1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

"Proibido Ouvir Isso"

Sabine Weiler8 de março de 2012

"Proibido Ouvir Isso" conta com 15 faixas que fazem uma reflexão sobre a realidade de Angola e de assuntos dogmáticos e proibidos no país africano dirigido pelo presidente José Eduardo dos Santos.

https://p.dw.com/p/14GTJ
No lancamento MCK vendeu dez mil cópias em apenas quatro horas
No lancamento MCK vendeu dez mil cópias em apenas quatro horasFoto: MCK

São dez anos de perseguições políticas, proibições, abusos, violação da liberdade de imprensa, de ação e detenções. MCK marca a sua volta à cena musical com o terceiro álbum que reflete tudo o que o rapper angolano enfrentou nos últimos anos. Tanto que o título do terceiro álbum é “Proibido Ouvir Isso”.

“Eu quis criar um conceito em torno das proibições, que tem o seu lado belo, atraente, de curiosidade. Portanto queria jogar um bocadinho com o sentido sedutor das proibições", diz MCK. "Então eu convidei a sociedade angolana para debater um conjunto de assuntos proibidos e intocados, dogmáticos dentro da nossa sociedade, tal como a política”.

Duas grandes ações marcaram a carreira do rapper. Em 26 de novembro de 2003, a guarda presidencial da república matou o jovem Arsénio Sebastião "Cherokee", de 27 anos, por cantar a música “A Téknica, as Kausas e as Konsekuências”, do primeiro CD de MCK, “Trincheira de Ideias”, lançado em 2002. “Essa foi a primeira grande proibição, primeiro grande ato de violação dos mais humildes dos direitos humanos”, diz MCK.

Já em 2006 o rapper teve a venda do seu segundo disco "Nutrição Espiritual" proibida.

Cinco anos de ausência

Mesmo depois de cinco anos sem lançar um novo trabalho, o desejo do rapper de 30 anos de ver uma Angola diferente, só aumentou. E essa também parece ser a vontade de muitos moradores do país africano. Apesar do lançamento oficial do CD ter sido em fevereiro, em Lisboa, em Portugal, MCK fez uma apresentação extraordinária em Luanda, em dezembro de 2011. Simultaneamente, outras três cidades angolanas também tiveram o lançamento: Malange, Cabinda e Benguela.

Em apenas quatro horas foram vendidas cerca de 10 mil cópias. “Para mim é gratificante. É sinônimo de uma apreciação cada vez maior da música e mais do que música. É o abraçar de um sonho de uma Angola diferente, ou abraçar de um futuro que pinta uma Angola com outros olhos, de oportunidades iguais, que reivindica corrupção, a igualdade de direitos, a violação dos direitos humanos”, relata MCK.

A força da música em Angola

Há 32 anos, Angola é governada pelo presidente José Eduardo dos Santos, do MPLA, o Movimento Popular de Libertação de Angola. Para o rapper, os regimes africanos são autoritários e têm mecanismos de ferramentas muito fortes de controle do poder. “A imprensa normalmente também é controlada pelo estado, pelo partido no poder. Então é facilmente manipulada, por mais que haja outros meios de divulgação, mas eles nunca têm alcance nacional. Já a música facilmente se propaga no interior de Angola, ou África”.

O rapper convidou a sociedade para discutir uma Angola diferente
O rapper convidou a sociedade para discutir uma Angola diferenteFoto: MCK

MCK ressalta ainda que a oralidade na África tem muito mais força expressiva do que a escrita. “Para ouvir uma música, na maior parte dos casos não pagas nada, ao passo de que para ler um livro tem que saber ler, tem que ter dinheiro para comprar o próprio livro, então a música tem uma força vinculativa.”

Novo trabalho em África e no Brasil

Em seis meses, a meta é vender 25 mil cópias do novo trabalho. O objetivo também é gravar um DVD, que na mesma linha do CD teria o título “Proibido Ver Isso”. "Estamos nesse momento a negociar com duas editoras, que solicitaram anonimato por enquanto, para edição do DVD. O Brasil tem um mercado maior para imagem e para áudio".

No segundo semestre de 2012 MCK deve lançar o DVD "Proibido Ver Isso"
No segundo semestre de 2012 MCK deve lançar o DVD "Proibido Ver Isso"Foto: MCK

O rapper também já está programando shows nos países africanos de língua portuguesa, e no Brasil onde já esteve cinco vezes.

"Sempre houve um maior intercâmbio entre Angola e Brasil, do que entre Angola e Portugal. Se reparar tanto o carnaval, o samba, o gingado, o canto do brasileiro, sentes muito do africano. Sentes na alma, no candomblé, sentes enfim, muito. E o Brasil tem o maior número de falantes da língua portuguesa, então se conseguirmos uma boa distribuição, claro que vamos atingir mais pessoas que consomem e percebem a nossa música”, completa o artista.

MCK quer que as suas músicas cheguem a todos os cantos de Angola, de África, e também a outros países, mas sabe que muitos ainda não têm acesso ao CD, por isso fez questão de divulgar todas as quinze faixas do novo álbum na internet. O rapper deseja que todos tenham a oportunidade de escutar as suas mensagens para uma nova Angola, uma Angola diferente.

Autora: Sabine Weiler
Edição: Johannes Beck

MCK - o rapper angolano às vezes também é escrito MCKappa
MCK - o rapper angolano às vezes também é escrito MCKappaFoto: MCK