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Luísa Diogo defende "desenvolvimento inclusivo" em Moçambique

João Carlos (Lisboa)18 de outubro de 2013

A ex-primeira-ministra falou à DW sobre a situação atual do país, com destaque para os recursos naturais e megaprojetos. Luísa Diogo afirmou ainda que não será candidata às eleições presidenciais de 2014.

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Foto: DW/Joao Carlos

"Eu sou membro do partido FRELIMO e o partido defende quais são os seus candidatos". A ex-primeira-ministra Luísa Diogo disse à DW, em Lisboa, que a decisão de escolha cabe à FRELIMO, partido no poder desde 1975.

Entretanto, a ex-governante, que veio a Lisboa para lançar o seu livro “A Sopa da Madrugada” e participar numa conferência na Fundação Gulbenkian, defende uma melhor distribuição da riqueza e um desenvolvimento inclusivo que beneficie todas as camadas da população moçambicana.

Para a economista, a descoberta de importantes recursos naturais e o surgimento de megaprojetos industriais criaram muitas expetativas às quais é preciso dar resposta.

"Tudo foi possível também devido à Mozal", diz Luísa Diogo

Moçambique tem sabido afirmar-se como país com capacidade para atrair investimento estrangeiro. Luísa Dias Diogo aponta o primeiro megaprojeto da Mozal, vocacionado para a fundição de alumínio, e o projeto de exploração de areias pesadas de Moma, como bons exemplos que espelham essa capacidade.

"Eu classifico a Mozal como uma sala de espera do país. Uma pessoa abre a porta, entra e vê: afinal, neste país, podem-se pôr 2 biliões de dólares", começa por explicar. "Efetivamente funcionou, porque, depois da Mozal vieram outros. Vieram as areias pesadas de Moma, o gás de Pande e assim por diante. Neste momento, temos o carvão de Moatize, já concessionado com vários gigantes na área de carvão a nível mundial e temos o gás, que está a seguir o seu destino do ponto de vista do investimento. Tudo isso foi possível porque houve uma Mozal", afirma a economista.

Segundo Luísa Diogo, estes megaprojetos, que resultam de grandes incentivos fiscais concedidos pelo governo de Moçambique, criaram o clima de confiança necessário para a captação de investimentos.

"Mesmo a lei de investimentos e as leis na área dos recursos minerais atualmente existentes vão paulatinamente ser revistas, em conformidade com o desenvolvimento que o país vai tendo", considera.

Luisa Diogo Ex-Ministerpräsidentin Mosambik
Capa do livro"A Sopa da Madrugada", de Luísa Diogo, sobre as reformas e transformações sociais e económicas de MoçambiqueFoto: DW/Joao Carlos

Ligar megaprojetos e população

No entanto, analistas consideram que os benefícios destes megaprojetos para a maioria dos moçambicanos – sobretudo para a população rural – são ainda marginais. A DW questinou a economista em Lisboa se a transferência direta de verbas resultantes da exploração dos recursos naturais para a população seria uma forma mais adequada de distribuição das riquezas do país.

"Na minha opinião, o objetivo principal que os moçambicanos têm é procurar formas de fazer com que o desenvolvimento do país seja inclusivo", diz Luísa Diogo. "Um desenvolvimento inclusivo com megaprojetos implica enfrentar vários desafios. Quando o desenvolvimento inclusivo é feito com micro, pequenas e médias empresas, automaticamente a distribuição de riqueza acontece. É preciso criar a ligação entre o megaprojeto e a comunidade. É aí que os moçambicanos devem encontrar a sua forma de participação nos grandes megaprojetos", explica.

A descoberta de importantes recursos naturais criou muitas expetativas que, na sua opinião, devem ser geridas para permitir a participação de todos no usufruto das riquezas que tais megaprojetos estão a gerar.

"É preciso gerir a expetativa através do diálogo, do debate, da definição de estratégias de uma forma inclusiva, do conhecimento da agenda nacional", afirma Luísa Diogo, concluindo que é necessária "toda esta partilha de informação para que o crescimento seja inclusivo".

Luísa Diogo defende "desenvolvimento inclusivo" em Moçambique

Ex-ministra descarta candidatura individual às presidenciais

Confrontada pela DW com a possibilidade de Moçambique estar em vias de se tornar numa segunda Angola, onde há uma elite que controla a política e a economia, enquanto a maioria da população vive na pobreza, a ex-governante foi evasiva, admitindo "fugir" a esta pergunta.

Luísa Diogo descarta ainda qualquer possibilidade de se apresentar a título pessoal como candidata às eleições presidenciais marcadas para 15 de outubro de 2014, afirmando que "a Luísa Diogo nunca se candidataria individualmente às eleições presidenciais, pertencendo ao partido FRELIMO". "Eu sou membro do partido FRELIMO e o partido defende quais são os seus candidatos. Esperemos que este partido, mais uma vez, faça as coisas como tem feito até agora, de uma forma que satisfaça todos os moçambicanos do ponto de vista de eleições", diz a ex-primeira-ministra.

Luísa Diogo, que esta quinta-feira (17.10) participou como oradora na conferência sobre as “Visões para a CPLP” e o “Futuro da Agenda Global de Desenvolvimento”, lançou no dia anterior o seu livro “A Sopa da Madrugada”, que apresenta as reformas e as transformações económica e social ocorridas em Moçambique entre 1994 e 2009.

Luísa Diogo
Luísa Diogo, também antiga ministra de Planeamento e Finanças, é membro senior da FRELIMOFoto: Ismael Miquidade
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