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MigraçãoMarrocos

Marrocos: Um íman para mulheres migrantes?

Davide Lemmi | Marco Simoncelli | Oumar Sall | Marco Valenza
2 de outubro de 2023

Nas últimas duas décadas, Marrocos passou de país de trânsito a país de destino de muitos migrantes da África subsaariana – quase metade dos quais são mulheres.

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Marokko | senegalesische Migranten in Casablanca
Foto: Marco Simoncelli/DW

A partir da sua casa em Hay Charaf, um bairro a norte de Marraquexe, em Marrocos, Oumou Sall cuida do seu bebé recém-nascido. A senegalesa de 27 anos mudou-se para Marrocos em 2017 para concluir o mestrado em administração de empresas. Atualmente está de licença maternidade, mas em breve voltará a trabalhar no call center.

Esta indústria cresceu bastante no país nos últimos 15 anos, o que facilitou a muitos migrantes que falam francês encontrar trabalho. Oumou, que é originária de Dakar, disse que ser contratado em call centers é bastante simples, mesmo sem um diploma.

O seu salário fixo é de 2.500 dirhams (322 euros) por mês, para além de vários bónus baseados no desempenho – o suficiente para enviar remessas para a sua família no Senegal.

"Na verdade, trabalhamos por recompensas", explica Oumou. "Portanto, se conseguirmos e obtivermos bons resultados, poderemos enviar dinheiro às nossas famílias e poupar dinheiro".

Marokko I Herausforderungen und Hoffnungen der Subsahara-Staaten
Um call center em MarraquexeFoto: Marco Simoncelli/DW

Um novo destino além da Europa?

Oumou Sall conta que a sua integração foi rápida, devido à boa relação profissional com a chefia e colegas compatriotas.

"Foi fácil. Encontrei rapidamente outros subsaarianos na empresa que me ajudaram e as relações com os chefes eram boas. Por isso, não tive problemas de integração", explica.

A história de Oumou é semelhante à de muitas outras mulheres de países africanos que emigram para este país do Norte de África. De acordo com as últimas estatísticas oficiais divulgadas pelas Nações Unidas em 2020, 48,5% dos imigrantes em Marrocos são mulheres.

As mudanças no ambiente de trabalho em Marrocos significam que o país deixou de ser apenas uma escala na rota da migração para a Europa, mas um possível destino para muitas mulheres em busca de emprego para conseguirem sustentar-se a si e às suas famílias.

Marokko | senegalesische Migranten in Casablanca
Khady Wade Baldé num dos seus salões, em AgadirFoto: Marco Simoncelli/DW

Mudar a narrativa sobre a migração

A cerca de 350 quilómetros a sul de Marraquexe, em Agadir, a empreeendedora senegalesa Khady Wade Balde dá as boas-vindas aos clientes num dos seus salões de beleza.

Enquanto observa a sua equipa de cerca de dez funcionários, recorda a sua viagem solitária para Marrocos, em 2008. Então com 23 anos, decidiu apostar na formação, melhorou as suas técnicas de cabeleireira e, passados alguns anos de muito trabalho, abriu o seu primeiro salão.

"Na altura, as mulheres da África Subsaariana conseguiam apenas trabalho como babysitters", diz à DW. 

Hoje, Khady é uma cabeleireira de sucesso. Está satisfeita com aquilo que conseguiu alcançar como migrante no país, mas diz estar consciente das dificuldades que as mulheres subsaarianas passam em Marrocos.

Marokko | senegalesische Migranten in Casablanca
Migrantes senegalses em CasablamcaFoto: Marco Simoncelli/DW

Ainda ilegais

Apesar das histórias de sucesso como a de Khady, ainda há muitas mulheres no limbo. Os relatórios indicam que existem entre 70.000 e 200.000 migrantes da África subsaariana no país - muitos sem documentos de cidadania válidos.

E as mulheres sem documentos estão particularmente vulneráveis a diversas formas de exploração e marginalização, especialmente nos setores da agricultura e nos serviços domésticos.

Perante o crescente número de migrantes, as autoridades de Rabat viram-se forçadas a reavaliar as suas políticas de integração. Duas campanhas de regularização em 2014 e 2017 permitiram a 50.000 migrantes - muitos da África Subsaariana - obter vistos de residência.

Aïda Kheireddine, investigadora e especialista em género e migração em Marrocos, explica que estas campanhas foram inicialmente benéficas para a comunidade migrante.

"Foi nessa altura que assistimos, pela primeira vez na história de Marrocos, a uma operação de regularização em massa de migrantes, e foi dada especial atenção às mulheres. Havia critérios, era preciso estar em Marrocos há mais de 5 anos, etc... e era dada prioridade às mulheres e às crianças. Em 2018, assistimos a uma regressão desta política", afirma.

Investigadores e ONGs relatam uma falta de sensibilidade de género na legislação. Segundo Kheireddine, mulheres com empregos precários estão particularmente em risco "de diversos tipos de violência", como a violência sexual. "A violência contra migrantes ilegais ocorre diariamente".

Marokko | senegalesische Migranten in Casablanca
Ndeye Yacine Ndiaye, diretora da ONG Attaches PluriellesFoto: Marco Simoncelli/DW

Falta de informação prejudica mulheres

"Acho que as dificuldades que estas mulheres enfrentam estão sobretudo relacionadas com o facto de não estarem informadas quando chegam [ao país], sobre onde ficar, que passos tomar, etc,", diz Ndeye Yacine Ndiaye, outra trabalhadora senegalesa que vive em Casablanca há 15 anos.

Chegou a Marrocos com um mestrado e hoje trabalha como gestora de comunicação num banco. Juntamente com o marido, decidiu envolver-se na comunidade subsaariana e ajudar outras como ela. Fundou a plataforma online "Attaches Plurielles", que visa mostrar "o outro lado da diáspora subsaariana em Marrocos", com entrevistas a migrantes e especialistas sobre os problemas que afetam a comunidade.

"Tentamos mostrar as mulheres corajosas que fazem um excelente trabalho, que não se resignam e tentam desbloquear a sua situação. Aquelas que têm a vontade de singrar", afirma.

As dificuldades dos migrantes no Marrocos