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Lavrador nigerino luta contra mudança do clima

Kossivi Tiassou
3 de novembro de 2017

A mudança do clima ameaça a subsistência de pequenos agricultores em África. O nigerino Sounna Moussa optou por não resignar e inventou um sistema especial de irrigação.

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Foto: DW/K. Tiassou

Sounna Moussa possui cerca de 50 hectares de terra na região de Dosso, no sudoeste do Níger. É uma área cada vez mais afetada pela seca, erosão e desertificação. Depois de cinco longos anos sem chuva, a situação parecia desesperada. Moussa só tinha duas opções: abandonar as terras e partir para a cidade mais próxima ou emigrar – ou ficar e lutar contra o deserto. O lavrador decidiu-se pelo combate. Moussa é dos que gostam de vencer as dificuldades. Na região o pequeno agricultor é conhecido por "Moussa, o campeão”.

Com muito esforço, persistência e atenção ao detalhe conseguiu desenvolver nos últimos anos uma técnica para a optimização do aproveitamento da água da chuva. O resultado está à vista. Apesar da seca, nos seus campos crescem milho, feijão e painço. Moussa chama à sua técnica o "método da meia-lua”.

Aproveitamento de técnicas ancestrais

Sounna Moussa Methode "Halbmonde" oder “half-moons”
Souna Moussa e o seu filho cavam meias-luas na terraFoto: DW/K. Tiassou

Moussa não faz segredo das suas técnicas e gosta de partilhá-las com os lavradores das redondezas. E também com o repórter da DW, com o qual, juntamente com os filhos, se põe a caminho das suas terras. A família carrega uma enxada, uma pá e grandes peças de ferro semicirculares. Trata-se do equipamento que usam para impedir que o vento leve a terra seca. Além disso, Moussa planeia construir canais de irrigação em forma de meia-lua.

"É um trabalho duro, mas justificado pelo êxito: a terra voltou a viver”, diz Moussa à DW. A técnica que desenvolveu ajuda a água a penetrar na terra, evitando que se evapore na superfície. Assim a terra permanece húmida por mais tempo quando cai chuva. "Os ferros semicirculares barram a passagem à água, impedindo que ela escorra e leve consigo chão valioso”, explica Moussa.

Neste dia o chão está particularmente duro. Logo de manhã as temperaturas atingem os 35 graus centígrados. Moussa e os dois filhos mais velhos não desistem. Nas "meias-luas” plantam pequenas árvores e arbustos que também conseguem crescer em temperaturas elevadas. Entre as árvores semeiam feijão, milho e painço. "Na verdade esta é uma técnica ancestral, aplicada no Níger durante vários séculos, mas que se perdeu”, diz Moussa. Esta técnica permitiu-lhe tornar a lavrar mais de 50 hectares nos últimos quatro anos. Trata-se de terra anteriormente abandonada por falta de chuvas para regar as culturas.

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O Níger é um dos países africanos mais afetados pela mudança do clima

Esterco de vacas e ovelhas: nada é desperdiçado

A notícia do êxito de Moussa espalhou-se nos arredores. Constantemente chegam à sua aldeia de Sargadji representantes de organizações importantes, também estrangeiras. É que apesar da mudança de clima, Moussa não tem motivo de queixa no que toca a sua colheita este ano. O painço e o feijão chegam para alimentar a família. O excedente é vendido e gera receita. 

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Moussa é um dos muito poucos agricultores da aldeia que está a financiar estudos universitários a dois dos seus filhos. O mais velho ficou na aldeia para ajudar na lavoura e poderá um dia herdar as terras. "Fazemos um trabalho importante. Um dos nossos objetivos é impedir que os jovens se sintam tentados a aderir a grupos terroristas ou a emigrar”, diz Moussa.

O lavrador também tem uma dúzia de vacas e quinze ovelhas. O que em Sargadji é um sinal de riqueza. Mas os animais valem mais do que isso para o "campeão”, já que representam uma oportunidade adicional para melhorar a colheita. "O esterco de vaca e ovelha é um fertilizante ideal”, diz Moussa, amontoando pequenas quantidades nos buracos em forma de meia-lua. "Não desperdiçamos nem um grama. No inverno armazenamos o estrume que se decompõe de forma natural. Depois é levado para o campo”.

Conferência do Clima: peritos e políticos nigerinos buscam por soluções

Moussa é famoso muito além da sua aldeia. Sobretudo em vésperas da Conferência do Clima das Nações Unidas em Bona, na Alemanha, recebeu a visita de numerosos peritos e políticos ansiosos por aprender tudo sobre a agricultura sustentável do campeão. Entre eles estava Luc Gnacadja, ex-secretário geral da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação.

Também a Agência Alemã de Cooperação Internacional, GIZ na sigla alemã, entrou em contato com Moussa. A GIZ planeia dar a conhecer os seus métodos em todo o Níger. "Este é um exemplo fantástico com o qual outros agricultores podem aprender”, disse à DW o responsável para o Níger daquela agência, Heinz Krug. "Podemos ver como a vegetação regressa à vida em cada uma das meias-luas”.

Distribuição de terras discrimina contra mulheres

Sounna Moussa Methode "Halbmonde" oder “half-moons”
Os instrumentos de trabalho de Sounna MoussaFoto: DW/K. Tiassou

Em Sargadji, cada vez mais agricultores querem seguir o exemplo de Moussa. Algumas mulheres formaram uma cooperativa. A distribuição tradicional de terras representa uma grande desvantagem para as mulheres, diz Moussa. Muitas vezes não lhes é permitido possuir terras. Acontece serem nomeados homens como proprietários, com os quais as mulheres que cultivam a terra, depois têm que partilhar a colheita, diz.

Esta prática é um entrave à introdução da técnica de meia-lua na região, explica o lavrador: “Quando a terra não pertence às mulheres que a trabalham, é difícil torná-la outra vez arável. Outro problema é a falta de instrumentos de lavoura. Sem enxadas e só com as mãos não é possível fazer este trabalho”. 

Moussa acrescenta que é preciso apoiar todas as iniciativas positivas. Só assim será possível combater os efeitos da mudança do clima.

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