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Cais do Valongo eleito Património da Humanidade pela UNESCO

Luciano Nagel (Rio de Janeiro)
12 de julho de 2017

Entre as atrações da zona portuária da cidade do Rio de Janeiro, há um lugar que merece atenção: o Cais do Valongo - o principal porto de entrada de escravos africanos no Brasil. É agora Património Mundial da Humanidade.

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Brasilien Rio  Cais do Valongo - Welterbe 2
Foto: Fernando Holanda

Localizado na região portuária da cidade do Rio de Janeiro, o sítio arqueológico Cais do Valongo foi declarado Património Mundial da Humanidade pelo Comité da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). A decisão foi tomada pelos 22 países que integraram a comissão que esteve reunida na cidade de Cracóvia, na Polónia, entre os dias 2 e 12 de julho.

O Cais do Valongo foi o principal porto de entrada de escravos africanos no Brasil. Estima-se que 1,4 milhões de homens, mulheres e crianças tenham desembarcado neste local em meados do século XIX para trabalhar, apanhar e morrer.

Em entrevista à DW África, Marcelo Brito, diretor do Departamento de Articulação e Fomento do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan-Brasil), afirma que este é um episódio que deixa uma enorme cicatriz na história da humanidade. De acordo com este responsável, o Cais do Valongo "é um sítio de memórias sensível sobre um facto ocorrido na história da humanidade” que deve ser lembrado para "evitar que volte a ocorrer”. Marcelo Brito destaca ainda o facto desta nomeação colocar o Cais do Valongo "na mesma posição” que outros patrimónios mundiais conhecidos como são Hiroshima, no Japão, e Auschwitz, na Polónia. "É algo muito especial”, acrescenta.

Brasilien Marcelo Brito, diretor do Departamento de Articulação e Fomento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Marcelo Brito, diretor do Departamento de Articulação e Fomento do Instituto do Património Histórico e Artístico NacionalFoto: Fernando Holanda

A titulação de Património Mundial da Humanidade, entregue ao Cais do Valongo, exige que as autoridades do Brasil assumam certas responsabilidades, como por exemplo, ações específicas para a gestão dos vestígios arqueológicos e paisagísticos, com o objetivo de propor aos visitantes uma visão holística sobre o cais e o que ele realmente representa para a sociedade.

Eleição desperta interesse

Brasilien Rio Cais do Valongo - Welterbe 5
Cais do Valongo, Rio de JaneiroFoto: Fernando Holanda

Janaina Nascimento assume que apenas conheceu este sítio arqueológico aquando das obras de infraestrutura para os Jogos Olímpicos em 2016. Segundo a pedagoga, o local ainda é desconhecido pelos seus conterrâneos. Na sua opinião, esta "não é uma área muito ampla, mas é muito significativo o que lá existe”.

Também nascida no Rio de Janeiro, a jornalista e professora Flavia Mello assume que não conhece o lugar mas que tenciona visitá-lo em breve. "Com certeza vou levar os meus sobrinhos e, se tiver possibilidade, vou levar os meus alunos para que todos juntos possamos reviver essa história para que ideias positivas como a não existência mais do racismo, a igualdade entre os povos [prevaleçam]. Quando começamos a incentivar o próximo, a valorizar o outro da maneira que ele é, estamos, na verdade, a implementar a paz”, afirmou.

13.07.2017 Brasil- Porto do Valongo-Património - MP3-Mono

Já a carioca Silvana Nistaldo, que trabalha há mais de 10 anos em prol da comunidade africana que vive no Rio de Janeiro, celebra o título conquistado, lembrando que Angola também está de parabéns.

"Tanto o Rio de Janeiro, neste caso o Brasil, está de parabéns por esta conquista do Cais do Valongo como Património da Humanidade, como Angola, pois o Mbanza Congo também ganhou este título. Que o mundo possa observar estes dois fatos históricos e valorizar um pouco mais esta história a custa de muito sangue, suor e dor”, afirma.

Foram várias as mensagens de parabéns que o Brasil recebeu dos integrantes do Comité da UNESCO. Finlândia, Cuba e Polónia foram alguns dos países que congratularam a conquista brasileira. Angola, por exemplo, enalteceu o "excelente trabalho” do país, acrescentando que este "é o reconhecimento internacional deste acontecimento doloroso”. "Celebramos a iniciativa. Valorar a memória histórica que nos una e não que nos divida”, afirmou a Croácia.