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População enfrenta crocodilos em travessia em Malei

3 de março de 2018

Cheias destruiram ligações entre Namacurra e Maganja da Costa. População tem de fazer a travessia em barcos de palha nas águas onde também se banham crocodilos e hipópotamos. Jovens "marinheiros" desvalorizam perigo.

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Brücke Malei Krokodile
Foto: DW/M. Mueia

Em Malei, na província da Zambézia, centro de Moçambique, há jovens que todos os dias enfrentam crocodilos e hipopótamos para ganhar algum dinheiro. Há dois anos que  as ligações entre Maganja da Costa e Namacura estão interrompidas, pois a estrada principal e a ponte que ligavam os dois distritos foram destruídas pelas cheias de 2015 que abalaram o Baixo Licungo e assim continuam até hoje. A alternativa é atravessar rios de grande dimensão, onde abundam hipopótamos e crocodilos.

Por isso, dezenas de jovens, residentes nas redondezas, optaram por ajudar as pessoas a chegar à outra margem em canoas feitas de palha e cascas de árvores. Luís Mutaliano é um deles. Dedicou-se a esta atividade há dois anos e garante que não há perigo. Segundo este jovem, "os crocodilos não fazem mal", podendo as pessoas atravaessar o rio "sem problema". O "marinheiro" afirma sentir-se "privilegiado por ajudar as pessoas a atravessar o rio". "Algumas não têm dinheiro, nós compreendemos e ajudamos. Quanto à ponte, não sabemos como isso aconteceu, estamos muito tristes", afirma.

Brücke Malei Krokodile
Luís Mutaliano Foto: DW/M. Mueia

Quem precisa de atravessar para a outra margem do rio tem de pagar. Os valores variam entre 10 e 35 meticais e podem chegar aos 50 (cerca de um euro), em caso de maré alta.

Demi Izaquiel é outros dos jovens que se tem aventurado nesta travessia e dá conta que o "trabalho corre bem", apesar de nem sempre existirem muitos clientes. No entanto, "quando há muito movimento conseguimos 500 ou 600 meticais. O dinheiro acaba lá em casa com despesas e caril", explica.

Zambézia: População enfrenta crocodilos e outros perigos em travessia em Malei

Habitantes sem opção

Francisco Orta, residente em Maganja da Costa, é um dos clientes habituais das canoas de palhas, mas confessa que antes de sair de casa, tem de pensar duas vezes. "A travessia do rio está muito mal, não há como [chegar ao outro lado]. Passamos daqui na terça-feira, fui transferido para Quelimane como um doente, mas passei mal e paguei muito caro. A ponte cá está mal, estamos a sofrer com o nosso dinheiro", relata.

A travessia entre Namacurra e Maganja da Costa através do Malei é bastante concorrida porque encurta a distância entre os dois sítios. E apesar dos riscos, quando comparada com a outra opçaõ, é barata. A alternativa para chegar a Maganja da Costa é passar pela cidade de Mocuba, que fica a cerca de 300 quilómetros de distância.

Segundo Filipe Damas, habitante de Malei, a situação é "complicada", passando a solução, a seu ver, pela reconstrução da estrada e da ponte."Agradecia se o governo fizesse o possível para colocar a ponte aqui, pois ajuda-nos e ajuda o público", afirma este habitante que acrescenta: "muita gente, quando vem de Maputo, não consegue chegar a Maganja da Costa porque o dinheiro da passagem não chega. Tentam vender os seus bens para atravessar [para o outro lado] e isso não ajuda. É um retrocesso para nós também".

Brücke Malei Krokodile
Filipe Damas, habitante de MaleiFoto: DW/M. Mueia

Uma opinião partilhada por Cádre Mariano, outro residente em Malei. "Estamos aflitos porque temos outras pessoas que estão na outra margem. Íamos visitar a família e agora não temos como porque a ponte está estragada. É muito difícil porque para atravessar é preciso dinheiro, há muitos riscos na travessia, alguns perdem motorizadas e bicicletas", afirma.

Reconstrução da ponte sem data à vista

O governador da Zambézia, Abdul Razak, não tem boas previsões sobre a reconstrução da infraestrutura. Segundo este responsável, em 2015, foram destruídas 70 pontes. Ainda que esteja ciente de que a falta da ponte que ligava Malei a Maganja da Costa "está a dificultar a população" , o governador explica que esta ponte "custa cerca de quatro mil milhões de meticais e estamos numa situação económica que não é fácil", dá conta.