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"É o segundo golpe de Estado que enfrento", diz Dilma

31 de agosto de 2016

Em primeiro discurso após cassação, ex-presidente diz que foi alvo de um "golpe parlamentar" e que senadores "rasgaram a Constitução". "É uma fraude, contra a qual ainda vamos recorrer em todas as instâncias", afirma.

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Dilma Rousseff discursa após destituição do cargo
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa

Em seu primeiro pronunciamento após a decisão do Senado de destituí-la do cargo, a ex-presidente Dilma Rousseff declarou que a votação desta quarta-feira (31/08) consumou um "golpe parlamentar" no país e que os senadores que votaram pelo impeachment "rasgaram a Constituição Federal".

"É o segundo golpe de Estado que enfrento na vida", afirmou Dilma no Palácio da Alvorada. "O primeiro, o golpe militar, apoiado na truculência das armas, da repressão e da tortura, me atingiu quando era uma jovem militante. O segundo, o golpe parlamentar desfechado hoje por meio de uma farsa jurídica, me derruba do cargo para o qual fui eleita pelo povo."

A petista classificou sua cassação como "uma inequívoca eleição indireta" e um fato que "entra para história das grandes injustiças". "Acabam de derrubar a primeira mulher presidenta do Brasil, sem que haja qualquer justificativa constitucional para este impeachment", disse.

Dilma afirmou que não desistirá da luta e que recorrerá "em todas as instâncias possíveis". "Eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer", acrescentou.

"Esta história não acaba assim. Estou certa que a interrupção deste processo pelo golpe de Estado não é definitiva. Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano", prometeu a petista, ao discursar ao lado de vários políticos aliados.

A ex-presidente ainda convidou os brasileiros a lutarem "juntos contra o retrocesso e contra a agenda conservadora", fazendo referência ao governo de Michel Temer (PMDB), que agora assume plenamente a Presidência da República até 2018.

"Falo principalmente aos brasileiros que, durante meu governo, superaram a miséria, realizaram o sonho da casa própria, começaram a receber atendimento médico, entraram na universidade e deixaram de ser invisíveis aos olhos da nação, passando a ter direitos que sempre lhes foram negados", afirmou, pedindo para que as pessoas não sejam tomadas pela "descrença e mágoa".

Na despedida, Dilma disse que viveu a sua verdade e nunca fugiu de suas responsabilidades, frisando que sai da Presidência como entrou, "sem ter incorrido em qualquer ato ilícito, sem ter traído qualquer um dos meus compromissos". "Dei o melhor de minha capacidade", garantiu.

Por fim, dirigiu-se às mulheres brasileiras: "Peço que acreditem que vocês podem. Abrimos um caminho de mão única em direção à igualdade de gênero. Nada nos fará recuar". Dilma afirmou que "o machismo e a misoginia mostraram suas feias faces" com a decisão pelo impeachment.

EK/abr/lusa/ots