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Especialista fala de “boa governação” em Moçambique

Nadia Iussufo30 de junho de 2015

O Presidente Nyusi completa 6 meses desde que assumiu o poder em Moçambique mas a passagem do testemunho das mãos do antigo líder, Armando Guebuza, não tem sido fácil.

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Foto: picture-alliance/dpa/M. De Almeida

Guebuza começaria por recusar abandonar a presidência da FRELIMO que, de acordo com a história do partido, o vencedor das eleições deve também assumir a sua liderança. Essa recusa viria a levantar questões sobre quem verdadeiramente detinha o poder na governação do país.

Agora com Filipe Nyusi na presidência, como se configura o mundo dos negócios no seio da elite política moçambicana? Será dominado pelo ex-presidente Armando Guebuza ou Nyusi e o seu grupo vão querer tomar a dianteira? Guebuza procura proteger os seus interesses económicos e Nyusi manter as relações com figuras de destaque que lhe são próximas e detém interesses em regiões cujo valor económico é estrategicamente relevante.

Por outro lado está, igualmente, em causa a participação de Guebuza em alguns negócios “mal vistos”. Várias questões que se levantam e que a DW África colocou a Adelson Rafael, docente da Universidade Eduardo Mondlane em Maputo e especialista em boa governação.

DW-África: Será que este partido tem interesse numa investigação sobre os negócios do ex-presidente?

Adelson Rafael(AR): De maneira alguma, é pouco provável que haja esse interesse por duas razões principais. A primeira é que não se pode esquecer que o que aconteceu foi a mudança de liderança do Presidente e não a mudança de liderança do partido e que historicamente o partido da FRELIMO, a sua doutrina partidária, requer uma lealdade total. O Presidente, apesar de agora ser o Presidente da República e o presidente da FRELIMO, ainda não tem o total domínio do partido para que possa, em curto espaço de tempo, impor qualquer condicionalismo que leve o antigo presidente à barra do tribunal. Porque se isso acontecer terá um custo político extremamente alto para o presidente Nyusi e poderia criar ou reforçar as decisões que estavam a nível do partido FRELIMO. Uma vez que a eleição do presidente Nyusi reduziu e trouxe esperança de que essas alas divergentes possam encontrar um ponto de convergência. Qualquer mecanismo que não seja concorrente a essa união pode gerar motivo de instabilidade.

DW-África: Uma possível investigação ou um julgamento também poderia manchar a imagem da FRELIMO algo que provavelmente não interessa para o partido? AR: Qualquer investigação só não poderia manchar a imagem do antigo presidente Guebuza como também a imagem de figuras que estão atualmente no ativo, no Governo de Moçambique e a nível do partido FRELIMO.
A soma disso, poderia manchar a (reputação) da FRELIMO que não é boa agora. A FRELIMO está a procurar todos os esforços para contrariar a popularidade e aceitação pública que tem recebido dos principais partidos de oposição, com destaque para o seu líder Afonso Dhlakama. Encontrar situações ou problemas que possam fragilizar o partido FRELIMO de não será do interesse atual da liderança FRELIMO.

Mosambik Adelson Rafael
Adelson RafaelFoto: privat

DW-África: Até que ponto Armando Guebuza terá dificuldades como um homem de negócios?

AR: Terá dificuldades de certeza absoluta, agora o que se pode discutir é o grau da dificuldade. Porque os interesses instalados começam a fragilizar-se muito por conta do reposicionamento que tem ocorrido pelas iniciativas de figuras próximas ao presidente Nyusi, com destaque para o general Chipende que já tinha vários interesses no corredor de Nacala e a nível da região de Cabo Delgado. Não diria que aqui seria uma queda vertiginosa mas podíamos recorrer agora à retirada progressiva de aquilo que era o acesso privilegiado que o ex-presidente Guebuza tinha no que diz respeito aos negócios, principalmente os que tinham ligação pública com fundos públicos. E claro que agora em menos de um ou dois anos a gente poderá ver a reconfiguração dos interesses económicos muito por conta dos grupos económicos que suportaram o general Chipende e pelas ligações históricas que existem entre o general e o Presidente Nyusi. Logicamente que agora a gente tem visto aqui o posicionamento dessas figuras a nível dos negócios que têm ocorrido mais ligados à industria extractiva.

DW-África: O presidente Filipe Nyusi tem tentado fazer uma política mais transparente, isso será porque ele se quer distanciar da anterior governação?

AR: Essa mudança deve-se primeiro ao querer distanciar-se da forma de fazer política do que querer tornar-se o mais transparente possível. Todos os processos de tomada de decisão também se enquadram aqui e o que tem recebido elogios por parte da crítica é o referente à comunicação. Se no passado nós tínhamos uma comunicação que era muito vertical e distanciada entre o presidente a população agora tem emergido uma nova forma de estar na política. Existe essa questão mencionada que é a questão da transparência e tem surgido também o interesse de implementar as medidas da austeridade muito por conta da contenção dos custos.

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