1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

“Ten Cities” une África e a Europa através da música

Daniel Pinto Lopes / Francisca Bicho24 de abril de 2013

Nairobi, a capital do Quénia, é durante este mês de abril o centro nevrálgico das partilhas e ligações musicais entre os dois continentes.

https://p.dw.com/p/18LTl
A ambiência dos concertos de BatidaFoto: Batida

A estreia do “Ten Cities" aconteceu em Luanda, entre os meses de novembro e dezembro do ano passado. Já este ano, Lagos, a capital da Nigéria, recebeu o projeto no mês de janeiro. Joanesburgo, capital da África do Sul, foi palco do projeto em fevereiro. Após uma pausa em março, o “Ten Cities” está agora alojado em Nairobi, capital do Quénia, seguindo, já no próximo mês de maio, para o Cairo, no Egipto.

Os representantes da capital portuguesa Lisboa, Batida e Octa Push, juntamente com a banda alemã Oren Gerlitz, estão já no Quénia a partilhar experiências e conhecimentos musicais com bandas locais, como, por exemplo, Just A Band e Camp Mulla, entre outras.

Pedro Coquenão é o autor do projeto Batida e tem estado concentrado na produção musical durante estes dias na capital do Quénia. O músico natural de Angola acha que, neste caso, o encontro de músicos, que junta as cidades de Lisboa e Nairobi, vai fazer com que “coisas novas possam surgir”.

“É impossível não haver inspiração que corte uma série de coisas novas que vão surgir, só pelo simples facto de nos encontrarmos numa cidade diferente e de as pessoas que estão na cidade de Nairobi receberem pessoas diferentes e de estarmos o dia inteiro sem mais nada para fazer, sem ser criar”, considera Pedro Coquenão à DW África.

Para o criador do projeto Batida, o “Ten Cities” vai “provocar algo de muito positivo” e “estimular” uma ligação que, na sua opinião, não “é muito óbvia” ou, pelo menos, “muito repetida” entre Lisboa e Nairobi.

Pedro Coquenao Batida Nairobi
O criador do projeto Batida, Pedro Coquenão, está a "sentir o pulso" da cidade de NairobiFoto: Lukas Richthammer

“Mente aberta” para fazer música

A ideia inerente ao “Ten Cities” consiste na produção de música em conjunto, conjugando as várias sonoridades e perspectivas que se tem da música, sobretudo na cena da música electrónica. Pedro Coquenão espera aprender bastante com esta experiência e diz ter “a mente aberta”.

“Pensar em levar para Nairobi algum tipo de sofisticação ou de modernismo europeu é um erro. Não posso pensar que vou representar o moderno e, neste caso, quem lá está vai representar o tradicional. Isso não existe. Aliás, uma das coisas mais interessantes que acontece nas capitais africanas é o surgir de uma nova África e de um modernismo que, se calhar, sempre lá esteve, mas nunca foi olhado da melhor forma e sempre com alguma condescendência”, assevera.

Pedro Coquenão não pretende ficar fechado num estúdio de gravação durante o tempo em que está em Nairobi. À DW África confessa querer “sentir o pulso da cidade” e “consumir” a vida e a cultura musicais da capital do Quénia.

Pedro Coquenao in Nairobi
Os músicos portugueses e quenianos partilham experiências durante a produção musical em NairobiFoto: Lukas Richthammer

“Ten Cities” é uma “boa forma de gastar dinheiro”

O resultado da parceria vai ser um concerto conjunto já este sábado, 27 de abril, na capital do Quénia, Nairobi. Os temas produzidos vão posteriormente fazer parte de uma compilação do "Ten Cities", um projecto que Pedro Coquenão diz ser “uma boa forma de gastar dinheiro”.

“Quando há órgãos públicos ou patrocínios que querem investir e não sabem como, esta é uma ótima maneira de o fazer. Podem estar a substituir, por vezes, vontades existentes, as quais não são passíveis de serem concretizadas, por falta de meios e de condições financeiras”, afiança.

Miss Karun Camp Mulla
Miss Karun, um dos elementos da banda queniana Camp Mulla, prepara-se para dar voz a uma das canções preparadas para o concerto em NairobiFoto: Lukas Richthammer

A perspetiva queniana sobre este encontro musical

Os dois continentes têm vários aspetos em comum, como, entre outros, as ligações históricas, mas tal também se verifica com a música. O líder da banda queniana Just a Band e curador do projecto Ten Cities em Nairobi, Bill “Blinky” Sellanga, assevera que este projeto é “importante” para criar uma “verdadeira troca musical” entre África e a Europa.

A maioria dos estilos musicais ocidentais tem raízes e foi buscar inspiração aos ritmos africanos e Bill Sellanga sabe o porquê de tal ter acontecido.

“É muito fácil retirar ideias a partir dos sons produzidos aqui. Por exemplo, o jazz vem dos Estados Unidos da América, mas muitas músicas daqui são parecidas com o jazz e do jazz aproximam-se ao funk e do funk aproximam-se ao soul e do soul aproximam-se ao hip hop. O hip-hop agora já está em todo o lado”, recorda.

Como um dos curadores do projecto “Ten Cities” em Nairobi, Billy explica que o “bom som” de Batida e de Octa Push foram condição necessária para fazer parte das escolhas para o Quénia, inseridas no âmbito do projeto organizado pelo Goethe-Institut.

Disco club in Nairobi, Kenia
A atmosfera contagiante dos clubes nocturnos de NairobiFoto: Lukas Richthammer

Os pressupostos do “Ten Cities”

Dez cidades, dois continentes e três disciplinas: a música, a fotografia e a literatura. Este é o conceito geral do projecto “Ten Cities”.

Nos dias que correm, “os músicos africanos têm contacto com a cultura global da pop através da Internet”, mas as partilhas entre músicos e ativistas dos dois continentes têm “pouca ou nenhuma expressão”, pode ler-se na página oficial do projeto na Internet. Neste sentido, o “Ten Cities” pretende estimular a cooperação entre artistas, não só da música, mas também do mundo da fotografia.

O projeto conta com cerca de 50 Djs, produtores e músicos de dez cidades europeias e africanas e juntos estão a ter a oportunidade de produzir música e partilhar conhecimentos sobre a cena da música eletrónica de cada uma das dez cidades participantes. Ao mesmo tempo, um projeto de pesquisa vai dar a conhecer a cultura musical e dos clubes nocturnos das dez cidades. Vinte e três investigadores estão a escrever artigos e a produzir estudos sobre estas cenas musicais desconhecidas e as suas subculturas.

Qual vai ser o resultado final? Estão a ser produzidas novas faixas musicais para serem compiladas em discos. Por outro lado, os resultados do projeto de pesquisa vão ser publicados, a fim de se ficar a conhecer melhor a história da cultura e da cena musicais das cidades que estão a acolher o projecto.

Bildergalerie Endlich Sommer
A cidade de Berlim vai ser o palco final deste projetoFoto: Getty Images

Todos os caminhos vão dar a Berlim

Para além da música, também a fotografia é um dos pilares centrais do “Ten Cities”. Dez fotógrafos estão a utilizar as objectivas para documentar a cena musical electrónica das dez cidades participantes.

Um dos pontos altos da iniciativa vai acontecer em 2014 em Berlim, na Alemanha, com concertos, exposições, debates e a revelação das várias fotografias tiradas no âmbito do “Ten Cities”.

"Ten Cities" une África e a Europa através da música