1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Pesca de tubarão em Moçambique prejudica ecossistema

Manuel Ribeiro11 de agosto de 2015

Moçambique é um dos principais pontos de pesca de barbatanas de tubarão no mundo. A procura da barbatana é tão lucrativa que está a reduzir o número de tubarões existentes, criando desequilíbrio no ecossistema marinho.

https://p.dw.com/p/1GDWY
Hai-Finning in Mosambik Sharkproject International e.V.
Foto: Gerhard Wegner/Sharkproject

A ONG internacional Shark Savers tem exercido pressão para que se acabe com o consumo de um dos pratos mais apreciados na restuaração chinesa, a sopa de barbatana de tubarão, através de campanhas de sensibilização entre a população. Um prato de sopa desta iguaria pode custar mais de 60 euros.

Desde 2012, os governos da China e Malásia, dois dos quatro maiores consumidores deste produto, baniram de todas as cerimónias oficiais a sopa de barbatana de tubarão. “A medida contribuiu para uma diminuição na procura pelas barbatanas”, confirma o diretor regional de Hong Kong da Shark Savers, John Lu, através de um relatório divulgado pelo governo chinês.

O documento mostra que a baixa verificada na comercialização de tubarão está entre os 70% e 80%. John Lu refere que “65% da população parou de consumir barbatana de tubarão por causa da campanha com o nome “I´m finished with fins” (parei com as barbatanas).

Hai-Finning in Mosambik Sharkproject International e.V.
Pescador moçambicano com barbatanas de tubarãoFoto: Gerhard Wegner/Sharkproject

John Lu conta como é difícil diminuir o consumo desta iguaria que se tornou insustentável: “Estamos a lutar contra um prato muito típico na China, a sopa de barbatana de tubarão que tem presença obrigatória em casamentos e banquetes. "O consumo desta sopa é uma tradição chinesa milenar.

Tradicionalmente os tubarões são pescados em Taiwan, Hong Kong e China mas quando “esse recurso se esgota, os pescadores e os comerciantes vão para outros locais” refere. Segundo o ativista “os principais pontos de pesca atuais do mundo são a Malásia, a Costa Rica e África onde Moçambique está incluído” revela John Lu, diretor regional da Shark Savers ao telefone com a DW África desde Hong Kong.

Exportar barbatanas de tubarão é ilegal em Moçambique
Em Moçambique a pesca de tubarão tradicionalmente teve níveis baixos. Em geral, os tubarões eram capturados como “pesca acidental” e consumidos localmente. Mas desde alguns anos para cá começaram a surgir compradores de barbatanas vindos de outras partes, aumentando a pressão na captura do tubarão especialmente porque é dez vezes mais rentável do que qualquer outro tipo de pescado.

O professor Almeida Guissamulo, investigador da fauna marinha na Universidade Eduardo Mondlane refere que “os pescadores capturam o tubarão e conservam-no à espera que algum comerciante itinerante apareça no momento e no local adequado para o exportar clandestinamente.”

Guissamulo confirma que Moçambique “não admite a saída de barbatana de tubarão, por isso há exportação ilegal”, conclui o investigador.

[No title]

A legislação existente é muito vaga. Alice Costa, consultora ambiental da organização Traffic adianta que está a trabalhar em conjunto com o Ministério do Mar, Águas Interiores e Pescas “para desenvolver um regulamento específico para a pesca do tubarão, que vai ditar quais as espécies protegidas e qual o stock de tubarão existente em Moçambique”. A ambientalista confirma que “não há nenhuma lei que proíba a pesca do tubarão. A única espécie protegida e que está a ser regulamentada é o tubarão branco”.

Hai-Finning in Mosambik Sharkproject International e.V.
Barbatanas de tubarão confiscadasFoto: Gerhard Wegner/Sharkproject

Ecossistema em perigo

Os impactos ambientais, da pesca excessiva de tubarões, são muito negativos porque “os tubarões jogam um papel muito importante no ecossistema. São predadores de topo e eliminando-os pode -se desequilibrar completamente o ecossistema” conclui Alice Costa.
Portanto, se os pescadores procuraram ganhos rápidos com a captura de tubarões arriscam a perder a médio e longo prazo com os danos que estão a causar, hoje em dia, ao ecossistema marinho.