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Moçambique terá um dos maiores projetos de liquefação de gás do mundo

10 de janeiro de 2013

Em Moçambique vai acontecer o maior investimento de sempre naquele país. Trata-se da construção de dez fábricas de gás natural liquefeito, um megaprojeto apenas superado por outro semelhante no Qatar.

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Navio-plataforma Saipem 10K da ENI que faz pesquisa na Bacia do Rovuma em Cabo Delgado, Moçambique
Navio-plataforma Saipem 10K da ENI que faz pesquisa na Bacia do Rovuma em Cabo Delgado, MoçambiqueFoto: ENI East

O investimento a ser feito pelas companhias de energia norte-americana, Anadarko Petroleum, e a italiana, ENI, está avaliado em 50 mil milhões de dólares. A DW África entrevistou o economista moçambicano Hélder Chambisse sobre o impacto desse grande investimento para Moçambique:

DW África: Quais são os impactos deste investimento?

Hélder Chambisse (HC): Têm um efeito astronómico, naturalmente. Não me recordo de ter havido um investimento singular, de somente duas empresas, de tamanha envergadura. O impacto é naturalmente positivo, não só pelo efeito que irá criar em termos de vinda de investidores estrangeiros para o país, mas também pela injeção de recursos financeiros para Moçambique, a criação de infraestruturas necessárias para a exploração do gás e a criação de emprego, embora não de forma direta. Certamente que virá mão de obra qualificada que Moçambique ainda não tem, mas o efeito multiplicador que um investimento desta envergadura cria para o país é fenomenal. Dá agora para irmos formar mão de obra porque ela pode encontrar emprego aqui. De uma maneira geral, o investimento vai mudar o país completamente.

DW África: Mas será que desta vez a população vai mesmo beneficiar? É que não foi esse o caso de grandes investimentos no passado. Será diferente desta vez?

HC: Acho que é um processo. A Mozal (fundição de alumínio) foi o primeiro e depois a Sasol (petrolífera sul-africana). Comutando e comparando com outros lugares da África Austral e África, eventualmente Moçambique não terá beneficiado tanto, principalmente na criação de emprego, na promoção de pequenas e médias empresas moçambicanas à volta dos megaprojetos, e na geração de recursos financeiros para o Estado através da coleta de impostos. Mas é um processo e isso inclui aprendizagem.

O Governo e todas as estruturas envolvidas, incluindo o setor privado, e isso é fundamental, têm de ganhar consciência e experiência e encontrar uma forma de beneficiar destes investimentos. Com os investimentos de Tete, principalmente, em Nacala, e Beira, por uma necessidade de escoamento do carvão de Tete, creio que um efeito positivo está evidente. Acredito que neste caso é diferente, que haverá maior efeito positivo para o Estado, para o setor privado e para o país em geral.

DW África: E a seu ver,há o perigo deste investimento de 50 mil milhões de dólares levar a uma apreciação do metical?

HC: Sim, e isso já está a acontecer. O metical está forte, em 2012 a depreciação foi negligível. Neste momento, a apreciação do metical ainda não corresponde a uma capacidade de geração de divisas pela via da exportação de produtos tradicionais. O país continua um importador líquido. Mas digamos que é um desafio que temos agora, para além dos outros, de manter o metical, ou manter as condições para promover as exportações e manter a competitividade da economia nacional num cenário completamente diferente. Mas é um desafio que vale a pena ter.

DW África: E voltando ao nosso tema incial, qual acha que será o efeito imediato para a economia moçambicana?

HC: O que estamos a testemunhar neste momento em Tete, Nacala e Beira é a criação de mais empresas moçambicanas. Então, o que prevejo, é que no caso do gás no norte, é a ligação que se cria à volta dos grandes projetos. O número de empresas moçambicanas que se irá criar à volta desses megaprojetos será muito maior, se comparado com o que está a acontecer em Tete e Nacala até agora.

Autora: Cristina Krippahl
Edição: Nádia Issufo / António Rocha

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