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História

Usman dan Fodio, o fundador do Califado de Sokoto

Muhammad Al-Amin | rl
17 de janeiro de 2020

Nascido no norte da Nigéria, Usman dan Fodio ficou conhecido por ter liderado a guerra santa contra os governantes dos reinos Hauçá. Desta revolução, que começou em 1804, nasceu o Califado de Sokoto, que durou um século.

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DW African Roots | Sheikh Usman dan Fodio
Usman dan Fodio fundou o Califado de Sikoto em 1812, na Nigéria

Nascimento: Usman dan Fodio nasceu a 15 de dezembro de 1754 na aldeia de Maratta, na cidade de Gobir, onde é hoje o norte da Nigéria. Estudou Direito, Teologia e Filosofia em Agadez (atual República do Niger) sob a orientação do académico islâmico Jibril Ibn Umar. Por causa da sua autoridade e conhecimento sobre religião, passou a ser tratado respeitosamente como Sheikh Usman.

Como é que Usman dan Fodio se opôs ao sistema governante? Depois de terminar os seus estudos, Usman voltou para a cidade de Gobir, onde disseminou o islão pelo povo, que na época misturava paganismo com islamismo. A sua popularidade foi crescendo, ao ponto de o então Rei de Gobir, Rimfa, ter visto em Usman dan Fodio uma ameaça, tendo tentado assassiná-lo. Usman escapou e começou a mover-se entre as comunidades rurais, pregando o islamismo e ensinando as pessoas a ler e escrever.

Em 1803, acompanhado por centenas de seguidores, o Sheikh Usman mudou-se para uma cidade mais a oeste, Gudu, onde continuou a propagar o islamismo e a conseguir cada vez mais apoiantes. Foi durante a sua estadia em Gudu que Usman dan Fodio declarou guerra santa ("jihad") contra o Rei Yunfa de Gobir (filho e sucessor de Rimfa) e o seu povo, por considerar que o seu modo de vida não correspondia aos ensinamentos do Islão.

Usman dan Fodio, o fundador do Califado de Sokoto

Como é que Usman dan Fodio estabeleceu o Califado de Sokoto? A declaração da guerra santa espalhou-se por todos os reinos Hauçá, fazendo com que muitas pessoas se voluntariassem para se alistar no "exército" de Usman. Em 1804, Usman declarou formalmente uma guerra santa em toda a "Hauçalândia". Quatro anos depois, em 1808, Usman e os seus seguidores conquistaram Gobir, Kano, e outras cidades dos estados Hauçá. Usman dan Fodio retirou-se da batalha em 1811 e voltou a ensinar e a escrever, no entanto, os seus exércitos continuaram as conquistas até 1815.

Esta revolução religiosa uniu os estados Hauçá sob a lei islâmica, e em 1812, levou ao estabelecimento de um império chamado Califado de Sokoto, composto por vários emirados e sub-emirados, que foram construídos nos locais onde estavam antes os estados Hauçá. O Califado de Sokoto tornou-se no mais poderoso sistema económico e político da região durante o século XIX e contribuiu muito para a islamização do norte da Nigéria.

Quão importante foi o califado fundado por Usman dan Fodio? O seu império religioso islâmico incluía a maior parte do que é hoje o norte da Nigéria e partes do Níger, bem como o norte dos Camarões. A guerra santa inspirou uma série de guerras santas em toda a África Ocidental, tendo tornado, na altura, o Islão como a fé dominante entre o povo desta região do continente.

Em 1837, o Califado de Sokoto, que se estima que fosse composto por mais de 20 milhões de pessoas, tinha-se tornado no império mais populoso da África Ocidental.

DW African Roots | Sheikh Usman dan Fodio
Usman dan Fodio percorreu os meios rurais da sua cidade para disseminar o Islão e ensinar as pessoas a ler e escrever

Em entrevista à DW, o professor Muhammad Tukur Usman, chefe do departamento de História da Universidade Usmanu Danfodiyo, em Sokoto, explica quais os fatores que levaram a que Usman dan Fodio se tornasse tão popular.

"A corrupção política nos reinos Hauçá estava a generalizar-se, as injustiças levadas a cabo pelos governantes conhecidos como Sarakuna (os Emires) também estava a aumentar - a apreensão de propriedades, por exemplo, era uma destas injustiças. Tudo isto foram questões que Usman dan Fodio abordou", diz.

O professor Muhammad Tukur Usman lembra ainda que o Sheik Usman "não só chamou a atenção para a questão da educação, como também tentou mudar a sociedade para algo diferente daquela que era a sociedade liderada pelos governantes Hauçá".

A popularidade de Usman dan Fodio começou a incomodar as autoridades Hauçá tendo o Rei Yumfa de Gobir, em 1804, enviado o seu exército atrás dele. No entanto, e porque nesta altura o académico contava já com o apoio dos pastores Fulani, que estavam também descontentes com os governantes Hauçá por estes terem instituído um novo imposto sobre o gado, Usman acabou por responder ao Rei Yumfa com a declaração da "jihad".

Numa guerra santa que se espalhou por toda a região, Usman dan Fodio uniu os estados Hauçá sob a lei islâmica. Em 1812, era então estabelecido o Califado de Sokoto. Um sucesso que, explica o historiador Muhammad Bello, da Universidade Estatal de Gombe, se ficou a dever, em parte, à rede de apoio de Usman. "Porque pertencia a uma família Fulani, mesmo antes de começar a jihad, Usman dan Fodio já mantinha relações de longa data com os Fulanis de Futatoro, Futajalon e até mesmo dos Camarões, por causa da crescente migração do povo fulani pelo continente africano. O que lhe permitiu, ao mesmo tempo que se relacionava com eles, disseminar o Islão", explica o historiador, acrescentando que Usman dan Fodio "contribuiu para a expansão do Islão, quer sozinho, quer através do seu filho Muhammad Bello e do seu irmão Abdullahi dan Fodio".

Usman dan Fodio retirou-se da batalha em 1811, tendo-se dedicado ao ensino até à sua morte, que ocorreu a 20 de abril de 1817, em Sokoto.

Nos últimos anos, o legado de Usman dan Fodio tem sido contestado, pois alguns grupos armados têm-se mostrado interessados em recriar o antigo califado, mas com uma ideologia que contrasta com os ideais apresentados por Usman dan Fodio. Por exemplo, enquanto estes grupos radicais proíbem a educação moderna, Usman era conhecido por querer que todos tivessem acesso a ela.

O parecer científico sobre este artigo foi dado pelo professor Doulaye Konaté, Lily Mafela, Ph.D., e pelo professor Christopher Ogbogbo. O projeto "Raízes Africanas" é financiado pela Fundação Gerda Henkel.