes medievais, os mujahedins.

Outros combatentes o país asiático jamais conhecera: o Afeganistão era e é determinado pelas diferentes tribos que o habitam, e já há muito despertara o interesse e a cobiça de ingleses e russos. Aqueles estavam na Índia, estes eram vizinhos ao norte. E mesmo que no passado o Afeganistão jamais tivesse estado sob controle direto de uma potência estrangeira, ele sempre foi dependente das políticas delas.

Regime de marionetes

Em Cabul havia se instalado um rei cujo poder mal atravessava as fronteiras da cidade – bem de acordo com o ditado afegão: "Debaixo de cada árvore, um rei". Mais um governante afegão sujeito a ser assassinado, deposto, executado ou apenas expatriado. Os conflitos quase sempre tiveram razões étnicas, geralmente relacionados à etnia pashtun, a maior do país.

Mas o exterior também sempre teve sua cota de participação: o Afeganistão foi uma das primeiras nações a reconhecer a União Soviética, equilibrando-se entre os britânicos e as potências do eixo, e cada novo golpe em Cabul dava ao exterior novas chances de exercer sua influência.

Em 17 de julho de 1973, um golpe de oficiais de esquerda liquidou não só a Constituição de 1964 como também a monarquia. Mas logo surgiram conflitos internos entre os esquerdistas, e eles se acirraram em 1979: em fevereiro foi assassinado em Cabul o embaixador americano; em setembro, o presidente do Conselho Revolucionário, Mohammad Taraki, e o sucessor deste, Hafizullah Amin, tentou uma reaproximação com os Estados Unidos e com o Paquistão.

Na véspera do Natal, Moscou colocou suas tropas a caminho de Cabul, onde impôs um regime de marionetes sob o governo de Babrak Karmal, ex-embaixador afegão na União Soviética.

Não demorou muito para a resistência se organizar. Já em 1980, formaram-se os principais grupos guerrilheiros islâmicos, os mujahedin, que iniciaram a luta a partir do Paquistão, mas também de dentro do próprio Afeganistão, contra os cem mil soldados soviéticos.

O lado dos mujahedin tinha o inimigo como único ponto em comum, e mesmo em Cabul a luta pelo poder perdurava: Karmal foi deposto quase seis anos após o início dos combates e substituído pelo chefe do serviço secreto, Mohammad Najibullah. O novo governante tentou, mesmo de uma maneira superficial, conciliar os diversos grupos inimigos.

No entanto, a guerra prosseguiu, com o fortalecimento dos mujahedin, armados pelos Estados Unidos com as mais modernas técnicas de defesa antiaérea e outras inovações bélicas.

Bin Laden aproveitou-se da situação

Washington não previu, no entanto, que estava apoiando grupos que acabariam se tornando seus inimigos, entre eles um exército de voluntários do mundo árabe. Também Osama bin Laden tirou proveito da política afegã dos americanos, para quem a única coisa que importava na época era a determinação de combater os soviéticos.

O sistema acabou surtindo efeito. Os soldados soviéticos já tinham perdido a motivação, e o exército do governo afegão já fora reduzido a um quinto do seu contingente original. O restante já tinha aderido aos adversários ou se refugiado no exterior. No final da guerra, o número de fugitivos afegãos no Paquistão, e sobretudo no Irã, chegava a 3 milhões.

Após anos de negociação em Genebra, o Afeganistão e o Paquistão finalmente assinaram um acordo de paz em 1988. O documento previa o fim do apoio aos mujahedin e a retirada das tropas soviéticas.

A retirada começou em meados de 1988 e terminou no dia 15 de fevereiro de 1989. Mas as lutas prosseguiram. Primeiro os mujahedin expulsaram o governo de Najibullah, depois acirraram-se os conflitos internos entre os mujahedin. Foi nesta época que a milícia Talibã, incentivada pelo Paquistão e inicialmente também pelos Estados Unidos, começou a assumir o controle sobre o país.