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O papel político do Presidente Guebuza depois das próximas eleições em Moçambique

Nádia Issufo18 de dezembro de 2013

A Constituição moçambicana não permite que o Presidente Guebuza volte a candidatar-se ao cargo nas eleições previstas para 2014. Mas será que Guebuza vai renunciar à sua influência política quando abandonar o cargo?

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Foto: picture-alliance/dpa

A única certeza é que Armando Guebuza não será mais Presidente do país após as próximas eleições. Mas ficam por responder algumas questões. Por exemplo, Armando Guebuza e a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) são, muitas vezes, tidos por sinónimos, dado a força política e o poder que o Presidente tem no partido no poder. Guebuza preside também à FRELIMO, já que a prática deste partido tem sido associar a Presidência do país à liderança do partido.

Mas será que Armando Guebuza continuará a exercer o mesmo poder na FRELIMO mesmo não sendo Presidente do partido e do país? O analista político Silvério Ronguane não acredita nessa possibilidade: “As tradições africanas são diferentes das tradições russas ou argentinas, não há essas lealdades”. Ronguane diz ter a certeza de que “a partir do momento em que temos um novo Presidente, vamos entrar num novo ciclo”.

Delfins independentes

Já o jornalista e diretor do semanário “Magazine Independente”, Salomão Moyana, prefere deixar tudo em aberto e não descarta a possibilidade de Armando Gubuza vir a comandar os destinos do país à distância. Tudo depende de quem sucederá a Guebuza, diz Moyana, que acrescenta: “Se for o primeiro-ministro, Alberto Vaquina, o ministro da Agricultura, José Pacheco, ou o ministro da Defesa, Filipe Nyusi, Armando Guebuza o futuro Presidente de Moçambique, poderá reter o poder na presidência da FRELIMO, e o futuro Presidente da República poderá continuar a trabalhar mais ou menos na linha de governação atual do país”.

Kommunalwahl Nampula Mosambik
A FRELIMO de Guebuza foi a vencedora das eleições autárquicas de 2013Foto: DW/N. Carvalho

A FRELIMO já escolheu os seus pré-candidatos para as eleições presidenciais de 2014. Mas o candidato deverá ser nomeado na próxima reunião do comité central do partido. Todos os pré-candidatos são considerados “delfins” de Guebuza. O analista Silvério Ronguana acredita, porém, que os delfins deixam de obedecer a comandos a determinada altura. O analista político Ronguane lembra vários casos concretos em África, como a Zâmbia e o Malawi, onde os “delfins” se viraram inclusive contra o seus mentores, uma vez chegados poder: “Parece não haver laços de lealdade que possam sustentar este seguidismo ou a realização dos interesses do Presidente cessante”.

Os interesses económicos de Guebuza

Para além de Presidente de Moçambique, Guebuza destaca-se como um dos homens de negócios de maior sucesso no país. O mesmo se aplica a alguns dos seus filhos. E há quem receie em Moçambique, que o Presidente recorre ao tráfico de influência para aumentar o seu império económico. Com o fim dos seus dois mandatos, outra questão que se coloca é como vai continuar a impulsionar os seus interesses económicos, quer continue a comandar os destinos da FRELIMO e do país à distância ou não. O analista político Silvério Ronguane acredita num fim natural do império e lembra que também o anterior Presidente, Joaquim Chissano, acabou por se afastar do mundo de negócios: “Estamos a falar de pessoas de idade muito avançada, cuja vida útil e capacidade de gerir negócios é também curta. Acredito que perdendo o poder vai continuar a seguir os negócios que tem agora”.

Unruhen in Mosambik
A Presidência de Guebuza ficou manchada por novos conflitos com a RENAMOFoto: Getty Images/Afp/Ferhat Momade

Negócios de Guebuza são lícitos

Já o jornalista Salmomão Moyana vê uma continuidade natural na gestão dos negócios do Presidente, por considerá-los legais: “Penso que os interesses económicos de Armando Guebuza não estão em causa, porque não são ilícitos. Penso que os vai preservar normalmente como qualquer cidadão aqui neste país preserva os seus interesses económicos”. Seria diferente, se Guebuza tivesse “espoliado bens do Estado”, diz o analista, mas “tanto que eu saiba” o património de Guebuza dataria de antes da sua eleição à Presidência, quando era “simples deputado”. Para Moyana, o império económico de Guebuza não corre riscos, “porque não foi adquirido fraudulentamente”. Por outro lado, o jornalista Salomão Moyana admite que se a ascensão de Guebuza tiver sido à custa de tráfico de influência, então inevitavelmente sofrerá algumas limitações.

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