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Portugal e Cabo Verde querem combate ao racismo

Lusa | tm
23 de fevereiro de 2020

Chefes de Estado de Portugal e Cabo Verde defenderam neste sábado (22.02) que o racismo deve ser combatido "todos os dias". O debate intensificou-se após caso do futebolista do FC Porto, Marega.

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Portugal | Fußball | Vitoria SC vs FC Porto Guimaraes
O MP português abriu uma investigação sobre as manifestações racistas dirigidas ao atacante malinês Moussa Marega durante partida realizada no domingo (16.02).Foto: imago images/GlobalImagens/M. Pereira

"O combate pelo respeito do outro, da diferença, pela integração, pela inclusão, pela fraternidade é um combate de todos os dias, tem de se fazer todos os dias na vida social porque é um combate cultural e cívico. Tem de se fazer com bom senso, com serenidade e evitando escaladas e reações contraproducentes", disse Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República português falava aos jornalistas, na Casa do Alentejo, em Lisboa, ao lado do homólogo cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, no final de uma conferência para assinalar os 50 anos da Associação Caboverdeana de Lisboa, durante a qual as dificuldades de integração e os obstáculos colocados pelo racismo centraram a parte dos debates.  

Na última semana, o Ministério Público de Portugal abriu uma investigação sobre as manifestações racistas dirigidas ao atacante malinês Moussa Marega, do FC Porto, durante um jogo, no domingo (16.02), realizado no estádio D. Afonso Henriques, pelo Campeonato Português. Após marcar um gol, o jogador deixou o campo por ter sido xingado de macaco e de chimpanzé por torcedores da equipe da casa.

Discriminação e intolerância

Jorge Fonseca und Marcelo Rebelo de Sousa
Jorge Fonseca e Marcelo Rebelo de Sousa (Foto de arquivo)Foto: DW/J. Carlos

Marcelo Rebelo de Sousa defendeu um combate "pela positiva" a manifestações racistas e discriminatórias. "O nosso papel é fazer pedagogia positiva, do respeito das constituições, dos mesmos valores da democracia, do estado de direito, da igualdade, da fraternidade, da não discriminação e da não intolerância", disse. 

O chefe de Estado cabo-verdiano, a quem coube encerrar a conferência, alertou na sua intervenção para o agudizar das "dificuldades de inserção social" dos cabo-verdianos, sobretudo os mais jovens, em Portugal, indicando como expressões dessas dificuldades "o desemprego, o aumento do número de descendentes de cabo-verdianos nos estabelecimentos prisionais, o insucesso e o abandono escolar e uma certa conflitualidade emergente" com as autoridades locais.   

Jorge Carlos Fonseca apontou também a "existência de manifestações de racismo e intolerância".  "Essas situações que resultam de uma multiplicidade de fatores e que são protagonizadas por setores minoritários, devem ser combatidas, com determinação, muita inteligência, serenidade e em articulação estreita com as numerosas organizações portuguesas que se posicionam claramente contra elas", defendeu.

Racismo em Portugal

Portugal | Fußball | Vitoria SC vs FC Porto Guimaraes
Moussa Marega durante a partida em que foi hostilizadoFoto: imago images/GlobalImagens/P. Correia

O debate sobre o racismo intensificou-se nos últimos tempos em Portugal após os episódios envolvendo cidadãos africanos, de que o caso do futebolista do FC Porto, Marega, é o exemplo mais recente.

O assunto não passou ao lado da conferência organizada para assinalar os 50 anos da ACV, com a deputada do Bloco de Esquerda, Beatriz Dias, a defender, durante um painel sobre integração das novas gerações de africanos, que há "manifestações de um racismo bastante enraizado e bastante naturalizado" na sociedade portuguesa.  

 A parlamentar, nascida no Senegal e de ascendência guineense, considerou que uma das maiores dificuldades nesta matéria é o "reconhecimento de que as manifestações de racismo configuram obstáculos aos direitos e à emancipação dos negros em Portugal".

"Existem manifestações de racismo e essas manifestações são uma das causas da desigualdade e da exclusão social", adiantou.

Beatriz Dias encontra muitas das origens deste racismo no processo colonial português, defendendo a necessidade combater o eurocentrismo no ensino da História desse período, bem como de promover uma "justiça histórica" para o continente, as civilizações e as culturas africanas para combater a ideia de "inferioridade biológica e cultural" que continua a existir na sociedade portuguesa.