Estilistas africanas em Portugal cada vez mais empreendedoras
África está na moda. 40 anos depois das independências das ex-colónias, de onde vieram muitos imigrantes, alguns dos seus filhos, nascidos em Portugal ou naturalizados portugueses, afirmam-se como estilistas e criadores.
"Nónó", a pioneira
Quando em 1986 a guineense Leonor Delgado, mais conhecida por "Nónó" (à esq.), começou a produzir, em Portugal, roupas inspiradas nos trajes tradicionais africanos, ainda não estava em voga o interesse pelas produções inspiradas nos padrões dos tecidos oriundos de África. Quase 30 anos depois, são já muitas as criadoras que confecionam peças diversas e atraentes não só para o mercado português.
Roselyn Silva: aposta forte no destino
O espírito empreendedor, o suporte financeiro e a criatividade são determinantes para o sucesso. Mas as jovens que se lançaram neste desafio sabem que nem sempre é possível triunfar ou sobreviver no mercado europeu quando os principais consumidores são aliciados com uma vasta gama de ofertas. Ainda assim, Roselyn Silva, natural de São Tomé e Príncipe, desafiou o destino e apostou no seu sonho.
Londres foi rampa de lançamento
A jovem, formada em engenharia civil e amante do desporto, foi sempre uma rapariga de paixões. "O gosto pela moda sempre esteve visível desde pequenina", diz. Em 2013 começou a expor as suas criações no Facebook. Tudo começou como um passatempo, até que, por intermédio de uma amiga, fez uma apresentação em Londres. "As pessoas começaram a gostar do meu conceito". E os convites começaram a surgir.
Fusão afro-europeia
A opção pelos tecidos africanos é claramente indiscutível. No entanto, a estilista, que diz ser uma mulher moderna, não ficou presa ao conceito de traje tradicional. Por ter crescido na Europa desde os 8 anos, juntou o útil ao agradável, criando o seu próprio estilo, depois de ter percebido que este era uma mercado a explorar. Foi uma longa aventura, depois da sua primeira coleção.
Encomendas exclusivas
Do seu design também faz parte o estilo clássico. Como o acesso ao tecido africano era difícil, conseguia matéria-prima em pouca quantidade. Foi então que decidiu fazer peças exclusivas para encomendas exclusivas, inclusivé para homens, posicionando-se no mercado de gama luxo. Mas, adianta Roselyn Silva, a exclusividade também exige custos que compensem o investimento.
Tecidos importados de África
Hoje, no seu atelier num centro comercial localizado numa das ruas nobres da cidade de Lisboa, as peças são confecionadas manualmente por uma equipa de trabalho integrada por uma modista e uma costureira. Assim, tem acesso direto à produção e poupa nos custos, evitando subcontratar serviços. Os panos, de padrões africanos, são agora importados de Angola, Moçambique, Senegal e África do Sul.
Internacionalização depois de Portugal
Graças ao seu espírito empreendedor, a marca Roselyn Silva tem conquistado espaço, destacando-se a participação em eventos como o "Porto Fashion Week" e o "Black Fashion Week", em Lisboa. A batalha é consolidar posição em Portugal e internacionalizar-se, já com os olhos postos em países como a Alemanha e Angola. Por isso, explica a estilista, "estamos atentos a tudo o que acontece lá fora".
Goretti Pina: 15 anos no mercado português
Há mais tempo nestas lides – já lá vão 19 anos – a também são-tomense Goretti Pina apresentou recentemente peças novas no Museu da Carris, no âmbito da mostra "África em Lisboa". Trabalha há 15 anos no mercado português e já fez apresentações fora de Portugal. Diz que cria as roupas a pensar primeira em si, imaginando as pessoas que gostaria de vestir. "Faço peças com as quais eu me identifico".
Encomendas sem capacidade de resposta
A coleção que apresenta nesta primavera/verão é uma transição entre as estações, associando tecidos mais quentes com os mais frios. No meio de tantas propostas, o padrão africano está sempre presente, o que atrai sempre o público-alvo. É com um sorriso que Goretti Pina diz não lhe faltarem encomendas. São tantas que recusa alguns tantos pedidos por incapacidade de resposta.
Na azáfama dos bastidores
Entretanto, antes da apresentação da coleção, as manequins preparam-se nos bastidores, no meio da azáfama, para mais um desfile. Todos os detalhes são observados, desde o arranjo dos penteados à maquilhagem, de modo a condizer com a ideia global concebida pela estilista.
Clientes fiéis de Londres a Luanda
A escolha de modelos que deem beleza às roupas também é determinante para que o resultado final seja o mais elegante possível. Há que seduzir o público, seja ele europeu ou africano. Tanto é que, além do mercado português, Goretti Pina tem produzido para clientes fiéis em Londres (Inglaterra), Paris (França) e Luanda (Angola).
Oportunidade para expansão internacional
Dividindo o seu tempo entre a moda, a escrita literária e a jurisdição, a estilista já tem em agenda a mostra de uma nova coleção, no âmbito das comemorações do 40º aniversário da independência do seu país natal, que se assinala em julho. Mais uma oportunidade para mostrar o seu talento, com a promessa de trabalhar mais para a projeção internacional da sua marca. Autor: João Carlos (Lisboa)