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"Solução para Moçambique passa pela partilha do poder"

Cristiane Vieira Teixeira6 de agosto de 2014

Ainda está por assinar o tão esperado acordo entre o Governo de Moçambique e o maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). A espera pode minar a confiança no país, afirma Silvério Ronguane.

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Representantes do Governo de Maputo nas negociações de pazFoto: DW/Leonel Matias

A DW África falou com o analista político moçambicano Silvério Ronguane, para perceber qual é o clima atual em Moçambique e quais são as medidas que se impõem para precaver que o novo acordo acabe por ser violado. Para que o acordo de 2014 tenha mais sucesso do que aquele de 1992, que não conseguiu pôr cobro definitivo à violência.

DW África: Como é que recebeu a notícia desse consenso final entre as partes em conflito?

Silvério Ronguane (SR): Em primeiro lugar, não tínhamos grande expetativa, porque já tudo fora dito. Já se sabia mais ou menos que é um "alegado" acordo, que até já foi violado. Porque depois desse acordo ainda foram presos dois deputados e cinco guerrilheiros da RENAMO, por posse de armas. Em Inhambane, perto de Maputo, foi vandalizada uma aldeia habitada por pessoas da RENAMO.

Mas foi sobretudo por este acordo não ser público que diminuiu, de certa forma, a expetativa e a fé que tínhamos no documento. Não se sabe muito bem o que foi acordado. Não temos outra alternativa senão acreditar no que está a ser dito.

DW África: Então o senhor não está otimista?

Silvério Ronguane
O analista Silvério Ronguane defende a necessidade de uma partilha do poder políticoFoto: privat

SR: Acredito que é mais uma declaração de boas intenções. São entendimentos mínimos para se poder realizar o ato eleitoral. Mas acredito que a maior garantia do sentido desse acordo ocorrerá depois da divulgação dos resultados eleitorais.

DW África: Como se pode evitar que sejam repetidos os erros que foram feitos após a assinatura do acordo de paz de 1992 e que levaram ao retorno do conflito em Moçambique?

SR: A única forma de evitar era os dois beligerantes agirem de boa fé e estarem interessados no retorno à normalidade. Acontece que querem isso, mas ao mesmo tempo querem continuar no poder. Por isso, essas garantias infelizmente não existem nem serão dadas. O que estamos a ver agora não é o reconhecimento de dois partidos e de dois adversários que reconhecem o valor e o mérito de um e outro. Estamos a assistir a uma espécie de trégua para que sejam realizadas as eleições para ver o que é que dá.

DW África: Como devem ser os resultados eleitorais para garantir o acordo?

SR: Se as eleições tiverem a vitória de um partido que não seja nenhum dos dois, o que me parece mais difícil, mas sobretudo se não houver uma maioria absoluta de qualquer um dos adversários, assim haverá a necessidade de forjar consensos e compromissos. É disso que precisamos em Moçambique: um equilíbrio do poder. Porque enquanto houver um mesmo partido que se mantém no Governo há 30 anos, manda, ordena, pode e faz, não acredito que esteja em condições de negociar seja o que for.

DW África: Acha que nos quase dois anos que duraram as negociações foi criada a confiança entre as duas partes?

Solução para Moçambique passa pela partilha do poder político, diz analista

SR: Foram sessenta e tal rondas de negociações. As pessoas que conduzem as negociações, à força de conviverem, muitos dias, acabam criando relações de amizade e de aproximação, que facilitam o diálogo. O problema é depois: É o grosso das pessoas que está por fora, são os recursos que precisam de ser partilhados, é perceber que integrar mil, dois mil ou cinco mil homens no exército é algo que cria resistências também no próprio exército. Há que encontrar meios para pagar as indemnizações. Parece-me que isto só pode ser conseguido através de uma partilha efetiva do poder político.

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