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O peso de África na campanha eleitoral na Alemanha

Daniel Pelz | mb
11 de setembro de 2017

Presidência do G20, Compact with Africa, Plano Marshall: na Alemanha, nunca se falou tanto de África como neste ano. Mas como será depois das eleições? Consultámos os programas eleitorais dos partidos alemães.

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Wahlplakate in Berlin
Cartazes da campanha eleitoral em BerlimFoto: picture-alliance/dpa/C. Peters

Nestas eleições, o continente africano volta a não aparecer nos cartazes de campanha espalhados pelas ruas da Alemanha. O que mais inquieta a maioria dos alemães em 2017 são temas relacionados com a política interna: justiça social, segurança nacional, salários justos. Ainda assim, as questões africanas não passam despercebidas. "Ao ler os programas partidários vai ver que, em geral, há longos parágrafos sobre África", diz Bernd Bornhorst, da Associação de ONG para Políticas de Desenvolvimento (VENRO). Face ao número crescente de refugiados africanos, as referências ao continente são muitas nos discursos políticos.  

A chanceler Angela Merkel colocou o continente africano em foco durante a presidência alemã do G20 e, de seguida, três ministérios apresentaram novos planos de desenvolvimento. De acordo com alguns críticos, o plano do Governo alemão no G20 não trouxe grandes resultados, além de parcerias de investimento com cinco países africanos. Ainda assim, a União Democrata Cristã (CDU) promete dar prosseguimento à política da sua líder, Angela Merkel. A iniciativa "Compact with Africa", criada pelo Governo alemão no âmbito do G20 para reforçar o investimento privado no continente, deverá continuar. Para a CDU, tal como o Partido Democrático Liberal (FDP), além da cooperação para o desenvolvimento típica, apostar no investimento privado é a receita para melhores condições de vida em África. Os analistas criticam: quem lucra com esses programas são principalmente as empresas alemãs. Mas a CDU mantém o seu posicionamento.         

Frankreich PK Migrationsgipfel in Paris
A chanceler alemã Angela Merkel e o Presidente francês Emmanuel Macron numa mini-cimeira em Paris sobre defesa e migração, em agosto de 2017Foto: Reuters/C. Platiau

Apesar das críticas, CDU quer investimentos privados

"O problema da pobreza não pode ser resolvido sem investimentos privados adicionais", comenta Andreas Lämmel, presidente do Grupo de Trabalho para África da bancada parlamentar da CDU. "Há anos que disponibilizamos muitos meios para a cooperação para o desenvolvimento e, mesmo assim, não se regista o progresso que imaginámos."

No que concerne à política para os refugiados, a CDU pretende estabelecer parcerias de migração com os Estados africanos, a exemplo do Acordo entre a União Europeia e a Turquia.

Mas o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) é mais cuidadoso. "Nós acreditamos que há bastante espaço para investimentos privados em África. Mas também é importante criar bastantes empregos, além de outras possibilidades para que as pessoas se possam sustentar", diz Gabriela Heinrich, porta-voz-adjunta da divisão parlamentar do SPD para Políticas de Desenvolvimento. Até agora, o partido tem apoiado a política do G20. Mas o programa eleitoral do SPD pode ser lido como uma tentativa cautelosa de distanciamento do projeto do Governo atual.

É assim que o partido pretende trabalhar: tanto com empresário , como com outros parceiros, como igrejas, sindicatos e organizações privadas, voltadas para o desenvolvimento. Prevê-se ainda um reforço da cooperação com pequenos agricultores para que as áreas rurais possam prosperar. Essa é uma estratégia mais clássica na cooperação para o desenvolvimento. Para o SPD, o polémico Acordo de Parceria Económica entre a União Europeia e os países africanos deve ser verificado de forma crítica.

O peso de África na campanha eleitoral na Alemanha

Verdes querem travar Acordo 

O partido dos Verdes promete que, se entrar no próximo Governo, renegociará o Acordo de Parceria Económica. Além disso, apela a uma política comercial agrícola e europeia mais justa. Para isso, a Alemanha precisaria, no entanto, do apoio dos outros Estados-membros da União Europeia. Segundo os Verdes, os mercados financeiros internacionais devem ser regulados mais de perto, para evitar que haja especulação com os preços dos alimentos. Também seria necessária uma reforma na Organização Mundial do Comércio. O partido recusa-se a vincular a cooperação para o desenvolvimento a acordos de retirada de refugiados cujos pedidos de asilo tenham sido rejeitados. Para os Verdes, os instrumentos para o trabalho da cooperação para o desenvolvimento devem tornar-se mais eficazes, mas o partido não diz como pretende fazê-lo. Parcerias de migração com países que não respeitam os direitos humanos seriam rejeitadas.

O programa da Esquerda é semelhante: "Ao invés de aderir à política de relações comerciais desiguais, a política externa alemã deve contribuir para a criação de uma infraestrutura social global", reivindica o partido no seu programa eleitoral. Também a política para o desenvolvimento deve ser realinhada. A exportação de matérias-primas agrícolas e produtos alimentares devem deixar de ser subsidiadas, uma vez que, de acordo com o partido, contribuem para a destruição de estruturas agrícolas em muitos países em desenvolvimento.    

Como será a política de Berlim para o continente africano?

Também o FDP e a Alternativa para Alemanha (AfD) se ocupam das questões africanas nos seus programas eleitorais. De acordo com sondagens recentes, ambos têm hipóteses de entrar no Parlamento.

Bernd Bornhorst
Bernd Bornhorst, presidente da VENROFoto: VENRO/Anastasia Esau

Para o FDP, África é um "continente de oportunidades", que deve ter um papel preponderante na política de cooperação para o desenvolvimento. Acima de tudo, o setor privado deve ser mais envolvido. Já o partido populista de direita, a AfD, teme uma iminente imigração em massa de África e promete reorientar a cooperação para o desenvolvimento de forma a acomodar ainda mais os interesses comerciais e de segurança alemães. O setor privado também deve estar mais envolvido nessas questões. Mas a AfD não detalha como. Porém, o partido apoia uma maior abertura do mercado alemão aos produtos dos países em desenvolvimento.

Apesar de todas as promessas sobre África nos programas eleitorais, Bernd Bornhorst, presidente da VENRO, acredita que, depois das eleições, as políticas para o continente vizinho perderão importância em relação ao primeiro semestre deste ano.

"Partimos do princípio que todas essas atividades estavam em curso por causa das eleições que se aproximavam. Eles precisavam de mostrar trabalho", afirma Bornhorst em entrevista à DW. "Portanto, é possível que se fale menos sobre o tema até que venha à tona numa próxima crise de refugiados".

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