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Homenagens a Samora Machel são merecidas mas "exageradas"

19 de outubro de 2011

Há 25 anos, no dia 19 de outubro de 1986, que morreu o primeiro Presidente da República de Moçambique, Samora Machel, num desastre aéreo na Zámbia. Será inaugurada nesta quarta-feira (19/10), uma estátua em Maputo.

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Marginal de Maputo, capital de Moçambique que é também palco de homenagens ao primeiro Chefe de EstadoFoto: picture-alliance / maxppp

Curiosamente a estátua foi produzida na Coreia do Norte, um dos últimos países comunistas do mundo, na altura aliada do regime socialista da FRELIMO e de Samora Machel. A inauguração conta com a presença da Presidente do Brasil, Dilma Rousseff.

Assinalam-se em 2011 os 25 anos da morte do ex-Presidente moçambicano, em 1986. E prevê-se, que haja monumentos e celebrações em honra de Samora Machel em todas as onze capitais provinciais de Moçambique.

O nome de Samora Machel é incontornável na história da independência do país. Mas está também ligado aos designados "campos de reeducação". Muitas pessoas, dissidentes do regime do partido até hoje no poder, a FRELIMO, ou pessoas tidas como "tendo comportamentos desviantes", foram forçadas a ir para os campos de reeducação. Aí realizavam trabalhos forçados com o objetivo de produzirem bens e infra-estruturas para o país e de se alinharem na conduta desejada pelo regime. Centenas de pessoas foram mortas, quem sobreviveu não saiu sem mazelas físicas e psicológicas.

Os pais de Daviz Simango também estiveram num campo de reeducação. Hoje, é líder do mais jovem partido opositor do país, Movimento Democrático de Moçambique (MDM).

MDM sente exagero nas homenagens

Daviz Simango afirma que “nós [MDM] não estamos contra qualquer tipo de homenagem”, no entanto “sentimos que há um exagero desses atos”. Isto porque “a homenagem é um aglomerado de pessoas, são vários convidados que são levados a esses locais". E acrescenta que "tendo em conta a fase que o país está a atravessar e a política para a redução de custos, nota-se claramente que o Conselho de Ministros não está a fazer poupanças. Pelo contrário, está a fazer gastos que podiam ser utilizados em outras áreas, tendo em conta as necessidades dos moçambicanos”.

Straßenszene in der Hauptstadt Maputo
A exaltação dos valores, das figuras e das instituições históricas é parte integrante de uma naçãoFoto: picture-alliance / dpa

O Presidente do MDM concretiza que “o país tem ausência de escolas, tem falta de carteiras, temos vários professores formados que não podem lecionar porque o Estado não tem capacidade para pagar os seus salários. Temos várias infra-estruturas que poderiam estar a funcionar, temos carência de hospitais, de ambulâncias para salvar vidas humanas, temos falta de medicamentos”. E portanto, pensa que os fundos gastos nessas comemorações são exagerados e parte deles devia ser reconduzida para colmatar algumas das lacunas do país.

A exaltação dos valores é parte de uma nação

Por seu turno, o analista e sociólogo moçambicano, Moisés Mabunda, é da opinião que “a exaltação dos valores não devia necessariamente estar presa às dificuldades que um país possa estar a atravessar”.

Straßenszene in der Hauptstadt Maputo
Prevêm-se inaugurações de monumentos de homenagem a Samora Machel nas onze capitais provinciais de MoçambiqueFoto: picture-alliance / dpa

Continua, dizendo que “se nós esperarmos por um dia para estarmos economica ou financeiramente bem para celebrarmos os nossos valores, os nossos capitais históricos, simbólicos, penso que estaremos a perder”.

Mas Moisés Mabunda assegura que é necessário conta, peso e medida, ou seja, “à medida das nossas possibilidades, das nossas condições económicas e financeiras, sem exageros, nós vamos celebrando as nossas figuras, as nossas instituições e os nossos feitos históricos”.

Névoas em páginas da história do país

Recorde-se que Samora Machel sucedeu a Eduardo Mondlane na liderança da FRELIMO (partido até hoje no poder), após a morte deste, em 1969, ao receber uma encomenda-bomba.

Maputo Mosambik
Moçambique tem lacunas em infra-estruturas sociais, motivo pelo qual o líder do MDM considera um exagero os fundos gastos em homenagensFoto: picture-alliance / maxppp

Machel foi presidente, o primeiro de Moçambique, entre 1975 e 1986, quando a 19 de outubro daquele ano foi vítima de um acidente de aviação, no regresso da África do Sul para Maputo. As causas que deram origem à queda do avião não estão ainda claramente explicadas. E também a morte de Eduardo Mondlane ainda levante alguma polémica.

Nesse sentido, o presidente do Movimento Democrático de Moçambique considera que seria importante para os moçambicanos verem esclarecidas páginas da história do país.

Daviz Simango afirma que “o governo de Moçambique deveria estar muito preocupado em anunciar publicamente aos moçambicanos os resultados reais do inquérito que levou à queda do avião em que viajava o primeiro Presidente da República de Moçambique [Samora Machel]”. E lamenta que em vez disso “continuamos a ver essa manifestação de festa, de homenagens, o que pode dar a entender a alguns moçambicanos que há algo por detrás disso que está a ser escondido”.

“Insistências” da história

O líder partidário da oposição de Moçambique garante que se está a contar uma História de Moçambique com “insistência”. E é da opinião que “não são os governantes que devem insistir (em particular um partido político) na sua própria versão [da História], de modo que a sua própria versão seja assumida como uma versão oficial”.

Daviz Simango, conclui dizendo que a História de Moçambique deve ser escrita unicamente pelos entendidos, historiadores e investigadores, sem a sombra de preferências político-partidárias.

Autora: Glória Sousa
Edição: António Rocha

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