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HistóriaÁfrica do Sul

Nelson Mandela: O sonho de uma África do Sul livre

Victoria Averill
2 de maio de 2018

Depois de 27 anos preso, Nelson Mandela sai em liberdade e torna-se a peça-chave que pôs fim ao regime de minoria branca do Apartheid. Tornou-se o primeiro Presidente negro do país e ganhou o Prémio Nobel da Paz.

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African Roots Nelson Mandela
Foto: Comic Republic

Nascimento: Em 1918 na região montanhosa de Transkei, na África do Sul. Nelson Mandela estudou Direito na Universidade Fort Hare, no Cabo Oriental. Em 1944, juntou-se ao Congresso Nacional Africano (ANC), um partido político criado para resistir às políticas racistas do governo sul-africano liderado por brancos. Com o fortalecimento do regime segregacionista do Apartheid, a luta de Mandela transforma-se numa luta duradoura. Nelson Mandela foi o primeiro Presidente da África do Sul pós-Apartheid. Reformou-se cinco anos após ter assumido este cargo. Morreu a 5 de dezembro de 2013, aos 95 anos.

Reconhecido por: Ter criado o braço armado do ANC, conhecido como Umkhonto we Sizwe ("Lança de uma Nação") para lutar contra o governo dominante e as suas políticas anti-negros. Quando foi acusado de sabotagem e conspiração para derrubar o governo em 1964, foi condenado à prisão perpétua na ilha de Robben, onde passou 27 anos. Libertado em 1990, Mandela foi eleito o primeiro Presidente negro da África do Sul, em 1994.

Como sobreviveu tanto tempo na prisão?

Nelson Mandela inspirou uma geração. Embora tenha estado preso entre quatro paredes durante tanto tempo, a sua humanidade e visão do mundo transcenderam estes muros. As décadas de prisão não o destruíram, apenas limaram o seu papel icónico na luta pela liberdade da nação. Vários hinos anti-Apartheid exigiram a libertação de Nelson Mandela, entre eles "Asimbonanga" de Johnny Clegg & Savuka.

Nelson Mandela: O sonho de uma África do Sul livre

Lembrado por:

Apesar dos anos díficeis que passou preso, Mandela nunca desistiu da sua visão de uma sociedade pacífica e mais igualitária na África do Sul, assim como a sua vontade em servir o seu país. Mandela acreditava numa nação democrática com direito de voto para todos. Liderou a África do Sul durante quatro anos, mas, ao contrário de outros presidentes africanos, soube quando era hora de se afastar, abrindo caminho à vontade democrática do povo de escolher o próximo líder do país.

Nelson Mandela recebeu, em 1993, em conjunto com o então Presidente da África do Sul, F. W. de Klerk, o Prémio Nobel da Paz. Frederik de Klerk pôs fim à prisão de Mandela e, juntos, trabalharam para libertar a África do Sul do Apartheid.

Frases famosas:

Lutei contra a supremacia branca. E lutei contra a supremacia negra. Persegui sempre o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todos pudessem viver em harmonia e tivessem as mesmas oportunidades. Este foi sempre o ideal pelo qual eu quis viver. E é um ideal pelo qual eu estou disposto a morrer.

Tudo é considerado impossível até acontecer.

A educação é a arma mais poderosa que se pode usar para mudar o mundo.

Aprendi que a coragem não é a ausência do medo, mas o triunfo sobre ele. O bravo não é aquele que não sente medo, é aquele que o vence.

Inspiração: Para os jovens sul-africanos, Mandela deixa um legado de auto-sacrifício e compromisso inabalável com a luta pelos direitos humanos. A sua visão para a África do Sul, onde negros e brancos poderiam viver de forma igual, sem marginalização, pode até ter ficado aquém das expectativas, mas a sua presidência conseguiu trazer de volta à mesa política esta ideologia, independentemente do quão irreal possa ser.

Nelson Mandela é um líderes africanos mais icónicos e adorados do continente. Passou quase três décadas na prisão por lutar contra o regime de minoria branca do Apartheid, mas regressou proclamando uma mensagem de paz, democracia e liberdade para todos. Mandela ajudou o seu país na transição do Apartheid para a democracia, tornando-se o primeiro Presidente negro da África do Sul. É lembrado pela sua humildade, compaixão e eloquência.

