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Banco Mundial dá má nota a professores moçambicanos

Joana Rodrigues / Lusa13 de abril de 2015

Um inquérito do Banco Mundial sobre a educação em Moçambique indica que o país tem o índice mais baixo de competência dos professores, em comparação com outros cinco Estados africanos.

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Escola primária em Tofo, MoçambiqueFoto: Jessica Scheweleit

"Do grupo de sete países que participaram na nossa análise, Moçambique tem, ao nível da competência dos professores, o nível mais baixo", disse Ezequiel Molina, pesquisador e economista do Banco Mundial, durante a apresentação do inquérito sobre os Indicadores de Prestação de Serviços (IPS) do setor da Educação, realizada no dia 1 de abril em Maputo.

Este estudo foi conduzido entre março e junho de 2014 pelo Banco Mundial, o Consórcio de Pesquisa Económica Africana (AERC) e o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), com o objetivo de analisar a qualidade da prestação de serviços básicos nos países africanos. A pesquisa envolveu 1.006 professores e 1.731 alunos de 200 escolas moçambicanas.

Foram realizados testes de língua, de matemática e de pedagogia e a pontuação média dos professores moçambicanos foi de 29%, o pior desempenho em comparação com o Quénia, a Tanzânia, a Nigéria, o Togo e o Uganda. O sétimo país que consta do inquérito, o Senegal, não foi analisado nos testes de competência.

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Banco Mundial inquiriu centenas de professoresFoto: ullstein bild - Fotoagentur imo

No teste de língua, os docentes moçambicanos identificaram apenas dois em 20 erros; no de matemática, apenas 65% conseguiram subtrair 86-55.
O estudo conclui que os alunos moçambicanos estão em desvantagem em termos da qualidade do ensino, o que se traduz em baixos níveis de desempenho escolar. Os estudantes tiveram também a pior pontuação nos testes, com uma média de 24% contra os 53% dos outros Estados.

Educação enfrenta grandes desafios

Em declarações à DW África, Iris Uyttersprot, chefe do Programa de Educação da UNICEF Moçambique, sublinhou que o país tem tido alguns sucessos e que a educação se expandiu bastante nos últimos 10 anos. Contudo, ainda não se consegue dar resposta ao grande número de alunos que todos os anos chegam às escolas e outros problemas persistem: "É muito difícil para Moçambique manter um balanço entre a quantidade e a qualidade. Temos problemas de aprendizagem, abandono escolar, falta de professores, salas de aulas em condições precárias… Estes são os problemas do setor e os desafios são muito grandes."

Para tentar dar resposta ao elevado número de alunos, os professores são formados em apenas um ano, o que se revela muito pouco, segundo Uyttersprot.

Schulraum der Grundschule in Tofo, Mosambik
Especialistas pedem melhores condições nas escolasFoto: Jessica Scheweleit

Lucas Murrona ensina Língua Portuguesa na Escola Secundária de Laulane, em Maputo, e também considera que os professores não têm a formação que deveriam ter.

"Nos últimos anos, a qualidade do ensino diminuiu bastante. Nestas formações, sobretudo para professores de ensino primário, quem entra sem conhecimento, volta a sair sem conhecimento. Este professor é o aluno de ontem, é aquele aluno que foi passando sem competências e que depois se torna professor. Sobretudo no ensino primário, nenhum aluno é retido, mesmo aqueles que não têm conhecimentos acabam por transitar. Por isso, é normal encontrar alunos da oitava classe que, diante de um teste, não conseguem ler", afirma.

Elevado absentismo de alunos e professores

O Banco Mundial demonstra ainda que Moçambique teve um fraco desempenho em relação à presença dos professores na sala de aulas: em visitas não anunciadas, 45% estavam ausentes. Esta situação é agravada pela falta de comparência dos próprios diretores das escolas.

Segundo o documento, os alunos recebem apenas uma média de uma hora e 41 minutos de ensino diariamente, e em 190 dias de aulas recebem apenas 74.

"Uma percentagem significativa de professores moçambicanos tem desenvolvido este hábito de não estarem presentes na sala de aula. Desta forma, acabam por prejudicar, em certa medida, os alunos”, declara o professor Lucas Murrona.

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A taxa de absentismo também é alta nos estudantes: apenas 17% comparecem às aulas, situação que é mais frequente no centro e no norte do país.

"Moçambique precisa de se focar nos professores e diretores. Acho que é importante reforçar a formação, o apoio didático e as condições de vida dos docentes", afirma Iris Uyttersprot.

Professores precisam de mais apoio

O Banco Mundial considera que Moçambique tem investido na eficiência do sistema educacional, mas que é necessário dar mais apoio à classe dos professores e atualizar as competências dos pedagogos para melhorar o processo de ensino e aprendizagem: "Os professores não podem ensinar sem saber e as crianças não podem aprender sem professores competentes", afirma o investigador Ezequiel Molina.

Apesar dos problemas apresentados, o estudo considera que Moçambique está num bom caminho, destacando que, comparativamente com os outros Estados, o país dispõe de mais equipamentos. Quase 75% das escolas analisadas tinham os materiais necessários e 69% das crianças tinham livros escolares.

Das Logo und der Schriftzug der Hilfsorganisation UNICEF sind am 5. Februar 2008 an der Zentrale in Koeln zu sehen.
UNICEF pede ao Estado para investir mais na educaçãoFoto: AP

Já a UNICEF acredita que o Estado tem de investir mais para superar os desafios que o setor da educação enfrenta. "O Governo está a investir entre 15 e 20% do Orçamento do Estado, mas se Moçambique quer desenvolver uma educação de boa qualidade tem de investir entre 30 e 40%."

O Banco Mundial também sugere que Moçambique aposte em medidas para melhorar a educação, esperando que, nos próximos dois anos, o país registe progressos neste setor.