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"O dinheiro do BES-Angola não se evaporou"

João Carlos (Lisboa)13 de março de 2015

Paulo Morais, da associação Transparência e Integridade, reitera que existem "provas originais" sobre os beneficiários dos créditos concedidos pelo BESA. Ao Parlamento português, Morais entregou artigos de jornais.

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Foto: ISSOUF SANOGO/AFP/Getty Images

O rombo de três mil milhões de euros no Banco Espírito Santo (BES), provocado pelos empréstimos concedidos à filial da instituição bancária portuguesa em Luanda (BESA), continua a ser auditado em Lisboa numa comissão parlamentar de inquérito.

Segundo Paulo Morais, vice-presidente da Transparência e Integridade-Associação Cívica (TIAC), a transferência de capitais do BES Portugal destinava-se a créditos concedidos a figuras ligadas ao regime angolano.

"No topo dessa lista de créditos está Marta dos Santos, irmã do Presidente angolano, que terá recebido um crédito de 800 milhões de dólares tendo em vista realizar um empreendimento imobiliário em Talatona, perto de Luanda, em parceria com o construtor português José Guilherme, que, curiosamente, foi quem terá dado uma 'prenda' de 14 milhões a Ricardo Salgado, cabeça de todo este processo", diz o responsável da organização não-governamental.

"O dinheiro não se evaporou"

Paulo Morais TIAC Antikorruptionsorganisation
Paulo Morais, da associação Transparência e IntegridadeFoto: DW/Joao Carlos

Morais reitera que "o dinheiro não se evaporou e as pessoas estão identificadas". Depois de declarações recentes à Rádio Renascença, os deputados portugueses pediram-lhe que fornecesse a lista dos alegados beneficiários. Em resposta à solicitação, o vice-presidente da Transparência e Integridade enviou documentos e uma lista com nomes de 15 pessoas, baseados em artigos do jornal angolano, Folha 8, nas suas próprias declarações, bem como em programas televisivos e num artigo de opinião publicado no diário português Correio da Manhã.

Isso causou perplexidade e incómodo aos deputados, que esperavam receber documentos com base em fontes primárias. Confrontado pela DW África se tem, ou não, provas mais evidentes sobre o destino dos créditos, Paulo Morais afirma que "as provas originais existem. Mas nem a Transparência, nem nenhum jornal, nem a própria investigação têm de revelar as suas fontes de qualquer maneira."

Morais diz ainda que a comissão parlamentar de inquérito tem a "obrigação" de conhecer esses nomes. "Muitos deles até já eram públicos", sublinha. "Se havia listas que circulavam em Luanda sobre estes beneficiários, como é que o Parlamento não os conhecia?"

Sobrinho recusa revelar nomes

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A referida lista fornecida ao Parlamento inclui o nome de Álvaro Sobrinho. Já em meados de dezembro de 2014, o ex-presidente do BESA, tinha sido confrontado na Comissão Parlamentar sobre a matéria.

"Estou sujeito ao sigilo bancário. O banco não dava créditos ao regime, dava créditos a clientes. E, portanto, não vou aqui discriminar os clientes a que o banco dava créditos", referiu Sobrinho na altura.

O sucessor do ex-banqueiro, Rui Guerra, foi ouvido pela comissão em fevereiro último. Invocando igualmente o sigilo imposto pela lei angolana, Guerra admitiu aos deputados portugueses não ser possível detetar todos os créditos que beneficiaram da garantia soberana de Angola, concedida em finais de 2013.

Foi com o afastamento de Sobrinho da comissão executiva do BESA, em dezembro de 2012, que foram detetados créditos de cerca de 6 mil milhões de dólares sem que fossem identificados os destinatários ou as respetivas garantias.

Paulo Morais, da associação Transparência e Integridade, insiste que caberá ao Estado português exercer os seus direitos e confiscar o património adquirido em Portugal, ou recuperar o capital perdido em Angola através de uma manobra diplomática junto do executivo angolano, com quem Lisboa tem hoje boas relações.