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Relações económicas entre Angola e China na mira dos críticos

João Carlos (Lisboa)9 de janeiro de 2014

O alegado uso de empresas privadas chinesas por políticos angolanos para lucrar pessoalmente com a concessão de créditos pela China para a recuperação de infraestruturas em Angola continua a gerar dúvidas e polémica.

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Vice-presidente de Angola, Manuel VicenteFoto: Getty Images

O financiamento chinês em Angola, através do chamado grupo Queensway, com sede em Hong Kong, na China, tem sido alvo de polémica e tem levantado dúvidas a nível internacional.

Estas, começaram a ser suscitadas pelo relatório de 2009, produzido por uma comissão do Congresso norte-americano, a propósito de cerca de 2,9 mil milhões dólares que a China International Fund providenciou a favor de Angola para a recuperação de infraestruturas.

Constrangimentos na execução da linha de crédito do Fundo chinês afetaram a conclusão de alguns projetos e o início de outros.

Questionado a propósito pela DW África, Miguel Santos Neves, professor de Relações Internacionais na Universidade Autónoma de Lisboa, comenta: "Há claramente uma preocupação intencional sobre a necessidade de esclarecer a natureza do fundo, pois um conjunto de projetos sofreu grandes atrasos na sua implementação em vários países."

E o professor continua : "Mas Angola também teve essa experiência e isso foi contribuindo para uma imagem menos positiva deste esforço de compromisso económico da China com vários destes Estados e com impactos negativos."

As ligações políticas

Cidade do Kilamba - Kilamba Kiaxi Übersicht
Cidade do Kilamba, em Luanda, construída por chinesesFoto: cc by sa Santa Martha

Criada em 2003, a China International Fund, que faz parte do Queensway Syndicate, entrou em Angola para participar no esforço de reconstrução de infraestruturas, pouco depois do fim da guerra civil (em 2002).

Miguel Santos Neves diz que "esse grupo foi expandindo a sua ação em termos de financiamento em várias regiões do mundo, não só em África, e com montantes bastante significativos. E quando Pequim foi confrontado com essa questão tem havido um distanciamento e não quer ser associado ao Fundo."

Entre os políticos, figura o nome de Manuel Vicente, vice-presidente de Angola, apontado pelo ativista angolano Rafael Marques como tendo alegadamente participação na empresa privada China-Sonangol International Holding Limited.

Analistas sustentam que há uma clara preocupação a nível internacional da necessidade de se esclarecer a natureza dos compromissos económicos da China em vários países.

Santos Neves também fez referência ao Fundo e à sua ligação à Sonangol quando intervia recentemente numa conferência sobre os dez anos do Fórum de Macau, a propósito das relações entre a China e Angola.

Este professor de Direito refere que aparentemente o grupo Queensway é privado, estando ligado a ele vários elementos da estrutura de segurança do Estado chinês.

Na sua análise, o docente universitário evita falar do envolvimento de figuras da elite angolana em empresas privadas chinesas.

População deve questionar transparência

Hauptsitz von Sonangol in Luanda
Edifício da Sonangol em LuandaFoto: Martin Wolter/Panoramio/Cruks

Não comenta em particular a alegada participação do vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, na empresa privada chinesa designada China-Sonangol International Holding Limited, na qual exerce a função de diretor: "Essa empresa tem competido com as campeãs chinesas de exploração petrolíferas em Angola".

Por seu lado, Rui d´Ávila Lourido, presidente do Observatório da China, criado em 2005, considera – independentemente de falhas na execução dos financiamentos e de projetos – que o investimento chinês em Angola tem como princípio ajudar a infraestruturar o país: "Se alguma coisa menos transparente existe é uma questão de justiça, o que sei é que o capital chinês é importante para o desenvolvimento de Angola e que compete ao Governo angolano exigir que seja aplicado naquilo que realmente é prioritário e que beneficie a população angolana. Ela tem de exigir também transparência."

O que está em causa é a falta de transparência no complexo negócio com a China, envolvendo dirigentes angolanos, referenciada não apenas no relatório da comissão do Congresso norte-americano.

A falta de transparência e o insucesso de alguns projetos, acrescenta Santos Neves, provocaram algum embaraço aos respetivos Estados, que têm procurado ultrapassar o problema por via político-diplomática, face aos elevados interesses mútuos em jogo.

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