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Fórum Cabindês para o Diálogo é um "processo falhado"

Simão Lelo
1 de agosto de 2023

Memorando de Entendimento para a Paz e Reconciliação em Cabinda foi assinado há 17 anos. Sociedade civil diz que nada mudou e culpa não só o Governo angolano como também o Fórum Cabindês para o Diálogo.

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Foto: Simão Lelo/DW

A poucos dias do aniversário do Memorando de Entendimento para a Paz e Reconciliação em Cabinda, o Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD) teve de se mudar de malas e bagagens para outra sede.

O FCD não pode continuar no edifício onde funcionava até agora, em Cabinda, alegadamente por incumprimento contratual. Antes, a renda era paga pelo Governo, mas deixou de o ser, explica Tomás Leda, da direção do Fórum.

Tomás Leda garante que este não é o fim do FCD em Cabinda: "O fim como tal, não. Talvez o Governo pense assim, mas nós não acreditamos", diz em declarações à DW África.

Outros membros da sociedade civil em Cabinda têm uma opinião diferente.

Houve melhorias desde 2006?

O memorando de entendimento foi assinado a 1 de agosto de 2006 pelo ministro da Administração do Território à época, Virgílio de Fontes Pereira, e pelo então coordenador do FCD, António Bento Bembe. O objetivo era abrir uma porta para a paz em Cabinda, com a definição de um "estatuto especial" para a província, respeitando a unidade e indivisibilidade de Angola.

Mas desde a assinatura do memorando até hoje, pouco ou nada mudou na região, comenta Clemente Cuilo, líder da Sociedade Civil Organizada em Cabinda (SOCO).

Angola Cabinda Aktivisten
Ativistas cabindenses. Ao centro, Clemente Cuilo, responsável da Sociedade Civil Organizada em CabindaFoto: Simão Lelo/DW

A tensão entre os separatistas da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) e as forças do Governo permanece. O memorando de 2006 "entre Bento Bembe, da FLEC-Renovada, e o Governo trouxe apenas mudanças significativas para a vida do Bento Bembe e dos seus seguidores", afirma Cuilo.

O MPLA e Bento Bembe

Bento Bembe é acusado de se ter aproximado demasiado do partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Chegou a ser ministro sem pasta e secretário de Estado dos Direitos Humanos.

No ano passado, a visita de Bento Bembe a Cabinda para promover o diálogo com o enclave foi bastante criticada, supostamente por o político não ter "legitimidade" para discutir os problemas da região.

António Bento Bembe, ex-secretário de Estado dos Direitos Humanos
António Bento Bembe, ex-secretário de Estado dos Direitos HumanosFoto: Manuel Luamba

Este é um dos motivos que leva Alexandre Kwanga Nsito, membro da sociedade civil em Cabinda, a dizer que o FCD não passa de uma extensão do partido no poder na província.

"O Fórum Cabindês para o Diálogo é uma organização satélite do MPLA em Cabinda, não tem qualquer legitimidade, nem representa as aspirações do povo cabindense", afirma o representante da Associação de Desenvolvimento, Cultura e Direitos Humanos de Cabinda.

António Tuma, do Movimento Independentista de Cabinda, diz mesmo que o FCD é um "processo falhado".

"Não nos diz respeito e simplesmente [encobriu] algumas entidades que poderiam dar outro impulso na questão de Cabinda, porque o Governo angolano não valorizou."

O Fórum Cabindês para o Diálogo sacode as críticas e refere que é preciso insistir no processo. Contactado pela DW, o Executivo angolano não se quis pronunciar sobre o assunto.

Em entrevistas passadas, António Bento Bembe rejeitou que alguma vez tenha sido "corrompido" pelo Governo.

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