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Militares do Egito pedem desculpas a mulheres

21 de dezembro de 2011

Para as mulheres, reprimidas violentamente durante protestos no Cairo, o lamento expresso pelo Conselho Militar é pouco.

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Cerca de duas mil mulheres manifestaram-se no Cairo para denunciar violência de militaresFoto: dapd

O Conselho Supremo das Forças Armadas, criticado pela violência cometida contra manifestantes, em particular contra as mulheres, apresentou um pedido de desculpas. Em comunicado, divulgado esta terça-feira (20.12) pela rede social Facebook na internet, os militares referem que “o Conselho Supremo das Forças Armadas manifesta às mulheres do Egito profundo pesar pelos maus-tratos que ocorreram durante confrontos recentes em manifestações em frente ao Parlamento e à sede do Governo".

Por outro lado, os militares declararam que respeitam plenamente as mulheres e os seus direitos à manifestação e ao envolvimento positivo na vida política do país. O Conselho Militar que governa o Egito desde a queda do ex-presidente Hosni Mubarak, em fevereiro, assegurou ainda que vai tomar “todas as medidas legais para que os responsáveis dessas violências sejam punidos”.

Pedir desculpas não chega

Estas declarações surgem depois de ter sido divulgado na internet um vídeo que mostra uma mulher parcialmente despida a ser espancada e arrastada por militares durante uma manifestação; e numa altura em que cerca de duas mil mulheres se manifestaram na capital egípcia, Cairo, para denunciar esses atos de violência.

Uma das manifestantes explicou aos jornalistas que “estamos aqui por causa deste vídeo que foi difundido no mundo inteiro. Ele prova que o exército não tem qualquer escrúpulo em espancar as mulheres e jovens raparigas e rasgar-lhes os seus vestidos. O exército não tem nenhum problema em cometer esses atos enquanto permanecer no poder e conseguir dissimular os seus crimes”.

O pedido de desculpas por parte dos militares não diminuiu contudo as críticas dos egípcios, como se pode constatar com alguns depoimentos recolhidos nas ruas do Cairo: “Pedir desculpas não é suficiente pelo que aconteceu. Nunca tinha acontecido no Egito que as mulheres fossem atacadas de forma tão brutal. Quero que finalmente um governo civil assuma o poder”, afirmou uma das manifestantes. Uma outra mulher estava de acordo: “A honra da mulher foi conspurcada e por isso afirmo que um pedido de desculpas é o que as mulheres menos precisam.”

Violência dos militares mata, pelo menos, 14 pessoas

Os confrontos entre os militares e manifestantes no Cairo fizeram desde sexta-feira (16.12), pelo menos, 14 mortos, segundo o chefe de medicina legal egípcia, dos quais nove foram atingidos por balas. O Conselho Supremo das Forças Armadas continuam a afirmar contudo que as forças de segurança não utilizaram balas reais.

Contam-se ainda, pelo menos, 600 pessoas feridas nas manifestações, entre elas muitas mulheres. Ghada Kamal, uma farmacêutica de 28 anos, foi brutalmente espancada e contou o que aconteceu: “Queria salvar uma menina dos soldado. Em seguida, eles bateram-me com paus na cabeça até que fiquei toda ensanguentada. Puxaram-me pelos cabelos, chutaram-me no peito com as suas botas e depois levaram-me para o edifício do Parlamento onde um dos oficiais me disse: «Hoje vais ser minha, vou fazer uma festa contigo e mostrar-te que sou um homem. Felizmente apareceu na altura um médico porque senão o soldado iria matar-me»”.

Arranca segunda fase das legislativas

É neste contexto de instabilidade e revolta que começou na manhã desta quarta-feira (21.12) o segundo turno da segunda fase de votação para as legislativas. Esta fase que diz respeito a um terço das províncias do Egito, nomeadamente Giyeh, Suez e Assuão. A votação terá uma duração de dois dias.

A corrida neste escrutínio uninominal representa um duelo entre a Irmandade Muçulmana e os salafistas. Na primeira volta desta segunda fase, há uma semana (14.12 e 15.12), a taxa de participação atingiu os 67%.

Com esta votação fica encerrada a segunda de três fases em que está dividida a eleição para a Assembleia do Povo (Câmara dos Deputados), que deverá terminar com a terceira fase, em janeiro.

O mesmo processo será repetido para a eleição da Chura (Câmara alta de consulta), que deverá terminar em março. Já a realização das eleições presidenciais está prevista para finais de junho.

Observadores notam que o escrutínio - o primeiro depois da queda do ex-presidente Hosni Mubarak em fevereiro - ilustra o fosso crescente que existe entre egípcios que o encaram como um primeiro passo para a democracia e aqueles que consideram que o novo parlamento, cujo papel não é claro, permitirá ao exército manter o poder.

Gewalt und Ausschreitungen in Ägypten
Segunda fase de eleições legislativas acontece em clima de instabilidadeFoto: dapd
Ägypten Frauen Demonstration Dezember 2011
Manifestantes exibem imagens de violênciaFoto: dapd

Autor: António Rocha
Edição: Glória Sousa / Renate Krieger