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Luanda teme que mudança de governo na RDC possa abalar relações bilaterais

23 de novembro de 2011

Angola quer a continuidade de presidente Joseph Kabila, após as eleições presidenciais e legislativas de 28 de novembro, para consolidar relações diplomáticas. Entre os dois países há várias questões delicadas em aberto.

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Presidente da RDC, Joseph Kabila, na sede das Nações Unidas
Presidente da RDC, Joseph Kabila, na sede das Nações UnidasFoto: AP

O presidente angolano, José Eduardo dos Santos, que preside atualmente a  SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral), recebeu na última sexta-feira (18.11), em Luanda, o secretário executivo da organização regional, Tomáz Salomão, com quem conversou sobre as eleições na República Democrática do Congo, agendadas para 28 de novembro.

A SADC irá enviar uma missão constituída por 240 observadores, que serão distribuídos por diferentes regiões da RDC. Para além disso, o órgão irá ajudar a comissão eleitoral do país no transporte de material do sufrágio, a partir da África do Sul. Angola deverá fornecer dez helicópteros e dois aviões para reforçar as operações no terreno.

Segundo alguns analistas, existe um grande interesse por parte das autoridades angolanas de ver a República Democrática do Congo estabilizada porque os dois países partilham uma longa fronteira, cujas populações convivem há muitos séculos. Por outro lado, essas eleições poderão ser determinantes para o futuro das relações entre os dois países.

David Zounmenou, cientista político do Instituto de Estudos de Segurança (ISS)  em Pretória, na África do Sul, salienta que "todos sabem que, se [o presidente cessante Joseph] Kabila for reeleito, [isto] significa a continuidade das relações entre Angola e a RDC, que aliás conheceram no passado alguns momentos dolorosos, nomeadamente com as expulsões de refugiados de um país para o outro e que provocaram algum diferendo entre Luanda e Kinshasa". Porém, nos últimos anos, "foram desenvolvidos muitos esforços por ambos os lados para que essas relações se normalizem", nota o pesquisador.

Uma imagem da campanha eleitoral em Kinshasa
Uma imagem da campanha eleitoral em KinshasaFoto: Simone Schlindwein

Na perspetiva do analista, um novo presidente na RDC poderia colocar em risco todos os esforços realizados até agora. "A RDC e Angola desejam francamente que Kabila vença o escrutínio. Existem evoluções positivas no relacionamento entre os dois países que Luanda conta preservar num relacionamento com Kabila. A incerteza sobre o novo presidente que não seja Joseph Kabila deve simplesmente preocupar Luanda", afirma.

Questões bilaterais delicadas

Segundo David Zounmenou, embora as relações sejam fortes, existem contudo alguns dossiers sensíveis para os quais as duas capitais devem encontrar soluções adequadas o quanto antes. "Para que tal aconteça, é necessária uma redifinição do quadro da cooperação bilateral. Penso que um segundo mandato de Kabila pode servir de oportunidade para Luanda consolidar essas relações", avalia.

Por outro lado, acrescenta Zounmenou, "espera-se que Kinshasa dê provas de boa vontade para simplesmente controlar ou desmentir o seu eventual apoio aos rebeldes [do enclave angolano] de Cabinda".

O presidente angolano, José Eduardo dos Santos, aposta numa vitória de Kabila para dar continuidade às relações bilaterais com a RDC
O presidente angolano, José Eduardo dos Santos, aposta numa vitória de Kabila para dar continuidade às relações bilaterais com a RDCFoto: AP

De acordo com o analista, também carecem de respostas adequadas questões de segurança ou sobre uma abertura diplomática ainda pouco consolidada, ou ainda o controle da imigração entre os dois países. "Esses assuntos necessitam do envolvimento direto dos dois estadistas ou dos dois governos para serem solucionados com vista a promover a estabilidade nas relações bilaterais", destaca Zounmenou.

Uma outra questão que também preocupa as duas capitais é a partilha das fronteiras terrestres e marítimas - algo que tem sido motivo de querelas entre os dois governos. Os analistas sublinham que as negociações desses dossiers, alguns deles muito complexos, dependem dos níveis de confiança entre os dirigentes de Luanda e Kinshasa.

Autor: António Rocha
Edição: Helena Ferro de Gouveia / Renate Krieger