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Milagre económico com crise na Etiópia

Jan-Philipp Wilhelm
6 de janeiro de 2018

Há mais de dois anos que a Etiópia é pontualmente acometida por violência. Os conflitos giram em torno do poder, da participação e da autonomia regional. A situação ameaça agravar-se.

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Äthiopien Protesten der Oromo in Bishoftu
Foto: REUTERS/File Photo/T. Negeri

Na Etiópia há etnias que se sentem marginalizadas pelo Governo central. A situação está na origem de uma violência crescente há já dois anos. Nas regiões de Oromia e Amhara morreram várias dezenas de pessoas em protestos e confrontos com as forças de segurança nas semanas que precederam o Natal.

Até há poucos dias, o Governo mostrou-se intransigente, recusando o diálogo e optando por uma política de repressão. Um primeiro passo na direção da reconciliação foi o anúncio feito pelo primeiro-ministro Hailemariam Desalegn, no passado dia 3 de janeiro, da libertação de todos os prisioneiros políticos. Resta saber se a iniciativa inesperada do Governo bastará para acalmar os ânimos.

Äthiopien - Zerstörte Häuser und deren ehemalige Bewohner in Addis Abeba
Antigos habitantes de Adis Abeba viram as suas casas destruídas para dar mais lugar à capitalFoto: DW/Y. Egziabare

Observadores relatam casos de violência arbitrária por parte da polícia. As autoridades censuram blogues críticos e por vezes bloqueiam a internet dias a fio. Há interferências regulares em emissoras independentes, incluindo o programa em amárico da Deutsche Welle. 

Federalismo étnico

Os problemas datam de 1991 quando uma coligação de grupos rebeldes – a EPRDF - liderada pela Frente de Libertação dos Povos Tigrínios (TPLF) derrubou o regime comunista e pôs cobro a uma guerra civil de 17 anos. Para evitar conflitos internos ficou acordado que os rebeldes formariam um governo de unidade nacional com partidos que representassem os principais grupos étnicos do país. Devia ainda ser criado um Estado federado baseado em nove regiões etnicamente definidas. Desse modo contava-se pôr termo ao centralismo histórico na Etiópia e garantir mais autodeterminação às diversas etnias.

Rapidamente se tornou claro que a TPLF de Meles Zenawi não tencionava partilhar o poder com os outros grupos. O jornalista Martin Plaut considera ser esta a raiz dos conflitos: "Apesar de ser um homem brilhante, Zenawi, nunca permitiu a democracia ou um verdadeiro federalismo. A intenção foi sempre o controlo total do país pelos tigrínios. O conflito tornou-se inevitável."  

Etiópia conflitos - MP3-Mono

Um milagre económico só para alguns

Observadores consideram que os confrontos mortais entre oromos e somalis etíopes nas últimas semanas são o prenúncio de uma guerra civil de contornos étnicos. As tensões entre as etnias aumentaram consideravelmente. Mas as suas origens são complexas. O rápido crescimento económico dos últimos anos é uma das causas da desestabilização. Por exemplo, a expropriação violenta de terras de muitos oromo na sequência do crescimento da capital Adis Abeba é uma fonte permanente de distúrbios.

Além disso apenas uma pequena elite etíope tem vindo a acumular riquezas nos últimos anos. O chamado milagre económico passa ao lado da maioria dos etíopes. O país continua a ser um dos mais pobres do mundo. Cerca de seis dos cerca de 100 milhões de habitantes dependem de ajuda alimentar externa.

O crescimento económico acabou por criar uma classe média incipiente, mas isso só serve para agravar a situação: os progressos na formação escolar e profissional aumentam também o desejo de participação política, impossibilitada pelo sistema autoritário. Entretanto as regiões lutam por maior autonomia. Dentro do regime central em Adis Abeba enfrentam-se reformadores e defensores do status quo. O exército e as polícias regionais interferem cada vez mais em decisões políticas. Os conflitos acumulam-se.

Äthiopien Flüchtlinge vor ethnischer Gewalt
O número de refugiados da violência cresceFoto: DW/J. Jeffrey

Salvar a integridade do Estado

A questão que se coloca é se a tensão crescente pode pôr em risco a integridade do Estado. O jornalista e analista Martin Plaut diz que esse não é um desenvolvimento inevitável: "A maneira de solucionar os problemas seria criar uma federação que respeitasse a auto determinação". 

Plaut acrescenta que a TPLF teria que permitir um sistema multipartidário digno do nome. Também o político da oposição Beyene Petros não acredita que o Estado etíope corra o risco de desintegrar, porque o povo deseja a unidade nacional. Mas avisa: "O que precisamos agora é uma conferência nacional que inclua todos os partidos políticos que desejam uma solução pacífica dos problemas, juntamente com outros profissionais e movimentos da sociedade civil. Essa conferência devia decidir que género de governo devia substituir, por vias democráticas, o actual regime etíope".