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Tradição do "unhago" está a desaparecer no Niassa

Manuel David (Lichinga)28 de janeiro de 2016

Cada vez menos crianças participam no "unhago", a celebração mais importante do povo Yao, na província moçambicana. Pais temem pela saúde dos filhos. Adaptar tradição a novos tempos será solução, diz académico.

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Foto: DW/M. David

Para o povo Yao, na província nortenha do Niassa, o "unhago" é de extrema importância. Este é um rito de iniciação que marca a passagem de um jovem à fase adulta e inclui, no caso dos rapazes, a circuncisão. Os rapazes são enviados para o mato, durante um mês; as meninas ficam numa casa - e são-lhes transmitidos ensinamentos sobre a vida adulta.

Mas há cada vez menos crianças a participar nos rituais. Segundo a anciã Tina Manuel, muitos pais temem que os filhos fiquem doentes após serem circuncidados no ritual, em que não têm qualquer contacto com o exterior. Preferem, por isso, que os filhos façam a circuncisão nos hospitais, perto de si e sob a observação de médicos e enfermeiros.

"As pessoas já viram que não adianta meter a criança no 'unhago', pois as crianças passam mal lá. Muitas das vezes, as crianças acabam morrendo lá", diz Tina Manuel.

Mosambik Zeremonie Unhago in Niassa
Cada vez menos crianças participam no rito de iniciação, tido como fundamental para entrar na vida adultaFoto: DW/M. David

Com cada vez menos crianças a participar, e para conseguir manter um número constante de participantes, entram no ritual crianças cada vez mais novas. E isso também não agrada aos pais, conta o ancião Mustafá Aidé: "Antigamente, deixavam a criança crescer. Até aos oitos anos, pelo menos. Depois punham-nos no 'unhago'. Mas agora com seis anos, está a ver…"

Por outro lado, o ritual representa uma "quebra" financeira para as famílias. De acordo com Mustafá Aidé, cada vez menos pessoas têm possibilidades de pagar as despesas que a tradição envolve (para alugar equipamentos de som e comprar roupas e alimentos para um mês, por exemplo).

Adaptar tradição a novos tempos

"As pessoas sabem que, se levam o filho para ritos de iniciação de forma tradicional, há vantagens e desvantagens", resume Januário Mário, licenciado em Psicologia Educacional de Infância. "Claro que é uma forma de herdar os nossos conhecimentos tradicionais e culturais. Mas tem riscos de saúde, relacionados com o material usado para a circuncisão, por exemplo."

Apesar de tudo, a tradição poderá ser mantida: "Se acontecer uma união entre a Saúde e os líderes tradicionais que praticam essa tradição, creio que se poderá manter a cultura", acredita o académico.

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