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Manifestantes "só saem das ruas" quando Nkurunziza ceder

gcs/rtr/afp/lusa/dpa4 de maio de 2015

Pelo menos, três manifestantes morreram em mais um dia de protestos violentos no Burundi, segundo a Cruz Vermelha. Há uma semana que milhares de pessoas exigem a Pierre Nkurunziza que não se recandidate à Presidência.

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Foto: Simon Maina/AFP/Getty Images

O Presidente do Burundi mantém o braço-de-ferro com a oposição. Pierre Nkurunziza continua a defender que tem direito a candidatar-se a um novo mandato. Os opositores continuam a discordar.

Esta segunda-feira, centenas de manifestantes voltaram às ruas da capital Bujumbura para protestar contra a decisão do Presidente, depois de dois dias de pausa nos protestos em memória das, pelo menos, seis pessoas que morreram na semana passada durante confrontos.

"Só sairei daqui quando Nkurunziza anunciar que não se vai candidatar às presidenciais" de 26 de junho, disse um dos manifestantes em desafio.

Os manifestantes montaram barricadas nas estradas e incendiaram pneus. A polícia usou gás lacrimogéneo para os repelir. Disparou também balas reais, segundo testemunhas no local. A Cruz Vermelha confirmou três mortos durante os confrontos com as forças de segurança. Dezenas de pessoas ficaram feridas, incluindo vários polícias.

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As autoridades negam os números de mortos avançados pelos ativistas e organizações no terreno. Dizem, no entanto, que 15 agentes ficaram feridos por causa de uma granada de mão lançada pelos manifestantes.

Recandidatura é legal?

O Governo apelidou os protestos de "insurreição".

Pierre Nkurunziza está no poder desde 2005. Já cumpriu dois mandatos como Presidente e, agora, candidata-se outra vez ao cargo, apesar de a Constituição proibir um terceiro mandato consecutivo. No entanto, os apoiantes do chefe de Estado defendem que o primeiro mandato não conta, pois Nkurunziza foi eleito pelo Parlamento e não diretamente pelo povo.

Os opositores têm outra interpretação. Para eles, o primeiro mandato é tão válido quanto o segundo. Por isso, segundo a oposição, a recandidatura de Nkurunziza é inconstitucional e contrária aos acordos de Arusha, que conduziram ao fim da guerra civil no Burundi, entre 1993 e 2005.

"Nkurunziza não está a cumprir os acordos. Precisamos de paz e liberdade, porque nós somos os cidadãos, fomos nós que o elegemos", dizia outro manifestante esta segunda-feira.

Outros tempos, outras vontades

Domitien Ndayizeye, ex-Presidente do Burundi, foi uma das pessoas que assinou os acordos de Arusha. Foi também ele quem promulgou a Constituição de 18 de março de 2005. Ele conta que, na altura, o país não estava preparado para eleições diretas e, por isso, se introduziu um artigo na Constituição que previa, excecionalmente, a eleição do Presidente via Parlamento. Agora, os tempos são outros e o partido no poder, o CNDD-FDD, deve retirar o seu apoio a Pierre Nkurunziza, diz Ndayizeye.

Domitien Ndayizeye
Domitien Ndayizeye, ex-Presidente do BurundiFoto: Getty Images/Afp/Simon Maina

"O Presidente cumpriu o seu primeiro mandato de forma legal, os dois mandatos terminaram. Não há motivo para se manter o país neste clima de insegurança", afirmou em entrevista por telefone à DW África. "Qual é o interesse que [Nkurunziza] tem em dirigir o país sob uma onda de contestação como esta?"

Temendo uma escalada da violência no Burundi, 24.000 pessoas fugiram para o Ruanda e 7.000 foram para a República Democrática do Congo, segundo as Nações Unidas.