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Reformas em Angola? "Tudo indica que há um clube de amigos"

11 de janeiro de 2018

Onda de exonerações do novo Presidente angolano, João Lourenço, visou agora a administração do Fundo Soberano. Analistas aplaudem, mas dizem que soluções de João Lourenço deixam a desejar.

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Presidente angolano, João LourençoFoto: Getty Images/AFP/A. Rogerio

As exonerações realizadas pelo Presidente de Angola têm sido aplaudidas em vários setores da sociedade angolana. Mas as soluções encontradas por João Lourenço não agradam a alguns analistas, que receiam que não se concretizem as reformas prometidas pelo chefe de Estado angolano.

Jorge Eurico, jornalista, lamenta a falta de sangue fresco nas nomeações do Presidente angolano. "Afinal, o que mudou? O antigo chefe de Estado exonerava de um cargo para colocar noutro, e, com João Lourenço, vemos que está a acontecer a mesma coisa", diz.

Angola José Filomeno dos Santos Archiv 2011
José Filomeno dos Santos, filho do ex-chefe de Estado angolano José Eduardo dos SantosFoto: DW/A. Cascais

Em substituição de José Filomeno dos Santos, afastado da presidência do Fundo Soberano de Angola esta quarta-feira (10.01), o chefe de Estado angolano nomeou o antigo ministro das Finanças Carlos Alberto Lopes, que ocupava até aqui o cargo de Secretário para os Assuntos Sociais do Presidente da República.

"Tudo indica que há aqui um clube de amigos, pois tudo gira em torno das mesmas pessoas", comenta o jornalista.

Lopes será coadjuvado por Laura Alcântara Monteiro, Miguel Damião Gago, Pedro Sebastião Teta e Valentina de Sousa Matias Filipe, que atuarão como administradores executivos.

Também nesta quarta-feira, dois antigos primeiros-ministros foram nomeados para o cargo de administradores não executivos da Sonangol, a petrolifera estatal: Lopo do Nascimento e Marcolino Moco, este último um forte contestatário do chefe de Estado anterior, José Eduardo do Santos.

Reforma na continuidade?

O economista Precioso Domingos concorda que faltam quadros mais jovens. O Presidente angolano está a "acertar nas exonerações", mas parece "falhar nas nomeações", afirma.

As equipas que têm sido nomeadas revelam sinais de continuidade: ao "nomear doentes já em fase terminal, vê-se mesmo uma dança de cadeiras", refere o investigador do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola. "Isso vem demonstrar que os cargos públicos em Angola são um lugar de sobrevivência."

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Apuramento de responsabilidades

Precioso Domingos espera, ainda assim, que haja mudanças na administração do Fundo Soberano, que gere ativos do Estado angolano de cerca de 5 mil milhões de dólares.

"Havia algum esforço do antigo Presidente do Conselho de Administração em apresentar lucros", refere o economista. Mas "acho que o Fundo Soberano fazia investimentos como se estes fossem fundos não transparentes, que resultassem de uma prática ilícita. Eu preferiria que o Fundo Soberano comprasse ativos em empresas credíveis, em mercados credíveis como os Estados Unidos e outros; que comprasse dívida pública ou ações em grandes empresas tecnológicas. Mas não, estava a investir na agricultura."

Recentemente, a imprensa internacional divulgou um esquema de desvio financeiro no Fundo Soberano de Angola, e a gestão de Filomeno dos Santos estava sob investigação, por decisão do Presidente João Lourenço. 

O jornalista Jorge Eurico pede que se apurem responsabilidades. "Não basta ficar apenas pelas exonerações. O povo espera mais do que isso."

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