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"Única mala" não comprova corrupção, diz novo diretor da PF

21 de novembro de 2017

Nomeado por Temer, Fernando Segóvia assume comando da Polícia Federal e questiona investigação da PGR contra presidente. Mala com R$ 500 mil "talvez" seja insuficiente para provar crime, opina. Janot rebate críticas.

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Brasilien Fernando Segóvia
Segóvia toma posse como diretor-geral da PF em Brasília, no lugar de Leandro DaielloFoto: Agência Brasil/J. Cruz

Fernando Segóvia, que assumiu oficialmente o cargo de diretor-geral da Polícia Federal (PF) nesta segunda-feira (20/11), afirmou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) pode ter agido de forma apressada ao denunciar o presidente Michel Temer, em junho, por corrupção passiva.

Em entrevista coletiva após sua posse em Brasília, Segóvia questionou o pouco tempo dedicado pelo então chefe da PGR, Rodrigo Janot, ao inquérito, afirmando que "uma única mala" talvez seja insuficiente para comprovar se os investigados cometeram, de fato, um crime.

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 "A gente acredita que, se fosse pela égide da PF, essa investigação teria que durar mais tempo, porque uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se havia ou não crime, quem seriam os partícipes e se haveria ou não corrupção", afirmou.

Para Segóvia, o papel de Temer no crime apontado pela PGR "é um ponto de interrogação que está no imaginário popular". Essa questão "poderia ter sido respondida se a investigação tivesse durado mais tempo", opinou.

O novo chefe da Polícia Federal se referia à mala com 500 mil reais que foi entregue por um diretor da empresa JBS, Ricardo Saud, ao ex-deputado e ex-assessor especial de Temer Rodrigo Rocha Loures, em abril. Investigadores da PF flagraram a entrega do dinheiro, que seria propina.

Segundo a PGR, os valores teriam o presidente como beneficiário. O episódio, que levou à prisão de Rocha Loures, foi uma das bases da primeira denúncia oferecida por Janot contra Temer. A acusação foi barrada pela Câmara dos Deputados em agosto.

Na noite desta segunda-feira, Janot rebateu as declarações de Segóvia, chamando-o de "pau mandado" do governo. "A pergunta que não quer calar é: ele se inteirou disso ou está falando por ordem de alguém?", questionou ele ao jornal Folha de S. Paulo.

Para o ex-procurador-geral da República, o novo diretor da PF desconhece a legislação e o trabalho dos policiais federais. Janot ainda justificou que, como Rocha Loures estava preso, a investigação precisou seguir os prazos estabelecidos em lei.

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, integrante da força-tarefa da Operação Lava Jato, também fez críticas às declarações de Segóvia sobre o inquérito envolvendo Temer. Para ele, não cabe ao diretor-geral da PF emitir opinião sobre investigações ou denúncias.

"Sua opinião pessoal é totalmente desnecessária e sem relevância, ainda mais quando dada em plena coletiva após a posse que lhe foi dada pelo próprio denunciado", disse Lima em rede social.

Combate à corrupção

Segóvia tomou posse como diretor-geral da Polícia Federal nesta segunda-feira, em solenidade na sede do Ministério da Justiça, em Brasília. Nomeado por Temer ao cargo, ele entra no lugar de Leandro Daiello, que estava há quase sete anos no comando do órgão.

Os países mais corruptos do mundo

Em discurso durante a cerimônia, Segóvia  apontou o combate à corrupção como uma das prioridades de sua gestão, confirmando o prosseguimento de operações como a Lava Jato.

"Buscaremos o combate incansável à corrupção no Brasil, que continuará a ser agenda prioritária na Polícia Federal, tendo como premissa a continuidade de operações especiais, tais como Lava Jato, Cui Bono, Cadeia Velha, Lama Asfáltica e tantas outras em andamento nos inquéritos", afirmou.

Segóvia ainda se comprometeu a trabalhar em harmonia com o Ministério Público Federal (MPF), lamentando o que chamou de "infeliz e triste disputa" entre o órgão e a PF.

Ele pediu para que procuradores e policiais deixem "de lado a vaidade e a sede de poder, buscando um equilíbrio e um entendimento em nossas ações, em prol de toda a nação brasileira".

Delação premiada

O diretor também defendeu a prerrogativa da corporação de fechar acordos de delação premiada – uma das questões que é motivo de divergências entre o MPF e a Polícia Federal.

Para os procuradores, a função é exclusiva de membros do Ministério Público Federal, e a lei que dá tal atribuição a policiais federais é inconstitucional. Uma ação direta de constitucionalidade tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o assunto.

"Já está na lei que a PF tenha a atribuição de fazer as delações premiadas, o que nada mais é que um meio de investigação. Como ferramenta de investigação, ela tem que fazer parte da atuação da PF, e nós não vamos desistir dessa atribuição", afirmou ele, durante a coletiva.

Temer anunciou a troca no comando da Polícia Federal no início deste mês. Segóvia tem 22 anos de carreira na PF. Foi superintendente regional do órgão no Maranhão e adido policial na África do Sul. Ele é ligado ao ex-presidente José Sarney e, segundo o jornal Folha de São Paulo, teria buscado apoio no Congresso e no governo para a nomeação.

EK/abr/ots

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