O dia em que a guerra regressou à Europa
24 de fevereiro de 2022Vladimir Putin assegurou: Guerra na Europa? "É claro que não", disse o Presidente russo há pouco mais de uma semana, durante uma conferência de imprensa em Moscovo, em resposta a uma pergunta de uma jornalista da DW. Mas esta madrugada, Putin anunciou uma "operação militar especial" na Ucrânia.
O país acordou em plena guerra. Foram ouvidas explosões em várias cidades. Segundo Kiev, tropas e tanques russos entraram na Ucrânia vindos das fronteiras a norte, leste e sul do país. É uma invasão em larga escala. Moscovo reclama a destruição de dezenas de instalações militares, incluindo bases aéreas.
Na fronteira com a Ucrânia foram estacionadas, nos últimos meses, mais de 150 mil tropas russas. Putin diz que o seu objetivo é "desmilitarizar" a Ucrânia para ajudar Donetsk e Lugansk, autoproclamadas repúblicas separatistas que viram a independência reconhecida por Moscovo na segunda-feira (21.02). O Kremlin afirma que a Ucrânia violou os acordos de Minsk, que almejavam uma solução para o conflito nas regiões pró-Rússia iniciado em 2014. O Ocidente levanta a mesma acusação contra Moscovo.
O chefe de Estado russo cita ainda preocupações de segurança.
"Para nós, o prosseguimento da expansão da NATO e o início da militarização da Ucrânia é inaceitável. Não tem a ver com a NATO em si, que é apenas uma ferramenta da política externa dos EUA. O problema é que cresce a hostilidade à Rússia nos nossos territórios vizinhos, que são nossos territórios históricos", disse Putin.
A "história fictícia" de Putin
A história em comum entre os dois países é um tema caro a Putin. No ano passado, o político escreveu um ensaio intitulado "Sobre a Unidade Histórica dos Russos e dos Ucranianos", em que afirmava que "a verdadeira soberania da Ucrânia só é possível em parceria com a Rússia".
"Somos um só povo", acrescentou. Os críticos designaram o ensaio de "história fictícia da Ucrânia".
Na segunda-feira (21.02), pouco antes de reconhecer a independência dos territórios de Donetsk e Lugansk, Putin voltou a fazer uma afirmação polémica: "A Ucrânia nunca teve uma tradição como um verdadeiro Estado soberano", disse.
A invasão da Ucrânia ocorre menos de uma década depois da anexação russa da península ucraniana da Crimeia, em 2014.
Annegret Kramp-Karrenbauer, antiga ministra da Defesa alemã, do partido conservador CDU, comentou, esta quinta-feira, na rede social Twitter, que estava furiosa por o Ocidente ter dado oxigénio à política expansiva de Vladimir Putin, não só depois da guerra da Rússia na Geórgia, em 2008, como também após a anexação da Crimeia. Para Kramp-Karrenbauer, foi um "falhanço histórico".
A Rússia "escolheu o caminho da agressão contra um país soberano e independente. É uma grave violação do direito internacional e uma séria ameaça à segurança euro-atlântica", afirmou, esta quinta-feira, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg.
"A paz no continente" acabou
Stoltenberg condenou o "ato brutal" de guerra. "A paz no nosso continente foi destruída. Temos agora uma guerra na Europa numa escala e tipo que pensávamos pertencer ao passado", afirmou.
O secretário-geral marcou uma cimeira virtual de líderes da organização para sexta-feira (25.02). Segundo Stoltenberg, a NATO não vai enviar tropas para a Ucrânia, mas a aliança vai reforçar as suas forças no leste da Europa.
Ucrânia às armas
O Presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, impôs, entretanto, a lei marcial, mobilizou os reservistas e fez um apelo geral aos cidadãos para pegarem nas armas.
"Todos os que têm experiência de combate e que possam juntar-se à defesa ucraniana, reportem imediatamente ao comissariado militar", disse numa comunicação divulgada na televisão.
Zelenski pediu ainda a ajuda dos parceiros: "Se vocês, caros líderes europeus, líderes mundiais, líderes do mundo livre, não nos ajudarem, e não nos ajudarem bem, amanhã a guerra vai bater às vossas portas", alertou.
Sanções "devastadoras"
O Ocidente promete, para já, sanções sem precedentes contra a Rússia.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, diz que as sanções se destinam a "travar o crescimento económico da Rússia, subir os custos dos empréstimos, aumentar a inflação, intensificar a saída de capital e corroer gradualmente a sua base industrial".
O Presidente norte-americano, Joe Biden, também garante "sanções devastadoras". Citando preocupações europeias, Biden disse, no entanto, que o pacote não inclui um bloqueio do acesso dos bancos russos ao sistema de pagamento internacional SWIFT. A ser aplicada, esta seria possivelmente uma das medidas com mais impacto na economia russa. Mas tornaria mais difícil para os credores europeus a recuperação do dinheiro investido.
Biden sublinha que foi Putin que "escolheu esta guerra" e manifestou o apoio dos EUA a Kiev.
"Estamos do lado do corajoso povo da Ucrânia", twittou Biden.
A União Europeia garante que está preparada para receber possíveis refugiados vindos da Ucrânia. A Alemanha foi um dos países que já ofereceu ajuda.