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1943: Goebbels declara guerra total

Michael Marek (gh)

Em 18 de fevereiro de 1943, Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda de Hitler, proclamou a guerra total num discurso à nação em que apelava ao nacionalismo.

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Joseph Goebbels vor Mikrofon
Joseph Goebbels em foto de 1933Foto: picture alliance/Imagno

"Eu lhes pergunto: Vocês querem a guerra total?" Interrompido por aplausos e gritos de "sim", o orador insistiu na pergunta. "Vocês a querem, se necessário, mais total e radical do que a podemos imaginar hoje?". E recebeu nova ovação e um decidido "sim" da plateia. Este foi o auge do discurso do chefe da propaganda nazista, Joseph Goebbels (1897-1945), no dia 18 de fevereiro de 1943, diante de 14 mil pessoas reunidas no Palácio dos Esportes, em Berlim.

Essa mistura de ambição pelo poder e desprezo pelo ser humano era típica do oportunista Goebbels. A Alemanha encontrava-se em ruínas e a Segunda Guerra já estava decidida quando Goebbels tentou evocar, pela última vez, o mito da "comunidade do povo" (Volksgemeinschaft).

O discurso no Palácio dos Esportes não passou de encenação, gravada para transmissão por rádio e nos cinemas. A ideia lhe ocorrera em outubro de 1942, quando se delineara a derrota de Stalingrado. A intenção era não só entusiasmar os ouvintes, mas também os soldados nas frentes de batalha.

Apesar disso, Goebbels referiu-se à plateia que o ouvia ao vivo como sendo "uma amostra da sociedade em seu todo". O sucesso do rádio empolgou as multidões, por se tratar de um acontecimento fabuloso da mídia na época. Seu efeito sugestivo foi enfatizado pelo suposto imediatismo e a impressão de ser ao vivo. O programa, porém, havia sido gravado durante o dia e só foi ao ar à noite.

Goebbels ressaltou ameaças judia e bolchevique

O discurso expressou a convicção pelos nazistas de sua causa. Goebbels ainda aperfeiçoou tecnicamente os aplausos, para que tivessem o efeito esperado no país e no exterior. Ressaltando a ameaça bolchevique, o ministro da Propaganda tentou conquistar os países neutros e os aliados ocidentais para uma luta conjunta contra a União Soviética. Insistiu também na campanha de perseguição aos judeus. "A Alemanha não pretende se curvar à ameaça judaica e, sim, enfrentá-la, se necessário, com o extermínio total e radical do judaísmo", disse sob aplausos.

Goebbels ambicionava melhorar sua posição no comando nazista. Nos anos 1930, ele havia sido uma figura marginal. Fora relegado a segundo plano nas decisões que antecederam o início da Segunda Guerra Mundial. Apesar disso, era considerado um importante representante do regime nazista, tanto no país como no exterior. Seu papel era propagar o culto ao Führer e maquiar o caráter terrorista do regime de Hitler com a visão da "comunidade do povo" (Volksgemeinschaft). Goebbels estava ligado ao centro do poder através da propaganda.

Apelo veemente ao nacionalismo

O discurso de 18 de fevereiro de 1943 teve diferentes repercussões no exterior. Hitler classificou-o como "obra-prima da propaganda", uma advertência fatídica que combinava fascínio e violência sutil. Nunca antes Goebbels havia apelado com tanta veemência ao nacionalismo, à esperança e à perseverança de milhões de alemães.

Suas táticas para manipulação das massas, porém, já eram conhecidas. Em 1938, alertara para a "crescente insatisfação do povo alemão" com o Tratado de Versalhes. Com inédita habilidade, usou o rádio, a fotografia e o cinema para propagar os ideais do nazismo. Tramou também a chamada Noite dos Cristais de 9 de novembro de 1938, uma operação brutal montada para vingar o assassinato de um diplomata alemão em Paris por um jovem comunista judeu.

Goebbels alegou que foi um protesto espontâneo das massas, mas hoje sabe-se que a "Noite dos Cristais" marcou o início de uma nova fase do regime hitlerista: o nacional-socialismo deixava as camuflagens para assumir o terror.

Perdida a guerra, os dois principais mentores desse terror – o Führer e seu chefe de propaganda – escolheram o mesmo destino: suicidaram-se em 30 de abril de 1945. No testamento escrito pouco antes do suicídio, Hitler ainda nomeara Goebbels para sucedê-lo no cargo de chanceler do 3º Reich.

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