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Nova ação de despejo em Angola

25 de novembro de 2016

É já uma triste tradição em Angola: populares são despejados das suas casas pelas autoridades e abandonados sem recursos. Aconteceu mais uma vez, no município da Baía Farta, em Benguela.

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Foto: DW/N. Sul d'Angola

Um total de 135 famílias viu-se desalojado das suas casas, no dia 15 do novembro, no sul da província de Benguela. Os despejos foram levados a cabo pelas autoridades locais sem comunicação prévia aos populares. Estes acabaram por ser transferidos para zonas montanhosas em condições indignas.

As famílias viviam no bairro atlântico, vulgo Maboque, que pertencia a uma fábrica estatal de conservas, paralisada há mais de 30 anos. O Governo Provincial de Benguela explicou que está a desalojar as famílias para dar lugar a um investimento privado. Mas a ação de despejo criou problemas graves aos habitantes.

Angola Obdachlose in Benguela
Laurinda Chivela e as suas netas Foto: DW/N. Sul d'Angola

O desespero dos desalojados

Um dos populares, Miguel Bento, disse à DW que foram transferidos para zonas montanhosas sem condições de sobrevivência: "Lá não há água, lá não há peixe. Há muita gente que vai dormir com fome. Há crianças a morrer de fome. Vou falar mesmo a verdade. A minha casa também foi partida".

Outra grande preocupação é a presença de animais venenosos, diz Miguel Bento: "Há muitos bichos, muita cobra e lacrau. Vou fazer como? A minha criança não pode dormir no chão. Estamos constantemente a matar cobras e lacraus".

Laurinda Chivela, 61 anos, que vivia no bairro da Maboque desde 1979, também lamentou a forma como foram desalojados pelas autoridades sem aviso prévio: "Estamos a sentir-nos mal porque saímos de lá. Já não sabemos o que fazer".

Ao explicar a ação de despejo a jornalistas, o governador de Benguela, Isaac dos Anjos, disse que está prevista a construção de habitações para as populações: "As famílias vão ser retiradas dali para que lhes seja conferido maior conforto de serviço e de trabalho. Vivem em acampamentos coloniais, sem confortos, sem infraestruturas de saneamento básico. Estamos a construir um empreendimento de grande valia, com casas de banho, com incorporação de redes de pescas”.

Governador promete ajuda… para o ano

Angola Obdachlose in Benguela
As 135 famílias foram realojadas na zona de Camunda, na Baía FartaFoto: DW/N. Sul d'Angola

Quanto à falta de condições em que vivem as cerca de mil pessoas realojadas, o governador disse: "Se ficarem um tempo ao relento não faz mal, vale a pena o sacrifício para nós termos uma obra a ser apresentada ainda no decorrer do próximo ano". Acrescentou que gostaria de poder avançar já com as obras em dezembro, "mas não posso. Vou fazer no próximo ano".

As declarações do governador provincial, Isaac dos Anjos, não agradaram ao secretário do partido CASA-CE em Benguela, Francisco Viena, que acusou o Governo de ser insensível e desumano: "Infelizmente, o Governo, ao invés de criar primeiro as condições, desalojaram as pessoas, estão a viver ao relento, estão a submeter as pessoas ao abandono”. Para Viena, trata-se de uma violação grave dos direitos humanos: "Eu penso que o partido do Governo acaba de revelar que já não olha para as pessoas como seres humanos”, disse Viena à DW.

M M T/ 25.11 Desalojamentos Benguela - MP3-Mono