Depois de 27 anos atrás das grades como prisioneiro político, Nelson Mandela foi finalmente colocado em liberdade em 1990 - um momento crucial para a África do Sul que marcou o fim do sistema de segregação social Apartheid e o declínio do regime liderado pela minoria branca. Depois de ter sido colocado em liberdade, Mandela afirmou: "Estou aqui hoje perante vocês não como um profeta, mas como um humilde servo do povo. Os vossos sacrifícios incansáveis e heróicos tornaram possível que eu esteja aqui hoje. Por isso, colocarei os restantes anos da minha vida nas vossas mãos."

Bildergalerie Leben Nelson Mandela
​Nelson Mandela e F. W. de Klerk receberam o Nobel da Paz em 1993, em OsloFoto: picture-alliance/AP

Nação arco-íris

Nelson Mandela tinha um sonho para o seu país: unir e reconciliar os sul-africanos e acabar com as duras divisões étnicas da era do Apartheid. Todos os seus esforços visavam melhorar as condições de vida do país que batizou de "nação arco-íris". Nelson Mandela sonhava com um estado que garantisse direitos humanos para todos, independentemente da cor de pele, educação gratuita e melhores condições de vida para os pobres.

Nas primeiras eleições abertas aos negros, em 1994, o Congresso Nacional Africano (ANC) de Mandela conseguiu a vitória, fazendo de Madiba, como lhe chamavam respeitosamente os seus compatriotas, o primeiro presidente negro da África do Sul.

Para Sello Hatang, diretor executivo da Fundação Nelson Mandela da África do Sul, o Presidente é ainda hoje um exemplo no qual o país deve colocar os olhos. "Embora tenha estado preso, a sua visão do mundo foi além das quatro paredes onde se encontrava, o que é uma lição para todos nós que, de uma forma ou de outra, vivemos também presos: na prisão da pobreza, na prisão da desigualdade", alertou.

Nelson Mandela tornou-se um ícone global e a África do Sul um país cheio de esperança para o futuro. E soube também quando era hora de se afastar do poder tendo cumprido apenas um mandato como Presidente, ao contrário de muitos outros chefes de estado africanos.

African Roots Nelson Mandela
Foto: Comic Republic

"Sonho que não é real”

Mandela morreu em dezembro de 2013. Atualmente, e passados pouco mais de quatro anos, os jovens sul-africanos questionam o sonho que Mandela idealizou para o país. Em entrevista à DW, Ratidzo Mokombe, estudante universitária de 23 anos, afirma que "ele enganou os sul-africanos com um sonho que não era realista". A jovem critica as suas "ideologias", afirmando que ainda que "brilhantes" não eram "exequíveis". Por isso conclui, Mandela "enganou a África do Sul porque lhe vendeu um sonho. E aqui estamos hoje a lutar ainda pelas mesmas coisas pelas quais lutámos naquela época."

Grande parte da população negra da África do Sul continua a ser pobre e desempregada. Além disso, a discrepância nas várias camadas da sociedade ao nível dos rendimentos tem estado a aumentar depois do Apartheid.

Ainda assim, e mesmo que o futuro que Nelson Mandela sonhou para o país tenha falhado, Sello Hatang, da Fundação Nelson Mandela, acredita que ficaram os seus princípios. O diretor executivo da Fundação entende que há uma pergunta que todos os sul-africanos devem fazer a si próprios. "Será que Madiba se orgulharia de como estou a usar o seu sonho? Porque Madiba era um sonhador, mas um sonhador com provas dadas. Então, quanto sonhador és tu? Deves perguntar a ti próprio: Estou a fazer tudo o que posso para acabar com a deteriorização e com as coisas más que estão a acontecer no país?", alerta.

Nelson Mandela pode ter morrido, mas a sua memória continua viva na África do Sul. E do mesmo modo que uma nova elite política deixou para trás o caminho que o seu icónico líder havia começado a construir, a chamada geração livre, nascida após a libertação de Mandela, deu início a uma nova batalha. Uma luta pela participação política, pela igualdade de direitos na educação e no mercado de trabalho. São os mesmos que querem tornar real o sonho da "nação arco-íris" de Mandela.

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