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Políticos nigerinos face à explosão demográfica no país

Katrin Gänsler / António Cascais1 de março de 2016

Níger, o país com o maior crescimento demográfico, prepara-se para a segunda volta da eleição presidencial. Há 50 anos o país era habitado por pouco mais de 3 milhões de pessoas. Hoje já são mais de 30 milhões.

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Foto: Getty Images/AFP/O. Omirin

No próximo dia 20 de março o presidente cessante Mahamadou Issoufou e o principal político da oposição e ex-primeiro ministro Hama Amadou, vão disputar a segunda volta da eleição presidencial no Níger, um pleito já considerado inédito e atípico com dois homens que já foram aliados políticos em 2011, mas principalmente porque o segundo candidato se encontra preso no quadro de um controverso caso de tráfico de crianças. Hama Amadou foi forçado a fazer a sua campanha para a eleição a partir da sua prisão de Filingué, situada 180 km a norte da capital.

Os dois campos defendem melhores condições de vida para os cerca de 30 milhões de habitantes do país e muitos se interrogam como é que o país vai reagir à explosão demográfica que o atinge, e se o presidente que sair desse pleito terá um programa eficiente no sentido de criar condições no país para dar sustento e emprego a cada vez maior número de cidadãos.

Pílula anticoncecional não gera consenso na sociedade

No hospital de Banifandou, nos arredores de Niamey, Mariama Souley, mãe de um bebé de 9 meses, foi levantar a pílula anticoncepcional. Segundo ela, "a última caixa de pílulas que me deram aqui deu para três meses." Agora precisa de novos comprimidos: "Vim cá para receber uma nova caixa!"A pílula anticoncepcional não gera consenso na sociedade do Níger. Muitas mulheres, e sobretudo muitos homens, não querem que as mulheres a tomem. Mas este não é o caso de Mariama Souley, de 35 anos de idade. O seu marido sabe que ela usa o contracetivo e não tem nada contra, como deixa entender. “ Claro que falámos sobre o assunto. E ele aceitou que fosse regularmente ao hospital para receber a pílula. Na realidade, até foi o meu marido quem decidiu que não deveríamos ter mais filhos", diz Miriam Souley.

Issaka Maga Hamidou
Issaka Maga Hamidou, sociólogo nigerinoFoto: DW/K. Gänsler

O casal Souley gosta muito de crianças, mas não dispõe de meios financeiros para sustentar mais filhos. Estes, dão muitas despesas, recorda Mariama: “precisam de ser alimentados e vestidos. E, claro, há despesas com a saúde e a educação no ensino básico e secundário, para não falar da universidade, caso o descendente opte por tirar um curso superior”.

Um aumento populacional de 3,9% anualmente
O sociólogo Issaka Maga Hamidou, da universidade Abdou Moumouni em Niamey, louva a mentalidade do casal Souley. Muitos casais do Níger não pensam de uma forma aberta e responsável. Pelo contrário: agem segundo a premissa: Quanto mais filhos melhor! E isso contribui para o crescimento demográfico do seu país: "O número de habitantes sobe em 3,9 por cento por ano. Isso quer dizer que, no Níger, cada mulher tem, em média, 7,6 crianças. Um récord mundial!"

Südniger junges Mädchen mit ihrer Mutter
Lema de muitas famílias no Níger: "Quanto mais filhos melhor!"Foto: DW/N. Conrad

O Estado situado na região do sahel tem notórias dificuldades em criar empregos para os pais e para os futuros adultos. No Níger sente-se falta de tudo: o país precisa de mais hospitais, mais escolas e mais casas. Mas a nível político pouco ou nada se tem feito para atenuar a situação.

Nesta campanha para as eleições de 20 de março também não se fala muito sobre a questão do crescimento demográfico, como afirma o sociólogo Issaka Maga Hamidou.

"O Níger é um país muito pobre, há mesmo quem afirme que o Níger é o país mais pobre do mundo. O crescimento económico é relativamente baixo, e isso torna difícil aos políticos apresentar medidas suscetíveis de estancar a explosão demográfica."

Desemprego atinge principalmente os jovens

A falta de dinheiro constitui um entrave aos investimentos e à criação de postos de trabalho. O desemprego alastra, sobretudo entre os jovens. E os supostos líderes religiosos também não contribuem para que as famílias deixem de ter muitos filhos. 80 por cento da população pertencem à comunidade muçulmana.Mahazou Mahaman, da organização 'Animas-Sutura', uma ONG que se ocupa de questões ligadas à saude e planeamento familiar, salienta que “muitos líderes religiosos não encaram o planeamento familiar com bons olhos. Dizem que restringir o número de filhos serve os interesses do ocidente em restringir o desenvolvimento do Níger. Não é fácil lidar com o tema. Por isso preferimos, no dia a dia, apresentar o problema de outra forma, nomeadamente, levantando a seguinte questão: como melhorar a saúde das mães e das crianças no país?"

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Mahazou Mahaman
Mahazou Mahaman, da ONG "Animas-Sutura"Foto: DW/K. Gänsler
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