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Mukhero, a arte do contrabando em Moçambique

8 de abril de 2011

Muitas mulheres moçambicanas ainda recorrem ao contrabando de produtos dos estados vizinhos para sustentarem as famílias. Comércio informal transfronteiriço – assim se designa o seu trabalho – ou simplesmente mukhero.

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Só com a carne que Emília traz da Suazilândia fatura por mês até 2.000 meticais, 46 euros, o suficiente para pagar despesas como água e luz
Só com a carne que Emília traz da Suazilândia, fatura por mês até 2.000 meticais, 46 euros, o suficiente para pagar despesas como água e luzFoto: Marta Barroso

Emília vai hoje à Suazilândia buscar carne de porco. Acácio – o amigo – também vai e Janine – a vizinha que aproveita a boleia para se iniciar no negócio da carne.

Na viagem de Maputo até à fronteira de Namaacha, e para lá da linha que separa Moçambique da Suazilândia, os três encontram ainda Humberto, o homem que lhes troca meticais moçambicanos por rands sul-africanos, que, como moeda forte na região, são necessários para as compras; Sandra, a mukherista profissional; e Raimundo, que diz ser bandido há já dez anos. É ele quem carrega a carne pela fronteira e paga aos funcionários da alfândega para que estes fechem os olhos ao que por lá se passa.

É no calor da mala do carro, entre ferramentas, a garrafa de óleo e o pneu sobresselente que os 40kg de carne de Emília viajam até Maputo
É no calor da mala do carro, entre ferramentas, a garrafa de óleo e o pneu sobresselente, que os 40kg de carne de Emília viajam até MaputoFoto: Marta Barroso

O contrabando de bens dos países da região terá começado em força no período que se seguiu à independência de Moçambique, em 1975, e sobretudo durante a guerra civil, a partir de 1976. Como nessa altura a população que vivia junto da fronteira não podia deslocar-se até Maputo para se abastecer devido aos riscos que correria, importava bens alimentares da Suazilândia. Mais tarde, juntaram-se mulheres que chegavam da capital, Maputo. Eram viúvas, divorciadas ou mães solteiras e até mesmo mulheres casadas.

Ainda hoje, são estas mulheres e outras mais jovens nas mesmas condições que encontram no comércio informal transfronteiriço, o mukhero, uma alternativa para começar a sua vida ou garantir o aumento de renda das famílias. Tudo com a ajuda de homens como Raimundo.

Raimundo nunca foi preso, nunca viu alfandegário que não o deixasse mukherar para lá e para cá
Raimundo nunca foi preso, nunca viu alfandegário que não o deixasse mukherar para lá e para cáFoto: Marta Barroso

Marta Barroso numa viagem de Maputo até à Suazilândia.