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Transição no poder no MPLA marcada para 07 de setembro

25 de maio de 2018

O presidente do MPLA anunciou que vai mesmo deixar a vida política este ano, por vontade própria. "Tudo o que tem um começo tem um fim", disse José Eduardo dos Santos na abertura de reunião do partido, em Luanda.

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Foto: picture alliance/dpa/P.Novais

A posição foi transmitida esta sexta-feira (25.05), em Luanda, no discurso de abertura da segunda sessão extraordinária do Comité Central do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido que José Eduardo dos Santos lidera desde 1979, recordando que em 2016 tinha já anunciado a vontade de deixar a vida política.

Com o congresso extraordinário que deverá eleger João Lourenço, Presidente da República, como novo presidente do MPLA, marcado para 7 de setembro, José Eduardo dos Santos fez hoje questão de sublinhar que esse passo resulta da sua vontade de "abandonar a vida política no ano de 2018", apesar de o "mandato regular" só terminar em 2021.

"Na altura recordo-me de ter dito, em linhas gerais, aqui nesta sala, que tudo o que tem um começo tem um fim, porque é assim a dialética da vida. Mas na verdade, a vida do nosso partido tem um ciclo que termina e recomeça-se assim a outra fase da sua existência", apontou José Eduardo dos Santos.

O MPLA aprovou a 27 de abril a realização de um congresso extraordinário na primeira quinzena de setembro deste ano e a candidatura de João Lourenço ao cargo de presidente do partido, ocupado desde 1979 por José Eduardo dos Santos.

A transição que todos desejam

"Esta é a transição que todos desejamos, que se processe de forma pacífica, normal, natural, sem quaisquer sobressaltos, demonstrando-se assim a maturidade política do MPLA, com um partido com mais de 60 anos de existência que soube sempre superar momentos difíceis, congregar os seus militantes, mobilizar o povo e manter a sua unidade e coesão para alcançar as vitórias mais retumbantes da história moderna de Angola", disse hoje José Eduardo dos Santos.

O "homem do milagre económico" do MPLA

O líder do partido, de 75 anos, e que entre 1979 e 2017 foi Presidente da República, apelou na mesma intervenção à mobilização das estruturas do partido, militantes, simpatizantes e amigos para a preparação do congresso de setembro.

"O partido deve saber reter tudo o que fez de positivo e lhe permitiu chegar à fase em que nos encontramos e estabelecer novos objetivos para os seus militantes, visando materializar os ideais proclamados pelo MPLA desde a sua fundação", alertou ainda.

A 16 de março, no discurso de abertura da 5.ª sessão ordinária do Comité Central do MPLA, realizado em Luanda, José Eduardo dos Santos propôs a realização de um congresso extraordinário para dezembro deste ano ou abril de 2019. 

Estratégia para as autárquicas

Durante a intervenção, José Eduardo dos Santos, que foi chefe de Estado em Angola durante 38 anos e não concorreu às eleições gerais de agosto passado, recordou que se comprometeu a envolver-se pessoalmente no grupo de trabalho que ao longo de 2018 vai "preparar a estratégia" do MPLA para as primeiras eleições autárquicas em Angola.

"Assim, recomendo, por ser mais prudente, que a realização do congresso extraordinário do partido, que vai resolver a liderança do MPLA, seja em dezembro de 2018 ou abril de 2019", disse, sem adiantar mais pormenores sobre este processo.

Contudo, a proposta não terá merecido o consenso dos militantes, tendo o comunicado final da mesma reunião informado a realização, este ano, de duas reuniões de reflexão sobre a proposta apresentada, a primeira, em abril - realizada 27 de abril -, pelo bureau político e a segunda, em maio, pelo Comité Central.No dia seguinte, o porta-voz do MPLA, Norberto Garcia, chegou a negar que a proposta apresentada pelo líder do partido no poder em Angola, para a realização de um congresso extraordinário sobre a transição da liderança do partido, tivesse sido recusada.

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Segundo o secretário para a Informação do bureau político do MPLA, não houve rejeição da proposta do líder, mas sim "um melhoramento" da mesma: "Estamos a evoluir positivamente, estamos a trabalhar com bastante harmonia e coesão. É evidente que há situações em sede das quais poderá haver uma abordagem mais crítica, menos crítica, o que é normal, estamos em democracia e é isso que nós queremos, um partido cada vez mais democrático, cada vez mais aberto".

Nos últimos tempos têm crescido os comentários na sociedade angolana sobre a existência de uma suposta bicefalia entre o chefe de Estado angolano e vice-presidente do MPLA, João Lourenço, e o líder do partido, José Eduardo dos Santos, em que se incluem críticas internas sobre a situação.

Reações

Entretanto as reacções não se fizeram esperar. O deputado pela bancada parlamentar da UNITA, Nelito da Costa Ekuikui, em declarações à DW África, criticou o facto de haver uma única candidatura para a liderança do MPLA.

"Isso é mal para a nossa jovem democracia. Um partido da dimensão do MPLA, e com a responsabilidade de Estado que carrega, depois de José Eduardo dos Santos anunciar a sua saída, é mau que o MPLA continue com as práticas do passado. Sei que no MPLA há muitos bons militantes com capacidades para dirigir o MPLA, e então podia-lhes dar a oportunidade de concorrer com o atual Presidente da República, o senhor João Lourenço”, disse o deputado mais jovem do Parlamento angolano.

CASA-CE Konferenz Angola
Foto: DW/B. Ndomba

Por seu turno, Alexandre Sebastião, um dos vice-presidentes da CASA-CE, prefere esperar pela data marcada para o congresso. O dirigente partidário quer ver para crer, porque já foram feitos vários anúncios sobre a saída de José Eduardo dos Santos, e que não foram concretizadas.

“O discurso político é muito complicado e melindroso. Até setembro muita coisa pode acontecer, muitas coisas podem surgir nas cabeças dos políticos e a coisa se modificar. Eu pessoalmente espero que isso se efetive e que abandone a vida política ativa para o bem da sua saúde e também para o bem da Nação”, aconselhou Alexandre Sebastião.

Também em declarações à imprensa no final da reunião, a secretária nacional da Organização da Mulher Angolana (OMA), braço feminino do MPLA, Luzia Inglês, disse que decisão tomada pelos militantes representa a “maturidade política” do MPLA.

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Nuno DalaFoto: DW/B. Ndomba

"Em todas as etapas, as crises que o partido possa ter dentro ou não, saímos sempre com coesão, graças ao diálogo que este partido sabe fazer”, frisou.

Por seu lado, o ativista Nuno Dala reiterou que com João Lourenço na presidência do MPLA, os angolanos têm melhores condições de avaliar a governação do terceiro chefe de Estado na história do país.

"Agora que tem os poderes imperiais, controla o partido e tem os poderes que a Constituição lhe confere, já não haverá desculpa para bicefalia e outras situações”, sublinhou Nuno Álvaro Dala.