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Rio de Janeiro: História da escravatura africana no Brasil

Luciano Nagel (Rio de Janeiro)13 de junho de 2016

O Cemitério dos Pretos Novos marca uma parte importante da história do Brasil. Ossadas de escravos recém-chegados de África estão ali sepultadas, juntamente com instrumentos ligados à escravatura.

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Instituto Pesquisa e Memória Pretos NovosFoto: Luciano Nagel

Foi em janeiro de 1996 que a família Guimarães, ao fazer uma reforma num antigo casarão, localizado na rua Pedro Ernesto, número 36, no bairro Gamboa, encontrou cententas de ossos humanos.

Os restos estavam sob a terra e impressionaram a família. “A gente imaginava que os antigos proprietários da casa matavam as pessoas e as enterravam ali”, explica Maria de La Merced Guimarães, diretora do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos. “Depois vimos que eram muitas ossadas e chegámos a pensar que havia um louco que matava um bando de gente na rua e trazia para dentro de casa, como nos filmes de terror. Mas depois vimos que eram muitos ossos e seria impossível um crime perfeito assim.”

Depois do susto inicial, arqueólogos e historiadores foram chamados ao local. Após uma minuciosa pesquisa, descobriram que aquele local era um antigo cemitério de escravos africanos, chamado de Cemitério dos Pretos Novos.

“Eram escravos que vinham diretamente de África para cá. Eles não têm mistura nenhuma com ninguém que já cá estava ou que nasceu aqui. Os escravos chegavam doentes, misturados com lixo, ossos queimados. Então juntava-se tudo, para dar espaço para uma quantidade maior”, explica Penha Santos, funcionária do Insituto há 10 anos.

Milhares de corpos sepultados no Cemitério dos Pretos Novos

Há centenas de anos, milhares de negros, vindos do continente africano, foram vendidos a outros países como escravos. Cerca de 10 milhões destes africanos foram vendidos às Américas; desses, seis milhões foram para o Brasil.

Grab Friedhof Sklaven Brasilien Rio de Janeiro
As ossadas dos escravos eram queimadas, dada a quantidade de pessoas que era preciso sepultarFoto: Luciano Nagel

Merced Guimarães explica que o transporte era feito nos porões dos navios negreiros (navios encarregues de levar os escravos) e que, por isso, “a maioria das doenças eram «enfermidades» de travessia, como varíola, escorbuto, mal trato, infeção. Eles eram presos em porões e ali faziam as suas necessidades. Não havia casa de banho, nada. Quando eles desembarcavam eram pessoas sem apanhar sol há 40 dias. Eles sobrevireram porque eram muito fortes”.

De acordo com os registos encontrados no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, entre 1824 e 1830 foram sepultados na região do bairro Gamboa 6.122 pretos novos vindos, sobretudo, de Angola e Moçambique. Desses 60% eram homens, 30% mulheres e 10% jovens e crianças.

Os que conseguiam sobreviver à longa travessia entre o continente africano e as Américas eram vendidos como mercadoria para trabalhar nos engenhos de açúcar nas regiões sudeste e nordeste do Brasil.

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No Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos são feitas palestras, exposições e oficinas sobre a história da escravidão no país e sobre a cultura africana. Há também um passeio-aula em que os visitantes percorrem os locais da região que mais marcaram a vida quotidiana da população escrava.

No museu, é possível encontrar instrumentos que eram usados pelos escravos, como pontas de lança, argolas, colares, cachimbos e porcelanas, encontrados durante as escavações.